Procuradores da Lava Jato agiram politicamente – usando o site O Antagonista como porta-voz – para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil no governo Bolsonaro.
Em fins de 2018, a força-tarefa municiou com documentos o site comandado pelos jornalistas Diogo Mainardi, Mario Sabino e Claudio Dantas para alimentar notícias que evitassem que o ex-presidente da Petrobras Ivan Monteiro ocupasse a presidência do banco, diz nova reportagem da Vaza Jato publicada nesta segunda-feira (20) pelo Intercept Brasil.
A reportagem lembrou que Monteiro era apontado como o responsável por “salvar” as contas da Petrobras e visto como o mais forte entre os cotados para assumir o Banco do Brasil, uma escolha do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes.
A preferência, no entanto, desagradou Onyx Lorenzoni, atual chefe da Casa Civil de Bolsonaro e amigo próximo de Deltan Dallagnol.
Influenciado pelo descontentamento de Lorenzoni, Dallagnol ordenou a assessores a busca por documentos contra o ex-presidente da Petrobras e enviou quatro arquivos a Claudio Dantas, do Antagonista, que já fazia campanha para que Monteiro não entrasse no governo Bolsonaro segundo o Intercept. Em conversas no Telegram, obtidas pelo site, a parceria entre a Lava Jato e o jornalista, assim como Diogo Mainardi e Mario Sabino, também do Antagonista, evidencia a intenção de prejudicar a imagem de Monteiro.
Além de receberem documentos e informações em primeira mão, os repórteres também deixavam que procuradores ditassem a direção editorial do site o Antagonista.
A reportagem do Intercept também cita que Mainardi, dono e editor do site, acatou o pedido de Dallagnol e parou de publicar notícias sobre um escândalo de corrupção que envolvia o escritório de advocacia Mossack Fonseca, suspeito de abrir empresas offshore no Panamá.
Mainardi também auxiliou Dallagnol em uma de suas investigações, que seguiu as dicas do comentarista e em seguida informou-o que o caso estava “fora da alçada” da operação.
Em outro caso, a Lava Jato seguiu um boato repassado por Claudio Dantas para pedir, sem autorização da justiça, a quebra do sigilo fiscal de Marlene Araújo Lula da Silva, nora do ex-presidente Lula, em 2016. No entanto, nada foi encontrado contra ela, que nunca foi indiciada ou acusada de crimes.
O Ministério Público Federal no Paraná e o site o Antagonista ainda não se pronunciaram.
Fonte: Intercept Brasil
Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil; Getty Images