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General Braga Neto assume em lugar de Lorenzoni e aumenta influência dos militares no governo Bolsonaro

13 de fevereiro de 2020, 17h53 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

A nomeação do general Braga Neto para a Casa Civil, um contraponto à antiga Casa Militar, extinta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e que agora se chama Gabinete de Segurança Institucional, representa de imediato o fortalecimento da área militar na composição do primeiro escalação do governo, como se o presidente Jair Bolsonaro criasse em torno dele uma espécie de guarda pretoriana, como nos idos do Império Romano.

Com o general Braga Neto – é de notar que até aqui Bolsonaro só escolhia generais da reserva, mas o novo ministro é da ativa, o que não deixa de ser significativo – o que se observa é que o presidente vem também fazendo pontuais mudanças no seu governo. Nesta semana o ministro Gustavo Canuto, do Desenvolvimento Regional, foi substituído pelo ex-secretário de Paulo Guedes, Rogério Marinho, o homem que comandou a reforma da Previdência, de forma que aos poucos vai sendo modificada aquela manjada fotografia de quando o presidente da República toma passe com todos os ministros ao seu lado. Daquela primeira fotografia na verdade restam poucos agora, sendo que um deles, o general Santos Cruz, saiu do governo atirando, a despeito de sua reconhecida disciplina como militar. Santos Cruz, na verdade, foi fritado pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador no Rio de Janeiro, mas com grande influência no governo, onde interfere na Comunicação e usa o Twitter pessoal do pai.

O comentário sobre a nomeação de Braga Neto, mineiro de Belo Horizonte, para o lugar de Ônix Lorenzoni, que vai para agora para o Ministério da Cidadania, em lugar de Omar Terra, investigado pela Polícia Federal, parece fazer parte também da estratégia de Bolsonaro de se cercar de seus pares para evitar até mesmo a política do fisiologismo, tão comum quando se nomeiam civis, principalmente parlamentares, para funções executivas, além do que – o que também poderia ser natural – por ser militar, capitão do Exército, Bolsonaro é evidente parece confiar mais nos seus do que nos que chegam ao poder via negociações políticas, o que não deixa de ser estranho para quem, como ele, passou 27 anos como deputado federal, portanto, conhecedor do meio e de seus personagens. O que demonstra que Bolsonaro confirma sua condição de que pretende, no que puder, evitar o toma lá dá cá tão comum no meio parlamentar – a despeito de o novo ministro Rogério Marinho ter sido também deputado federal, portanto do meio político – se bem que aí certamente pesou a indicação de Paulo Guedes.

De qualquer forma a segunda leitura que se faz da saída de Lorenzoni da Casa Civil para a entrada do general Braga Neto- o segundo ministro mineiro no governo Bolsonaro, o outro é o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que andou balançando, mas parece agora firme no cargo – é que com esse movimento começa a perder força também no governo a ala ideológica do sistema, que tem no escritor Olavo de Carvalho a sua expressão maior, até porque é não apenas guru do presidente da República como de seus três filhos, todos parlamentares – um é vereador no Rio de Janeiro, Carlos, o outro é deputado federal, Eduardo, e o terceiro senador da República, Flavio, envolvido com o esquema da rachadinha em seu gabinete quando era deputado estadual. Assim, Bolsonaro vai consolidando a presença de militares em seu governo- são pelo menos 41 generais em áreas estratégicas da administração- e criando condições para governar sem maiores preocupações com a retaguarda, uma vez que no Congresso ele não parece ter maiores dificuldades, a não ser em questões pontuais, como agora mesmo quando os parlamentares querem votar as emendas impositivas e Bolsonaro ameaça cortar – o que não deve fazer para não criar maiores turbulências numa área que ele sabe ser vital para concluir seu mandato e manter a disposição de concorrer à reeleição. Mas a nomeação de Braga Neto, para a Casa Civil, não deve só ser um ato, digamos, simbólico, como também deve fazer com que o novo ministro recupere poderes que o esvaziamento do ministério sofreu com a ineficácia de Lorenzoni. O novo ministro, que ocupa ainda o alto-comando do Exército, o segundo posto na hierarquia da força, é tido como soldado de primeira grandeza entre seus camaradas e de alto preparo, tendo ocupado diversas funções, entre elas a que lhe deu grande relevo, o de interventor nas forças de segurança do Rio de Janeiro, no governo-tampão de Michel Temer.

Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

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