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A tragédia nacional e as transições que o RS nos clama a fazer Números indicam que estamos diante do maior desastre climático da história brasileira.

30 de maio de 2024, 11h43 | Por Redação - Blog do Lindenberg

by Redação - Blog do Lindenberg

Marina Spínola – Ainda longe de um fim, o que acontece no Rio Grande do Sul é uma tragédia nacional. Não se trata – e nem é o momento – de apontar culpados. A verdade, segundo Robert B. Olshansky, geólogo e planejador urbano, é que “ninguém pensa muito em desastres antes que eles aconteçam”.

Autor do livro “After Great Disasters”, Olshansky é o mesmo que traz alguma luz diante de perspectivas tão críticas. Ele afirma que “as maiores mudanças ocorrem quando os desastres acontecem”. O professor do Centro de Gestão Pública da Fundação Dom Cabral, Humberto Martins, no artigo “Como evitar a tragédia institucional no Rio Grande do Sul?”, publicado recentemente, alerta para a necessidade de o Estado atuar, de forma colaborativa, num “regime interfederativo emergencial”, capaz de articular entes, agentes públicos e parceiros, com regras administrativas próprias e inovadoras. É um caminho que precisará ser seguido.

O caso do Rio Grande do Sul acende um alerta nacional, que não pode ser ignorado após a comoção imediata diante dos números que indicam que estamos diante do maior desastre climático da história brasileira. Historicamente, sabemos que a tendência é a de que, pouco a pouco, a mobilização nacional se arrefeça e, se especialistas, como o professor da FDC, forem ouvidos, os mecanismos institucionais darão conta da reconstrução.

Entretanto, o sinal vermelho está posto para nós. É hora de considerar a urgência das mudanças. É hora de acelerar o passo rumo à transição climática. É urgente sair desse modelo econômico, produtivo, estrutural, baseado em emissões de gases de efeito estufa (GEE), para outro que seja menos dependente do carbono e mais resiliente ao clima.

Os governos desempenham um papel crucial nessa transição climática, e precisam implementar, de forma mais célere e eficaz, políticas estruturantes que garantam segurança jurídica e alguma previsibilidade na trajetória para a economia de baixo carbono.

Essa responsabilidade também recai sob os ombros de nossas lideranças empresariais, que precisam ir além da participação em debates nos fóruns nacionais e globais, das práticas e projetos sustentáveis pontuais e, principalmente, precisam renovar o entendimento acerca da responsabilidade social corporativa. A responsabilidade corporativa está no core do próprio negócio – naquilo que produz, como produz e como faz para o produto chegar ao consumidor.

Já não é mais aceitável que negócios reconheçam e apenas reduzam seus impactos negativos. É a vez dos negócios regenerativos, que geram mais impactos positivos e que sua existência torna o mundo melhor, menos desigual e com mais prosperidade ambiental. A transição climática só será possível quando as lideranças empresariais compreenderem e praticarem um dos pilares do Capitalismo Consciente – que é ter um “propósito maior que o lucro”.

Para sonharmos com esse futuro livre das imagens que devastam a alma da gente ao assistir as notícias das enchentes no Sul, será preciso deixar pra trás, de uma vez por todas, as bases desse nosso modelo econômico, extrativista, que desumaniza as pessoas e os negócios e ignora, muitas vezes, o valor da vida.

Junto com a reinvenção das bases do sistema produtivo, precisaremos também nos empenhar para efetivarmos uma espécie de “transição social”. É preciso sair desse modelo de sociedade de consumo e da ostentação, centrada no TER, para um novo paradigma de sociedade, fundado em valores humanistas e ambientais, em que a vida está no centro das decisões. Sem isso, muito pouco avançaremos. Resta saber quantas enchentes e desastres climáticos, literalmente, pagaremos pra ver.

*Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da FDC e Conselheira do Capítulo BH do Capitalismo Consciente. Redes sociais: Instagram: @marinaspinola e Linkedin: Marina Spínola

Com informações do Diário do Comércio.
Foto: Gustavo Ghisleni/AFP.

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