Por DCM
O resultado do debate de ontem, na Argentina, parece ter consolidado as chances de vitória do candidato governista, o Ministro da Fazenda Sérgio Massa, e a consequente derrota de Javier Milei, o candidato da ultra-direita.
Costuma-se dizer que debate não define eleição. Entretanto, este não seria o caso, dado o quão renhida que se encontra a disputa– a maioria das pesquisas de opinião anunciava nestes últimos dias um quadro de empate técnico –, o enorme contraste no desempenho de um e outro candidato e o fato de ter sido assistido por milhões, quase como se se tratasse de final de Copa do Mundo.
No confronto de ontem, Massa passou a imagem de futuro presidente, enquanto Milei saiu desidratado, empequenecido diante do seu eleitorado mais fiel. Muito longe daquele “leão” corajoso, destemido e provocador.
Para evitar o risco de se descontrolar – como, de fato, aconteceu nas últimas semanas em mais de uma entrevista televisiva –, a equipe de campanha forçou o Milei a baixar o tom, o que acabou por deixar ele na defensiva, perdendo boa parte daquelas características que despertavam maior interesse entre seus seguidores.
O eloquente contraste no desempenho no debate completaria, portanto, um processo que vinha se desenvolvendo desde o pacto Milei-Macri (ou, melhor dizendo, de submissão do primeiro a este último): se por um lado o abraço de urso do Macri lhe deu algum verniz de credibilidade e respeitabilidade entre os votantes da Patrícia Bullrich (terceira colocada no primeiro turno e candidata de uma direita cada vez mais extremada), por outro tirou boa parte do seu potencial disruptivo e desafiador.
O candidato “anti-casta” associou-se ao pior do que ele chama de “casta política”, o que lhe rendeu estrutura, apoio econômico, articulação política nas altas esferas e capacidade de fiscalização, porém ao mesmo tempo lhe tirou poder de atração entre os “mileistas” mais radicalizados.
Num primeiro momento, a equação parecia favorável: era mais o que Milei ganhava com esse apoio maciço do macrismo do que perdia na descaracterização da sua proposta. Porém, diria que esta equação ganhadora já passou de ser novidade e perdeu fôlego, deixando Milei (e seguidores) cada vez mais confuso e sem norte.
Faltam seis dias para a eleição. Dias, estes, em que ainda podem aparecer algumas surpresas. Todavia, a onda novamente parece crescer em favor de Massa.
No debate, muitos indecisos podem ter deixado de sê-lo (em grande parte orientando-se em favor do candidato do governo) e muitos outros podem ter mutado de potenciais votantes de Milei para novos indecisos.
Com todas as ressalvas e cuidados que devemos ter com as pesquisas, que têm errado bastante na Argentina e alhures, há uma delas que creio merecer especial atenção: refiro-me à última pesquisa da CELAG, uma das poucas que, de fato, conseguiu se aproximar bastante do que acabou acontecendo no primeiro turno, com o inesperado triunfo do Massa.
Além de prognosticar um empate técnico, com Massa na frente por menos de dois pontos percentuais, há uma pergunta dessa pesquisa cujo resultado soa bem alentador: quando os entrevistados são inquiridos a respeito de quem acham que será o próximo presidente, independentemente de sua preferência eleitoral, 51% respondem que será Massa e só 43% opinam que será Milei.
Isto autorizaria o “já ganhou”? Não, muito pelo contrário: trata-se de evitar esse risco e de intensificar a militância – especialmente nas ruas – para consolidar a vitória de uma eleição que, a princípio, pareceria por fim estar definida e, provavelmente, por uma diferença maior daquela que se imaginava até aqui.
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