Por Metrópoles
Os chefes de Estado reunidos para a Cúpula da Amazônia, que começa nesta terça-feira (8/8), em Belém (PA), buscam formas de transformar a preservação da floresta num bom negócio e combater a degradação ambiental por meio da economia.
Anfitrião do evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz o discurso de abertura da cúpula nesta manhã e deve dar à sua fala um tom de cobrança aos países ricos. Apesar de defender o desenvolvimento sustentável como forma de salvar a floresta, o petista deve repetir que a região amazônica não pode ser vista “apenas como um santuário ecológico”. O chefe do Executivo federal pretende usar o encontro como uma forma de pedir recursos e transferência de tecnologia para uma transição ecológica da economia.
O Brasil também tem a ambição de tornar o evento uma forma de convencer todos os países amazônicos a assumir o compromisso de zerar o desmatamento ilegal da floresta até 2030. A ideia de Lula é levar esse compromisso para fóruns como a Cúpula das Nações Unidas para o Clima (COP-28), nos Emirados Árabes, e para o encontro do G-20 e negociar esses recursos para os países com florestas em pé.
Por isso, foram convidados também representantes de Indonésia, República Democrática do Congo e República do Congo, além da França, que controla a Guiana Francesa, e Alemanha e Noruega, maiores doadores do Fundo Amazônia.
Com financiamento internacional, a ideia é fomentar atividades econômicas sustentáveis na região amazônica e sufocar financeiramente a degradação ambiental. Ao mesmo tempo, os países amazônicos querem aumentar a cooperação para o combate aos crimes ambientais e ao tráfico de drogas, que usam as fronteiras desprotegidas.
Entre as ações concretas que devem ser anunciadas nesta cúpula estão a criação de um centro internacional de cooperação policial em Manaus e de um sistema integrado de tráfego aéreo.
Discurso alinhado
Além de Lula, outras autoridades políticas e representantes da sociedade civil e de ONGs envolvidas nos diálogos pré-cúpula têm batido na tecla do desenvolvimento sustentável como maior arma contra a destruição da floresta. A economia verde, advogam, vai gerar mais riqueza do que as atividades que degradam a natureza.
Para o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), por exemplo, os países envolvidos na cúpula precisam “transformar desafios em oportunidades de desenvolvimento”.
Já o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse durante os eventos pré-cúpula que os países amazônicos precisam de novo modelo de financiamento climático, para além do Fundo da Amazônia.
“Devemos compreender que a dimensão até o momento apresentada de financiamento climático está muito longe das dimensões do nosso desafio e dos compromissos ao qual os grandes países”, disse ele, que está tendo na Cúpula da Amazônia uma espécie de evento teste para a COP-29, que será em Belém, no ano que vem.
Quem está em Belém
Além de Lula, confirmaram presença na Cúpula da Amazônia os chefes de Estado de Bolívia (Luis Arce), Colômbia (Gustavo Petro), Guiana (Irfaan Ali), Venezuela (Nicolás Maduro), e Peru (Dina Boluarte). A presidente peruana, inclusive, já se reuniu com Lula na noite de segunda (7/8). O presidente do Equador, Guillermo Lasso, e o do Suriname, Chan Santokhi, não puderam vir ao Brasil por questões de política interna e enviaram ministros para o encontro.
Além dos países amazônicos, participam da cúpula ampliada, na quarta (9/8), representantes da França, Alemanha e Noruega, chefes de Estado da República Democrática do Congo, da República do Congo, da Indonésia, e de São Vicente e Granadinas. Também veio o presidente da COP-28, Sultan Ahmed al-Jaber.
Cidade cheia
Incluindo as delegações internacionais, membros de entidades e ONGs, representantes dos povos indígenas e jornalistas de todo o mundo, cerca de 10 mil visitantes estão em Belém para a Cúpula da Amazônia.
O evento está mexendo com a economia da capital paraense, que lotou todo o sistema hoteleiro. A população local está aproveitando para cobrar que o discurso dos políticos se transforme em prática.
Quando visitou na segunda-feira o centro de convenções que vai abrigar a Cúpula, a reportagem do Metrópoles foi abordada por moradores do bairro Val-de-Cans, em Belém, que queriam denunciar para a imprensa a situação de total abandono num parque ecológico público, o Gunnar Vingren. No local, segundo Elizete Albuquerque, que é vizinha, há até extração ilegal de madeira para a venda. “Tudo quebrado, tudo vazando, um lugar que era pra ser um tesouro, um símbolo da preservação. Mas o governo aqui só está fazendo obras nos lugares que as autoridades estrangeiras passam”, reclamou ela.
Foto: Audivisual/PR