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A politização dos juros Copom divulga nesta quarta-feira (22) a taxa básica de juros da economia brasileira

22 de março de 2023, 14h10 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

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Por Itatiaia

Fazia tempo que não escutávamos tanto sobre juros! O mercado financeiro, como mostrado pela pesquisa Genial/Quaest, deseja a manutenção da taxa atual, os 13,75%. O governo, como demonstrado nas entrevistas do presidente Lula, deseja que os juros comecem a cair. A maioria da população, também ouvida pela Genial/Quaest, está ao lado de Lula, quer juros menores. É em meio a este debate público sobre o papel dos juros no controle da inflação e na produtividade econômica que o Banco Central (independente) terá que se posicionar.

Hoje a noite sai o comunicado oficial do Banco Central. Mais do que uma decisão técnica, o tema parece ter sido capturado pela cegueira que a polarização produz no país. Juros virou tema político, como aqueles que sinalizam onde você está no espectro político ao você se posicionar sobre o assunto.

O impasse bancário nos Estados Unidos e Europa tem potenciais desinflacionários no Brasil e o país caminha a passos firmes para uma retração que pode chegar a uma recessão no fim do ano. A alta estrondosa da Selic de 2% para 13,75% em dois anos está sufocando o crédito, ampliando a pressão que hoje é da política para as empresas e bancos. Ninguém mais consegue arrolar dívidas no país com juros tão altos. Além disso, Haddad entregou a Campos Neto um pacote de ajuste, a recomposição de receita com o PIS/COFINS sobre combustíveis e apresentou as diretrizes da sua proposta de nova regra fiscal. Tudo isso poderia, em tese, levar o Copom a abrir a janela para iniciar os cortes no primeiro semestre.

Tecnicamente, no entanto, as coisas não funcionam assim. A modelagem do Copom dá um alto peso às expectativas econômicas, e todas pioraram muito desde 1 de fevereiro. Corretoras que reproduzem o modelo do Copom não enxergam outra sinalização possível além da manutenção da taxa atual até o fim do ano, com o IPCA deste ano resistente em 5,9%, estourando a meta de inflação pelo terceiro ano consecutivo.

Se repetir o comunicado de fevereiro, Campos Neto cria para si e sua diretoria um clima de guerra. Um aviso duro será compreendido pela política como uma derrota do gradualismo de Haddad e dará força para a esquerda do PT impor o seu ritmo à política econômica. Mas se adiantar um corte para maio – como espera o presidente Lula – o mercado verá o movimento como uma concessão, minando a credibilidade do BC.

Em um mundo ideal, Campos Neto seguraria os juros até o final do ano para só depois de controlado o núcleo da inflação, iniciar um corte sistemático da Selic. Foi o que Illan Goldfajn fez em 2016, quando baixou os juros de 14,25% gradualmente para 6,5% em dois anos. Só que Goldfajn tinha Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. Campos Neto tem um governo eleito para cumprir uma agenda social que politicamente é mais urgente que controle de gastos.

Esta será também a última reunião de um Copom totalmente alinhado com Campo Neto. Na reunião de maio já devem estar empossados os dois novos diretores. Rodolfo Fróes e Rodrigo Monteiro, devem ser os indicados para contestar o consenso fiscalista do atual Copom.

O dilema de Campos Neto não é simples. Se bater o pé, pode inviabilizar a continuidade da independência do Banco Central no restante do governo Lula. Se conceder demais, pode desacreditar a política monetária e desancorar as expectativas num momento em que o mundo pode estar entrando numa crise financeira. Fato é que um tema técnico virou político e a decisão de hoje vai definir de que lado Campos Neto esta.

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

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