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Minas perde o talento e a criatividade de André Carvalho Há dois meses o escritor havia sofrido um AVC.

30 de outubro de 2019, 13h11 | Por Carlos Lindenberg com Letícia Horsth

by Carlos Lindenberg com Letícia Horsth

O jornalista André Carvalho foi enterrado na manhã desta quarta-feira (30) no Cemitério Belo Vale, na cidade de Santa Luzia/MG.

De sua vasta obra, destaco o romance “Cuba-Libre”, de cunho autobiográfico, ganhador do Prêmio “Casa de las Américas” (Cuba, 1985).
Na página 138, edição da Nova Fronteira, 1985, deparo com mensagem bela, mas também perturbadora, sobretudo nestes tempos em que as máquinas (o carro com som no mais elevado volume, o computador, o telefone celular, e por aí vai) escravizam tanta gente, e sem perspectivas de alforria! Eis o alerta genial do escritor, que não deve ser lido apenas nas linhas ou nas entrelinhas, mas igualmente além das linhas:
“As pessoas pouco afetivas gostam muito das máquinas. O diálogo com o motor diminui a solidão”.

Quer nos seus livros, quer nos jornais ou revistas que editou, o André, concordassem com ele ou não, gostava mesmo era de dialogar com as pessoas. E a seu modo era afetivo.
André Ferreira de Carvalho nasceu em Curvelo a 11 de outubro de 1937, filho do professor Claudovino de Carvalho e de dona Augusta Ferreira de Carvalho.

Foi primeiro jornalista. Começou aos 15 anos, na terra natal, onde, depois de passar por vários veículos, como o Folha do Povo (com a colaboração de Nilson Gonçalves), participou da fundação de CN – Curvelo Notícias, ao lado dos inesquecíveis Raimundo Martins (Diquinho), Cláudio Castilho e José Calazans. Em Belo Horizonte, trabalhou nas revistas Alterosa e Três Tempos, no Correio de Minas, no Binômio, no Diário de Minas e no Estado de Minas. Fundou o Jornal de Domingo, apresentou programas na TV Itacolomi e Rede Minas (Cultura) e foi diretor-geral da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Dirigiu o Departamento de Jornalismo das rádios Guarani, Mineira e Itatiaia. Também fundou a Rádio Rural, primeira emissora dedicada ao homem do campo.

Como escritor, conquistou, dentre outros, o Prêmio Jabuti de Melhor Qualidade Editorial para o livro “Menino Preso na Gaiola” e o já citado Prêmio Casa de las Américas para o romance “Cuba-Libre”, também publicado em espanhol. Entre seus livros editados nos Estados Unidos, destacam-se “Boy in the Cage” e “Squarely”.

No teatro, fez sucesso em todo o país com “Liderato, o Rato que era Líder”, parceria com Gilberto Mansur, e com a peça “Toda Mulher é Culpada”, esta sua primeira experiência como autor teatral para adultos. “Liderato” obteve recorde de público e foi exaltada por criticos do calibre de Yan Michalski, até receber cortes da censura. Eram tempos de regime militar. Mas o texto seria ainda adaptado para novelinhas em português, inglês e espanhol na Rádio Voz da América, emissora internacional norte-americana.

André foi meu chefe. Prestei serviços à Editora Armazém de Ideias, que ele fundou depois de ter sido dono da Editora Comunicação por vários anos, e onde entrei conduzido pelo professor Geraldo de Sousa. Na Armazém de Ideias, conheci pessoas incríveis, entre as quais meu notável padrinho e mestre Aristóteles Drummond e o igualmente querido Pedro Sérgio Lozar, craque em vários idiomas, tradutor de clássicas novelas diretamente do russo para o português. Com ambos aprendi e aprendo muita coisa. Pela Armazém de Ideias publiquei em 2004 meu livro “Memória Afetiva em Maria Helena Cardoso e Outros Ensaios”. Mas o André foi também meu amigo. Era um dos poucos que me diziam “na lata” tudo o que pensavam a meu respeito. De vez em quando, passávamos o fim de semana juntos em sua chácara de Esmeraldas. Vários escritores davam o ar da graça por lá, Wander Piroli entre os frequentadores. Bebíamos, discutíamos literatura e falávamos da vida. Vida que agora terá de seguir sem ele. E ele vai fazer muita falta!

Serve de consolo o seu enorme legado de amor à cultura. Fica para nós o seu assombroso exemplo de superação diante da dificuldade de locomoção imposta por enfermidade que em suas pernas madrugou.

Aos seus familiares, especialmente à esposa, Beatriz Aparecida, e aos seus filhos expresso minhas condolências e toda a minha solidariedade.
André certamente está em paz.

Texto escrito por: Newton Vieira

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6 comentários

Carlos Almeida 12 de novembro de 2021 - 21:55h

Era um bandido desumano.
Na imprensa oficial assediou diversas funcionárias. Chegou a exonerar um funcionário internado na UTI no leito de morte. Está no colo do capeta, empalado talvez.

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Elida Rigoni 19 de novembro de 2020 - 10:19h

O melhor editor do mundo.ele se xoi mas deixa um legado eterno.Saudades eterna amigo!

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aristoteles drummond 4 de novembro de 2019 - 19:59h

André Carvalho marcou presença em minha vida de escritor , editando o MINAS , em quatro edições com ele – teve mais uma da Bibliex-do Exército – e o CONSERVADOR INTEGRAL , que tanta alegria me deram . Era competente, inteligente, bom caráter, trabalhador e sofredor . Talvez sua bondade , generosidade, tenha permitido dificuldades tais que o levaram a fechar a editora, no auge de seu prestigio pela qualidade dos editados , a começar pelo notável Murilo Badaró, então presente da Academia Mineira. Foi uma perda para todos nós que amamos Minas e esta publicação no blog do grande Carlos Lindenberg , assinada por outro filho ilustre de Curvelo que é o Newton Vieira , é prova concreta de seu significado para o mundo cultural de Minas.

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MAIRA CARVALHO 30 de outubro de 2019 - 19:26h

Minha sincera gratidão por esta homenagem ao meu Grande Pai!

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Patricia de Carvalho Pinheiro 30 de outubro de 2019 - 18:48h

Hoje, com grande pesar soube pelo meu irmão desta notícia do falecimento do meu tio André Carvalho. Apesar do pouco contato que tive com este irmão da minha mãe, Maria Eugênia, guardei na memória o amor e o entusiasmo que ele demonstrava pelas letras e o seu talento incomum, que surgiu muito cedo, quando escreveu o primeiro livro. Quero expressar aqui minhas condolências à sua esposa e filhos neste momento de tristeza. Patricia de Carvalho Pinheiro

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Tadeu R de Carvalho Pinheiro 30 de outubro de 2019 - 14:32h

A meu tio, eternas saudades, aos familiares meus sentimentos.

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