Home Comentários O dia que Itamar salvou Furnas – uma lição que Zema poderia repetir

O dia que Itamar salvou Furnas – uma lição que Zema poderia repetir

11 de julho de 2020, 20h31 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Tem sido árdua a luta do pessoal que de alguma forma depende de Furnas em defesa do que se conhece como o “mar de Minas”. Uma represa construída pelo presidente Juscelino Kubitschek na década de 60, que não só fornece energia elétrica para dezenas de municípios mineiros e de outros estados, graças a seu sistema integrado, banha 34 cidades em Minas e pode alcançar a profundidade de 450 metros e com um volume d´água superior à da Baia da Guanabara, Furnas, no entanto, pede socorro.

É que o lago, que abrange uma área de 1.440 Km2, e em torno do qual estão centenas de pousadas, hotéis, cidades encantadoras, condomínios de alto padrão, está secando. Suas águas baixam a cada dia dois a três centímetros, segundo as várias réguas que medem o volume dos diversos rios que abastecem a represa, de forma que o turismo, hoje a principal fonte de renda da região, está seriamente ameaçado. E com ele as 34 cidades que florescem no entorno do lago que os mineiros chamam carinhosamente de o “mar de Minas”, quem sabe por um certo saudosismo da brisa que embalança as palhas dos coqueiros que enfeitam o litoral do país e do qual Minas, caprichosamente ficou de fora, mas que ajudou a formar nessa região, pelas cumeeiras de suas montanhas ou pela extensão de seus vales, uma cultura vasta, reta e reflexiva, uma espécie de civilização povoada por uma gente altiva e que por isso mesmo não se verga.

Essa gente quer ser ouvida, sobretudo quando os que moram no entorno de Furnas, como o empresário Braz Pagani, de Três Corações, ou o empreendedor José Afonso, um dos primeiros a compreender o futuro do turismo na região, acordam e acorrem às réguas para sentir com pesar o quanto o lago perdeu numa noite. A quem apelar? À Agência Nacional das Águas -Ana? Ao Operador Nacional do Sistema Elétrico(ONS)? Ora, todos já foram procurados e se fazem de desentendidos de tal forma que surge na região de abrangência do lago um movimento pelo qual os deputados que se elegeram naquela área não terão mais os votos dos eleitores que a cada dia veem o lago se esvaziar. É um movimento de protesto, mas também de indignação, ainda que alguns possam nem se reeleger e deem seus lugares a lideranças novas que trazem uma atitude mais firme e mais consentânea com a nova postura que se exige dos que pedem votos – mesmo que vários possam merecê-los.

O fato é que Furnas está apreensiva, os ribeirinhos inquietos, os empresários temerosos de que o lago baixe tanto que se transforme numa lagoa infecta, e todos a pedir que alguém fale por eles, até para que não tomem as rédeas em suas próprias mãos. E numa hora aflitiva como essa clamam pela liderança do governador Romeu Zema ou pela do deputado Agostinho Patrus, presidente da Assembleia Legislativa e que vem recentemente de uma vitória em Brasília, onde conseguiu fechar um acordo com a União para o ressarcimento devido a Minas Gerais pelos danos causados ao Estado pela Lei Kandir. Com bom trânsito no governo Bolsonaro, para quem pediu voto na eleição passada, o governador Romeu Zema bem que poderia encampar essa luta em defesa dos interesses de Minas e dos mineiros, porque de fato o “mar de Minas” pede socorro. E ninguém mais talhado para falar em nome de Minas, mas não só ele, do que o governador do Estado. Que se convoquem os deputados mineiros, todos, que se convoquem os senadores, todos, para que Minas possa uníssona falar em defesa de Furnas. O momento exige essa mobilização que é sobretudo cívica e em defesa dos interesses do Estado, assim como fez o então governador Itamar Franco que, à vista do presidente Fernando Henrique Cardoso de vender Furnas, armou seu bivaque na beira do lago e ameaçou represar o Rio Grande para cortar ás aguas que movem as 9 turbinas que geram 1.216 MW da Usina de Furnas, obrigando o presidente a recuar de seu intento privatista, com o que se salvou também a Cemig, outra que seria vendida – risco que ainda corre no governo do Novo. Em suma, política partidária fora, é hora de socorrer Furnas e o exemplo de Itamar entrou para a história. Que Zema faça o mesmo agora.

Foto: Site Uma Senhora Viagem

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