Por DCM
Em torno de 12 mil mulheres, trajadas de negro e segurando velas, organizaram uma vigília simbólica ao redor do Palácio La Moneda, cenário de um bombardeio comandado por Augusto Pinochet há 50 anos, no domingo, 10. “Nos unimos em solidariedade às vítimas de execuções, desaparecimentos, torturas e exílios que ainda clamam por justiça. As mulheres desempenharam um papel crucial contra a ditadura e agora lideram a luta contra a impunidade”, disse Lídia Massardo, de 57 anos, à Agência Lusa.
Sob o mote “Nunca Mais,” a multidão feminina cercou o palácio, onde o presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, optou por cometer suicídio, usando uma espingarda dada pelo líder cubano Fidel Castro, ao invés de se entregar. A manifestação ocorreu em silêncio, pontuado ocasionalmente por exclamações emocionadas. “Nós, mulheres, fomos profundamente afetadas. Fomos mães, esposas e filhas dos detidos, desaparecidos e mortos. Cada uma de nós carregou um imenso fardo de dor”, desabafou Lídia.
As velas buscavam simbolicamente iluminar os caminhos dos desaparecidos e clamar por justiça. Melissa Leyton, 33, declarou que cresceu em um ambiente onde se evitava falar sobre o passado político. “Augusto Pinochet manteve poder e impunidade mesmo após deixar o governo em 1990, falecendo em 2006 sem condenação. Até hoje, a busca pelos nossos entes desaparecidos continua, já que sem verdade não pode haver perdão”, afirmou Melissa.
As chamas das velas também simbolizam a esperança de encontrar os 1.162 desaparecidos ainda não localizados. Recentemente, três membros da DINA, polícia secreta de Pinochet, foram condenados por tortura sexual. No entanto, segundo dados do Ministério da Mulher, 3.399 relataram ter sofrido abusos sexuais durante o regime ditatorial. A parlamentar Gloria Naveillán descreveu esses relatos como “mito urbano,” gerando indignação.
“Em um ambiente assim, é difícil avançar como sociedade”, disse Melissa. Triana Suárez, 68, ressaltou o papel das mulheres: “Fomos nós que levamos consolo às famílias afetadas e mantivemos a memória viva. O regime de Pinochet resultou em 38.254 torturados e 3.216 mortos, deixando uma ferida aberta na sociedade chilena.”
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