Home Minas Gerais Produção de leite provoca debate contra veto de Zema ao PL dos pedágios

Produção de leite provoca debate contra veto de Zema ao PL dos pedágios Oposição diz que restrição a isenção de cobrança dupla de pedágios em rodovias contraria intenção do governador de ajudar o segmento.

1 de abril de 2024, 19h13 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Além de travar a pauta na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o veto de Romeu Zema (Novo) ao projeto de lei (PL) que isenta a cobrança dupla de pedágios em rodovias estaduais privatizadas tem gerado críticas da oposição, principalmente em relação aos produtores de leite do estado.

De autoria do deputado estadual Marquinhos Lemos (PT), a proposta prevê que motoristas que passam repetidamente pela mesma praça de pedágio, entre 5h e 22h do mesmo dia, só sejam cobrados uma vez. Segundo o parlamentar, a medida favoreceria os pequenos produtores de leite que precisam transitar entre diferentes cidades para vender o material.

Zema tem encampado a luta dos produtores de leite mineiros nas últimas semanas e defendido alterações no sistema de tributação que estariam favorecendo a compra de produtos do exterior em detrimento da produção local. Na última quinta-feira (28/3), o governador assinou o Decreto nº 48.791, que retira as empresas importadoras de leite em pó do Regime Especial de Tributação, o que sobe a alíquota de 0% para 12%. Para a venda do produto fracionado, a alíquota passa de 2% para 18%.

A oposição ao governador, no entanto, bate na tecla que outras medidas devem ser tomadas para aliviar os pequenos produtores. Uma delas seria não ter vetado o projeto de isenção à cobrança dupla em pedágios. O argumento é que os produtores transitam entre as cidades repetindo o mesmo trajeto ao longo do dia e sendo, portanto, cobrado em repetidas oportunidades que passam pelas mesmas praças de pedágio.

No fim do ano passado, começaram a funcionar oito praças de pedágio em um grupo de estradas estaduais do Triângulo Mineiro privatizadas recentemente. A concessionária EPR tem pontos de cobrança em Uberaba, Perdizes, Monte Carmelo, Indianópolis, Patrocínio, Nova Ponta e Água Comprida. Produtores da região demonstram preocupação com a nova cobrança, que não estava no planejamento.

Fausto Amaral da Fonseca, presidente da Cooperativa Agropecuária de Patrocínio (Coopa), disse à reportagem que o rendimento da produção leiteira é contado em valores pequenos e cada alteração na balança, entre as cifras gastas e recebidas, impacta os pequenos produtores.

“O rendimento do leite é quase de gota a gota, o produtor ganha centavos na produção de leite. Claro que qualquer gasto a mais onera. O custo do transporte já não é barato. São R$ 12,75 por eixo, mas tem caminhões maiores também e se você soma o caminhão passando todo dia, mais de uma vez, o preço fica mais caro no fim do mês”, afirma.

Para Junior Cesar Soares, comerciante e produtor rural de Monte Carmelo, a cobrança repetida de pedágios não impacta especialmente o setor leiteiro, mas o setor agrário de uma forma geral. Ele destaca que a região depende do escoamento no Ceasa de Uberlândia e precisa fazer viagens repetidas até a cidade-polo.

“A gente tem que ser realista porque é um tema muito sério. Não acho que os pedágios têm muito impacto para o pequeno produtor de leite porque ele não trafega tanto nas rodovias e consegue fazer as entregas de dois em dois dias. Mas eles impactam o agro e elevam os custos. Nossa região aqui é grande produtora de grãos e precisa escoar para Uberlândia. Aí você passa por três pedágios, com ida e volta, é cobrado seis vezes”, destacou.

O PL
O PL 459/2019 vale apenas para isentar a cobrança repetida em praças de pedágio que ainda serão instaladas. As rodovias com contrato de concessão vigente não seriam afetadas caso ele fosse aprovado. Os parlamentares a favor do projeto argumentam, porém, que se ele fosse sancionado com mais celeridade, já poderia estar valendo para pontos de cobrança que passaram a operar recentemente.

Há, atualmente, quatro lotes em processo de estudos de concessão pelo Governo de Minas. O mais adiantado compreende as rodovias BR-356, MG-262 e MG-329 em trecho de 190 quilômetros que passam pelas cidades de Nova Lima, Rio Acima, Itabirito, Ouro Preto, Mariana, Acaiaca, Barra Longa, Ponte Nova, Urucânia, Piedade de Ponte Nova e Rio Casca. Há outros três lotes em estudo para concessão: Vetor Norte, Zona da Mata e Noroeste. Para estes pontos, ainda não há a definição de localização e valor de cobrança das praças de pedágio.

O veto de Zema ao projeto é um dos que trava a pauta da Assembleia há mais de um mês. A votação tem prioridade regimental e precisa ser resolvida para que outras propostas sejam analisadas em plenário. Prontos para apreciação dos deputados desde fevereiro, os vetos do governador não foram discutidos após repetidas oportunidades em que a base da situação não conseguiu reunir quórum suficiente para o início da sessão. Aprovado por unanimidade nos dois turnos, o PL 459/2019 passou na ALMG diante de acordo entre parlamentares governistas e a oposição.

O que diz o governo
Em nota, a Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) defende o veto afirmando que o objetivo primordial da concessão de uma rodovia é melhorar as condições de trânsito, manter reformas e manutenção constantes e oferecer infraestrutura de qualidade à população.

“Os avanços na estrutura da malha viária só tendem a trazer progressos econômicos e sociais, como, por exemplo, um ganho de eficiência no frete, com rapidez nos deslocamentos e redução de prejuízos decorrentes de perda de cargas por causa de trepidação e buracos, já que as rodovias concessionadas contam com pistas em melhor estado de conservação”, completa o documento sem, no entanto, tratar especificamente sobre a oneração aos produtores de leite.

Com informações do Estado de Minas.
Foto: Reprodução.

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário