Por O Globo
Uma investigação da Polícia Civil de São Paulo sobre um suposto esquema de fraude de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) teve desfecho inusitado: com a apreensão do celular de uma das suspeitas, a polícia encontrou vídeos e áudios que mostram que ela participou da invasão ao Palácio do Planalto, na tarde de 8 de janeiro, em Brasília.
A suspeita é Jussara Sakamoto, que mora em Presidente Prudente (SP). Ela defendeu “invadir o Congresso” e “queimar a ratoeira”, segundo as mensagens coletadas pela Polícia Civil. Devido à descoberta, o caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A defesa dela afirma que Sakamoto é inocente e alega que o mandado de busca foi ilegal e que teria exposto “informações de caráter pessoal e íntimo da investigada”.
Sakamoto tirou fotos dentro do Planalto utilizando uma máscara do tipo PFF2, mas saiu do local sem ser presa. Antes, ela também gravou um vídeo na rampa do Congresso, declarando:
“Nós estamos aqui e essa nação é nossa! A guerra está só começando! Vamos colocar fogo na ratoeira”, afirmou, de acordo com a transcrição feita pela Polícia Civil.
Também foram encontradas, pela Polícia Civil de São Paulo, diversas mensagens, em seu celular, nos dias anteriores ao 8 de janeiro, que mostram Sakamoto organizando ônibus para irem a Brasília. Em um áudio, ela diz: “Nós tamo (sic) indo invadir Brasília amiga. Nós vamos invadir o congresso. Tamo saindo daqui hoje 11 horas da noite, muita gente”.
Ainda havia uma foto, em seu celular, em um acampamento, em frente a uma faixa que diz “Socorro Forças Armadas” e “Salve o poder judiciário com a dissolução da atual composição”.
Em uma mensagem enviada ao filho, dias depois dos atos, ela lamenta que foi reconhecida em uma foto e disse que seu vídeo estaria na “mesa do Xandão”, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre o 8 de janeiro.
Boletim de ocorrência
A investigação começou em junho do ano passado, após o registro de um boletim de ocorrência sobre a compra de uma CNH falsa. A polícia solicitou, então, uma busca e apreensão contra Jussara e outra pessoa. A suspeita é que as duas estariam utilizando um escritório de advocacia para realizar o esquema de falsificação.
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Entretanto, houve uma demora na investigação, e o pedido, formulado em outubro do ano passado, só foi autorizado em janeiro deste ano pela Justiça. Com isso, quando celular foi apreendido, havia dezenas de mensagens, áudios e vídeos mostrando que Jussara mobilizou as pessoas para irem a Brasília e esteve presente no 8 de janeiro.
A descoberta levou o caso a ser enviado inicialmente para a Justiça Federal. O Ministério Público Federal (MPF), contudo, defendeu o envio ao STF, onde já tramitam outras investigações sobre os mesmos acontecimentos, o que foi aceito. O MPF afirmou que há suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e incitação ao crime.
Defesa critica ‘conclusões precipitadas’
Em nota, o advogado de Sakamoto, Mauro Cesar Martins de Souza, afirmou que irá se manifestar sobre os fatos apenas nos autos. Apesar disso, defendeu “veementemente” a inocência dela e afirmou que ela está “à disposição do Poder Judiciário para prestar quaisquer esclarecimentos”. Além disso, disse que a exposição do material apreendido “gera danos irreparáveis à sua imagem”.
O advogado também defendeu a “importância de não fazer suposições ou tirar conclusões precipitadas sobre o caso em questão, respeitando o devido processo legal e a presunção de inocência que assiste a todos os indivíduos envolvidos em investigações judiciais”.
Em manifestação enviada à Justiça, a defesa afirmou que Sakamoto estaria em Brasília para “exercer de forma pacífica o seu direito fundamental constitucional de reunião” e que ela teria saído do local quando percebeu que parte dos presentes estava praticando “crimes contra o Estado Democrático de Direito”. A defesa ainda nega que ela tenha participado da fraude de CNH e diz que ela também foi vítima do esquema.
Foto: Reprodução