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Bolsonaro contesta Moro, mas não convence Em discurso meio improvisado, meio lido, o presidente acusou o ex-ministro Sergio Moro de ter pedido a indicação para ministro do STF em Novembro para apenas depois disso fazer a troca de Valeixo.

24 de abril de 2020, 21h17 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O presidente Jair Bolsonaro concedeu na tarde desta sexta-feira (24) uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, para rebater as acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro, que anunciou sua demissão do Ministério da Justiça mais cedo.

Nesta manhã, em coletiva, o ex-ministro da Justiça afirmou que não foi apresentado qualquer motivo técnico para a exoneração do ex-diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo e que o documento não foi assinado por ele e que o em nenhum momento Valeixo havia feito um pedido formal de exoneração.

Segundo o agora ex-ministro, Bolsonaro quer “colher” informações dentro da PF, como relatórios de inteligência. “O grande problema é por que trocar e permitir que seja feita interferência política no âmbito da PF. O presidente me disse que queria colocar uma pessoa dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. Realmente, não é papel da PF prestar esse tipo de informação”, disse Moro.

De acordo com Moro, ele disse para Bolsonaro que a troca de comando na PF seria uma interferência política na corporação, o ex-ministro afirmou que Bolsonaro admitiu isso. E um dos motivos seria o avanço das investigações que envolvem o chamado “gabinete do ódio” e seus filhos.

Antes do pronunciamento sobre as saídas de Sérgio Moro e de Mauricio Valeixo da direção-geral da Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com ministros no Palácio do Planalto, e afirmou em sua rede social que iria restabelecer “a verdade” na fala à imprensa.

Falas de Bolsonaro


Foto: IGO ESTRELA/METRÓPOLES

Em crítica ao ‘ego’ do ex-ministro, Bolsonaro declarou “Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa. A outra é conviver com ela, trabalhar com ela. Hoje pela manhã, por coincidência, tomando café com alguns parlamentares eu lhes disse: ‘Hoje, vocês conhecerão aquela pessoa que tem compromisso consigo próprio, com seu ego e não com o Brasil'”, afirmou.

Bolsonaro disse que teve que “implorar” para que o caso do esfaqueamento dele, em Juiz de Fora-MG, durante a campanha, fosse investigado e o órgão não teria sido esclarecido “quem mandou matar Jair Bolsonaro”. Ele chegou a comparar o caso dele com o de Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro, dizendo que a “PF de Sérgio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo”.

“Não preciso de autorização para trocar um diretor”

Ainda segundo Bolsonaro, Maurício Valeixo já demonstrava interesse em deixar o comando da Polícia Federal e, por conta disso, começou a consultar possíveis substitutos. “Ontem eu conversei em particular com o Moro e falei que no dia de hoje provocaria a exoneração do Valeixo. Ele relutou e falou que o substituto teria que ser um nome dele. Não concordei com isso”, afirmou.

O presidente alegou também que não precisa de autorização para trocar o diretor da Polícia Federal. “Não preciso de autorização para trocar nem ministro, quanto mais para trocar um diretor”, disse.

“A lei de 2014 diz que essa indicação é do presidente. Eu abri mão disso porque confiava no Moro”, afirmou. Valeixo foi escolhido diretor-geral da Polícia Federal por Moro no início do ano passado. O presidente disse também que estranhou quando o agora ex-ministro nomeou para os cargos mais altos de seu ministério em Brasília apenas pessoas com quem havia trabalhado em Curitiba. “Isso me surpreendeu, será que os melhores quadros todos estavam em Curitiba? Decidi dar crédito e comecei a trabalhar”, disse Bolsonaro.

Vaga no STF

No ponto mais polêmico de seu discurso, meio improvisado, meio lido, o presidente acusou Moro de ter pedido a indicação para ministro do STF em novembro para apenas depois disso fazer a troca de Valeixo. Pela manhã, o ex-ministro negou o pedido de indicação para o cargo.

“Mais de uma vez, o senhor Sergio Moro disse para mim: ‘Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal’. Me desculpe, mas, não é por aí”, declarou Bolsonaro.

A partir de novembro, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello, o presidente da República terá de indicar um novo ministro para o tribunal.

Após o pronunciamento de Bolsonaro, Moro escreveu em uma rede social: “A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”.

A coletiva foi encerrada com a leitura de um documento onde Bolsonaro disse que “não são verdadeiras as insinuações de que eu gostaria de saber sobre investigações em andamento”. O presidente disse, disse, mas não convenceu e nem apresentou motivos concretos para o que levou ele a decidir pela saída de Maurício Valeixo.

Panelaço

Durante a entrevista coletiva de Jair Bolsonaro, cidades brasileiras registraram panelaços na tarde desta sexta-feira (24):

Belo Horizonte

Brasília

Rio de Janeiro

Foto: Gabriela Biló/Estadão/2019

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