Por Diário do Comércio
Inúmeras pesquisas demonstram a centralidade do tema de Diversidade e Inclusão no mundo dos negócios. São muitos os argumentos de defesa. Alguns tratam das evidências de impacto positivo nos resultados econômico-financeiros – empresas mais diversas são mais inovadoras e lucram mais – ou sobre as vantagens competitivas para acesso a crédito – a agenda ESG como parâmetro de riscos para investimentos. Outros argumentos se localizam no campo da ética – a inclusão como dever ético e compromisso moral com a humanidade e com um futuro com menos assimetrias e mais igualdade de direitos e oportunidades.
Há quem defenda que não importa o caminho – o essencial é caminhar na trilha da inclusão das diversidades. O executivo Fabio Barbosa é um dos que entende que as empresas encampam a agenda de sustentabilidade/ESG por uma das três razões – 3 Cs: por convicção, conveniência ou constrangimento. Tudo bem. A ordem dos fatores não altera o resultado final.
Eu já apostei nessa equação. Hoje, no entanto, tenho dúvidas se essa conta será capaz de levar as empresas ao futuro. Acompanho jornadas de inclusão de diferentes companhias no Brasil. Noto que aquelas que obtêm maior êxito – consistência e relevância – têm a gestão da diversidade como escolha estratégica da liderança. As políticas e esforços para ampliar a diversidade e promover a inclusão somente avançam se houver o patrocínio da alta liderança. É um processo árduo que visa à desconstrução de perspectivas e visões de mundo consolidadas na cultura nacional. Não romantizo o processo de diversidade e inclusão dentro das empresas: é trabalhoso, desperta o conflito de ideias, estimula o debate crítico e exige investimento de tempo e dinheiro, disciplina, governança e método.
Portanto, ao longo da jornada, são muitos desafios e momentos de inflexão. Os resultados não são imediatos. Muitas vezes, é preciso tomar decisões que comprometem resultados econômicos de curto prazo ou que desafiam crenças historicamente estabelecidas no ambiente corporativo – não custa lembrar que as empresas que estão escrevendo melhores histórias sobre equidade descobriram a falácia da meritocracia. Isso é assunto para outro dia.
E como fazer tudo isso se não for pela via da convicção? O caminho ficará incompleto se a jornada estiver alicerçada nas abordagens da conveniência ou do constrangimento. É hora de as lideranças ampliarem a consciência sobre o seu papel e construir convicção de que o capital precisa agir com urgência para reparar e corrigir desigualdades históricas. Chegamos até aqui não por acaso ou por forças da natureza – nosso destino é fruto de escolhas e decisões tomadas ao longo da história.
Não é à toa que o Capitalismo Consciente identificou quatro pilares para as empresas gerarem resultados para todos os stakeholders – e não somente para investidores e acionistas: Propósito maior (além do lucro), Orientação para stakeholders (todos têm a mesma importância), Liderança consciente (guiada por propósito e gera valor para todos os stakeholders) e Cultura Consciente (relações de confiança, cooperação e respeito). O exercício desses quatro pilares só é possível a partir da convicção sobre a responsabilidade que os negócios têm diante dos desafios críticos colocados para a humanidade: desigualdade social, emergências climáticas, saúde mental, entre outras.
O compromisso genuíno com a diversidade e inclusão é, portanto, decorrente de uma visão ética sobre o papel da liderança na construção de uma sociedade menos desigual e mais justa. Uma liderança que entrega resultados econômico-financeiros e também direciona o negócio para regenerar a economia, a sociedade e o meio ambiente. As ações de responsabilidade socioambiental e de filantropia são parte de ambientes de negócios que precisam ser – e já estão sendo superados. É chegada a hora de a agenda socioambiental sair das margens organizacionais e ocupar o centro das estratégias dos negócios que buscam legitimidade social, competitividade e longevidade. Não carrego certezas, mas suspeito que a convicção na necessidade de mudar o paradigma do capitalismo e da forma de fazer negócios é que nos levará a futuros mais desejáveis – para as marcas e para o mundo.
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