Os preços de bens e serviços no Brasil registraram um aumento de 1,31% em fevereiro, marcando a maior taxa para o mês em 21 anos. O índice representou uma aceleração de 1,15 ponto percentual em relação a janeiro, quando a inflação havia sido de 0,16%. Com isso, a inflação acumulada nos últimos 12 meses chegou a 5,06%, superando o teto da meta de 4,50% estipulada para este ano.
O resultado ficou dentro das expectativas do mercado financeiro. Estimativas da Warren Investimentos e do boletim Focus apontavam variações de 1,28% e 1,35%, respectivamente, para fevereiro.
A principal pressão inflacionária veio do reajuste de 16,80% na energia elétrica residencial, que teve um impacto de 0,56 ponto percentual no índice geral.
IPCA: O indicador oficial da inflação
Os dados fazem parte do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal termômetro da inflação no país, divulgado nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Criado em 1979, o IPCA acompanha a variação mensal dos preços de diversos produtos e serviços essenciais ao consumo da população. Ele também serve de referência para as decisões do Banco Central sobre a taxa básica de juros, a Selic.
O levantamento é realizado em áreas urbanas que abrangem cerca de 90% da população brasileira e considera diferentes grupos de consumo, como transporte, alimentação, habitação, saúde, educação e vestuário.
Energia elétrica volta a pesar no orçamento
Depois de uma queda significativa de -3,08% em janeiro, o grupo Habitação voltou a subir em fevereiro, registrando alta de 4,44%. Esse foi o setor com maior influência sobre o índice do mês, respondendo por um impacto de 0,65 ponto percentual.
O aumento expressivo na conta de luz foi impulsionado pelo fim do Bônus de Itaipu, que havia concedido descontos na fatura de janeiro. Com isso, os preços da energia elétrica passaram de uma redução de 14,21% no primeiro mês do ano para uma elevação de 16,80% em fevereiro.
“Essa alta aconteceu porque, em janeiro, as faturas de energia elétrica receberam descontos do Bônus de Itaipu. Com o fim desse benefício, houve um efeito inverso, levando a um aumento expressivo em fevereiro”, explicou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA.
Além da eletricidade, o grupo Habitação também foi pressionado pelo reajuste na taxa de água e esgoto (0,14%), que ocorreu em alguns estados.
Principais impactos na inflação de fevereiro
Quatro dos nove grupos pesquisados foram responsáveis por 92% da inflação do mês, segundo o IBGE. Veja os setores que mais influenciaram a alta:
• Educação: 4,70%
• Habitação: 4,44%
• Alimentação e bebidas: 0,70%
• Transportes: 0,61%
Já o impacto desses grupos no índice geral foi o seguinte:
• Habitação: 0,65 ponto percentual
• Educação: 0,28 ponto percentual
• Alimentação e bebidas: 0,15 ponto percentual
• Transportes: 0,13 ponto percentual
Educação tem forte alta com início do ano letivo
O setor de Educação registrou um avanço de 4,70%, sendo o segundo grupo com maior peso na inflação de fevereiro. O aumento foi atribuído ao reajuste das mensalidades escolares com o início do ano letivo.
Os maiores aumentos foram observados no ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e na pré-escola (7,02%).
Alimentação e combustíveis também pressionam o IPCA
O grupo Alimentação e bebidas registrou alta pelo sexto mês consecutivo, com uma variação de 0,70%. Os preços dos alimentos consumidos em casa avançaram 0,79%, embora tenham mostrado uma desaceleração em relação a janeiro (1,07%).
Entre os produtos que mais subiram estão:
• Ovo de galinha: +15,39%
• Café moído: +10,77%
Por outro lado, alguns itens apresentaram queda de preços:
• Batata-inglesa: -4,10%
• Arroz: -1,61%
• Leite longa vida: -1,04%
Segundo o IBGE, o aumento no preço dos ovos foi impulsionado pela alta nas exportações devido à gripe aviária nos Estados Unidos e pela maior demanda no Brasil, especialmente com a volta às aulas. O café, por sua vez, continua em alta devido a problemas na safra.
A alimentação fora do domicílio também subiu em fevereiro, mas em um ritmo menor: os preços dos lanches avançaram 0,66% e das refeições, 0,29%.
Já no setor de Transportes, o avanço de 0,61% foi puxado pelo aumento dos combustíveis (2,89%), com destaque para:
• Óleo diesel: +4,35%
• Etanol: +3,62%
• Gasolina: +2,78%
• O gás veicular foi o único combustível a apresentar queda (-0,52%).
INPC sobe 1,48%, maior alta para fevereiro desde 2003
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias de menor renda (com ganhos entre um e cinco salários mínimos), subiu 1,48% em fevereiro. Esse foi o maior índice para o mês desde 2003, quando a alta foi de 1,46%.
Nos últimos 12 meses, o INPC acumula alta de 4,87%, enquanto no ano o índice já registra avanço de 1,48%. Esse indicador é utilizado como referência para o reajuste do salário mínimo e benefícios sociais.
Mercado revisa projeções para a inflação
As expectativas para a inflação continuam em alta. Segundo o boletim Focus do Banco Central, a projeção para o IPCA de 2025 subiu de 5,65% para 5,68%. As previsões para os anos seguintes são as seguintes:
• 2026: 4,40%
• 2027: 4,00%
• 2028: 3,78%
O próprio Banco Central estima uma chance de 50% de descumprimento da meta de inflação neste ano. Em dezembro, essa probabilidade era de 28%, mas foi revisada para cima devido às pressões inflacionárias.
Novo sistema de metas
Desde 2024, o Brasil adota um regime de meta de inflação contínua, ou seja, o índice é monitorado mês a mês, e não apenas ao final do ano. Caso o IPCA acumulado em 12 meses fique fora do intervalo da meta por seis meses consecutivos, considera-se que o objetivo inflacionário não foi cumprido.
Para 2025, a meta de inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos (intervalo entre 1,5% e 4,5%). Se essa meta for descumprida, o Banco Central deverá enviar uma carta aberta ao Ministério da Fazenda explicando as razões.
A taxa Selic, principal ferramenta para controle da inflação, será reavaliada na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 18 e 19 de março.
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