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Relembre: Uma viagem pelas galerias assoreadas de BH Veja o horror da situação das galerias pluviais contado pela repórter Luiza Melo, a pedido do blog.

3 de julho de 2024, 18h35 | Por Luiza Melo

by Luiza Melo

Por Luiza Melo

Em 8 de outubro de 1995, durante uma tempestade em BH, o capoeirista Otacílio Pereira da Fonseca Junior, que na época tinha 16 anos, foi tragado pelas águas de uma galeria que corria a céu aberto, na Praça JK, na avenida Bandeirantes, no bairro Sion. Não havia proteção na entrada da galeria de canalização do córrego Acaba Mundo. Ele foi arrastado pelas águas pluviais que se misturavam aos esgotos por dois quilômetros e meio, até ser resgatado, 17 horas depois, pelo Corpo de Bombeiros, ao ser avistado desacordado em uma boca de lobo, na rua Professor Moraes, esquina com Getúlio Vargas.

Eu era repórter do Hoje em Dia e o diretor de redação, Carlos Lindenberg, sugeriu que eu verificasse a situação das galerias pluviais de BH. Por meio de uma fonte, tivemos acesso exclusivo a um relatório de inspeção com resultados estarrecedores, realizado pela Dam Engenharia, por solicitação da Sudecap.

O relatório deixava claro que as galerias pluviais de Belo Horizonte se encontravam em estado precário “podendo levar até ao afundamento de ruas das áreas centrais da cidade, além de causar sérias inundações” advertia o documento, relatado em matéria especial publicada no HD.

Com o relatório em mãos, fomos descobrindo, por meio de fontes, os segredos escondidos embaixo do asfalto em uma cidade cercada de nascentes e cujos córregos foram cobertos por concreto para dar lugar aos automóveis.

Carlos Lindenberg deu então a “brilhante” ideia de que eu e um repórter fotográfico – Maurício de Souza, o nosso Cebolinha – deveríamos percorrer o mesmo caminho do capoeirista Otacílio Fonseca Júnior, que havia sobrevivido milagrosamente.

Acionamos o Corpo de Bombeiros, a BHTrans e a Sudecap e demos início à nossa caminhada pelos subterrâneos da capital mineira. O que vimos em toda a extensão percorrida pelo capoeirista Otacílio e nas demais galerias percorridas – principalmente na região do bairro de Lourdes, ao longo da rua Marília de Dirceu foram cenas de terror. Não me refiro às ratazanas albinas nem às imensas baratas brancas.

O estado de conservação das galerias era algo inacreditável. Engenheiros e especialistas na época prenunciavam o caos se nenhuma obra substancial fosse feita. Entre as intervenções, deveriam ser refeitos vários quilômetros no subterrâneo, alargando a área de vazão e recuperando trechos de lajes do fundo de vários e vários quilômetros de galerias que estavam totalmente destruídos, como no trecho do córrego do Zoológico, que fica na rua Rio de Janeiro entre as ruas Alvarenga Peixoto e Professor Antônio Aleixo, totalmente deteriorados.

Esgotos clandestinos, estreitamento de vários trechos das galerias, assoreamento provocado por entulhos e lixo, concreto deteriorado em muitos quilômetros tanto nas paredes quanto nas paredes das galerias, pontos de infiltração, estruturas de ferro corroídas, tudo isso foi documentado pela equipe do HD na época, que percorreu exatamente as áreas que foram mais afetadas na terça, 28 de janeiro de 2020, que jamais será esquecido pelos belorizontinos.

Foto: Reprodução/ Blog curraldelrei.

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