Por CNN
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), declarou em entrevista ao programa da CNN Caminhos com Abilio Diniz, nesta quarta-feira (10), que não tem a pretensão de ser o principal nome da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026, afirmando que o projeto para o estado é de longo prazo.
O chefe do Executivo paulista citou nomes como os dos governadores Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais; Ratinho Jr. (PSD), no Paraná; Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul; e Raquel Lyra (PSDB), em Pernambuco. Entretanto, não falou do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem foi ministro da Infraestrutura.
“Nós temos uma boa safra surgindo. Tem o Zema em Minas Gerais, o Ratinho, no Paraná, tem o Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Pessoas que estão pensando o Brasil, que têm bons fundamentos. A Raquel, agora, em Pernambuco”, afirmou.
“Não vamos ter carência de bons nomes para concorrer lá na frente. Tenho um compromisso muito firme aqui com o Estado de São Paulo. Estou muito feliz com o voto de confiança que me foi dado, e os nossos projetos aqui são todos de longo prazo”, continuou.
8 de janeiro
Sobre os ataques criminosos que ocorreram contra as sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro, Tarcísio disse lamentar o que aconteceu.
Para o governador, o 8 de janeiro foi um episódio para que todos aprendam com os erros e saiam mais fortes.
Conforme Tarcísio, em São Paulo foram tomadas providências para que o mesmo não se repetisse. Como o reforço de segurança e o policiamento nas sedes dos órgãos públicos, que, na avaliação dele, tiveram um bom resultado.
“Por algum motivo, houve um descontrole da população, que acabou desferindo ódio contra símbolos das instituições. E isso tem que ser apagado. Os responsáveis têm que ser punidos. A gente tem que aprender com essas chagas e entender que temos um bem muito importante, que é a democracia. Nós temos que defender essa democracia. Fazer com que aquilo que aconteceu não aconteça mais”.
Ainda de acordo com Tarcísio, a democracia não corre riscos e está dando provas de maturidade.
“Tem as eferverscências, os conflitos, as disputas, mas é sólida. E isso tem que ser defendido”.
Ele também defendeu a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, justificando que a investigação é necessária para esclarecer fatos, assim havendo justiça.
“Por exemplo: houve negligência do Ministério da Justiça, do GSI [Gabinete de Segurança Institucional]? Um governo que acabava de chegar, mas que já tinha oito dias, tinha o comando, portanto, das Forças Armadas, tinha condição de acionar o Comando Militar do Planalto”.
E completou: “Se avisado pelo sistema de inteligência, [o governo federal] poderia [contar] com os batalhões que fazem a guarda presidencial, com o Batalhão de Guarda Presidencial, Regimento de Cavalaria de Guarda, Batalhão de Polícia do Exército, fazer a guarda daqueles prédios importantes, como é o Palácio do Planalto, isso era corriqueiro. Então essas situações precisam ser apuradas”.
Governo Lula e a pacificação do Brasil
Para Tarcísio, o governo Lula tem tudo para pacificar o Brasil, mas não está indo nessa direção. Ele argumenta que o discurso está muito inflamado.
“Nós somos uma sociedade só. E quem se elege, se elege para governar por todos. Nós tivemos uma eleição superapertada, foi 50% a 49%, não foi 80% a 20%, foi uma eleição muito disputada. Nós temos uma sociedade que tem um contorno diverso. Metade da sociedade é conservadora e [a outra] metade é progressista. Então essas diferenças precisam ser respeitadas”.
À CNN, o chefe do Executivo paulista disse também que os brasileiros miram o futuro, aprendendo com os benefícios da iniciativa privada, do capital e de como isso pode beneficiar o país.
Ele afirma ainda que isso não é vislumbrado pela esquerda brasileira, que, segundo ele, não faz uma leitura de como o país mudou nos últimos 20 anos, diferente da esquerda internacional, que convive bem com essas questões, enquanto, nacionalmente, estaríamos presos em ideologias.
“No dia 8, eu relutei um pouco, no dia seguinte, de participar da reunião dos governadores. E por quê? Eu entendia que o discurso estava muito inflamado, não era um discurso de pacificação. Entrei em contato com o ministro de Relações Institucionais [Alexandre Padilha], expliquei para ele minha posição: se o discurso for de união, contem comigo”.
“Agora, se não for, se for esse discurso de nós contra eles, palanque para esse tipo de coisa não vou dar, não faz sentido. E, aí, realmente o discurso foi mais ameno, foi mais institucional, todos estiveram presentes, e foi mais interessante”.
Governo Lula sem plano de governo
A terceira administração de Lula, para o político do Republicanos, não tem um plano claro de governo, vivendo em uma repetição de programas que foram editados há 20 anos.
“O cenário mudou muito. O cenário fiscal mudou, o Brasil não tem a mesma relação de dívida e PIB [Produto Interno Bruto], não tem a mesma relação fiscal de 20 anos atrás. O mundo está em um momento diferente de 20 anos”.
Para ele, “precisamos ser muito mais criativos, ser muito mais ousados para aproveitar as oportunidades que estão aí. Por exemplo, o mundo se desorganizou com a guerra da Ucrânia, com a crise da Covid”.
“O mundo percebeu que precisa ter parceiros confiáveis, que a gente precisa distribuir melhor a produção, as cadeias globais vão se redividir. O Brasil tem oportunidades de ser protagonista, de ter uma fatia dessa redivisão, de promover, aqui, a nova industrialização, de ser líder na transição energética, no hidrogênio verde e trazer novas industrias”.
Caso isso não seja feito, Tarcísio aponta que perderemos investimentos para países asiáticos e para o México, condenando a sociedade à pobreza.
“E qual é o dever de casa? É seguir no caminho das reformas, é não abdicar do capital privado, do compromisso com a solvência. E as mensagens, até aqui, são ruins, principalmente no campo fiscal, econômico”.
De acordo com o governador de São Paulo, “não tem nada de consistente sendo apresentado que nos garanta um crescimento sustentável. Essa é a grande crítica de quem torce pelo Brasil, de quem não está vendo situação e oposição, direita ou esquerda, de quem deseja um Brasil grande”.
Salário mínimo
No dia 1º de maio, o governo paulista estabeleceu o salário mínimo de R$ 1.550.
O novo valor unifica as duas faixas salariais que existem em São Paulo e representa um aumento percentual de 20,7% em relação à faixa 1, que atualmente está em R$ 1.284,00, e 18,7% sobre a faixa 2, fixada até agora em R$ 1.306,00.
A inflação acumulada nos últimos 12 meses foi de 4,65%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A quantia rivalizou com o valor anunciado pelo governo federal, de R$ 1.320 para trabalhadores, aposentados e pensionistas.
Pela proposta, os reajustes anuais passam a levar em conta a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) dos 12 meses anteriores mais a taxa de crescimento real do PIB do segundo ano anterior ao vigente.
O PIB é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Tarcísio, “o piso federal reflete uma situação média nacional. Obviamente, aqui, como a legislação já autorizou que Estados tenham seus salários mínimos regionais, a gente tem que enxergar as características regionais. Ou seja, o custo de vida no Estado vai ser maior que em outros Estados, então é natural que o piso em São Paulo seja maior”.
“Não posso fazer nada que estoure o caixa do governo e nada que eu cruze a fronteira e acabe gerando desemprego ao invés de gerar emprego”, disse Tarcísio à CNN.
“Por isso, a gente tinha feito as contas, feito os modelos, chegamos nesse patamar de R$ 1.550, que é um patamar palatável”.
Foto: Reprodução/CNN