“Isto é um escândalo nacional”, exclamou o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Agostinho Patrus (PV), nessa quarta-feira (10/3), ao questionar por que cerca de 500 servidores administrativos da Secretaria de Estado de Saúde, que não estão na linha de frente do combate à pandemia, furaram a fila de vacinação contra a covid-19, atrasando a imunização de importantes grupos prioritários, como idosos e pessoas com comorbidades.
“Todos os mineiros repudiam esse verdadeiro ‘trem da alegria’ que foi criado na Secretaria de Saúde. Vacinar uns na frente de outros é dar a alguns a condição de não se contaminarem e a outros, a impossibilidade de estarem com suas famílias”, alertou.
As denúncias de “fura-fila” vieram à tona por meio da imprensa e foram tema de seis horas de discussões ininterruptas entre parlamentares e o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, em Reunião Especial de Plenário, realizada nessa quarta (10), para cobrar informações sobre a gestão do governo no enfrentamento do novo coronavírus. O próprio chefe da pasta, que tem 51 anos, foi um dos “fura-fila” que se vacinaram fora dos critérios estabelecidos pelo Plano Nacional de Imunização.
Os parlamentares requisitaram a lista de servidores que desrespeitaram os grupos prioritários, mas o secretário de Estado alegou que não poderia divulgá-los, porque estariam sob sigilo. Para Agostinho Patrus, o argumento não se justifica. “O Parlamento mineiro não irá se contentar com essa ‘conversinha’ de que tem limite, sigilo. Qual sigilo? O mesmo que estava sendo feito até a imprensa descobrir? É esse o sigilo?”, expos o presidente da ALMG.
Ao encerrar a reunião, o deputado Agostinho Patrus exigiu a investigação imediata da possível fraude, sob o risco do secretário ser convocado a depor em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e responder por improbidade administrativa. “Vamos cobrar cada um dos 500 nomes [dos fura-fila]. Não é possível que uma senhora que não pode ver os seus netos continue assim, enquanto uma casta que se acha privilegiada, que se entende à frente dos demais, possa ser vacinada escondido”, reclamou o parlamentar.
O próprio chefe da Secretaria de Saúde admitiu que o Programa Nacional de Imunização determina que sejam vacinados, primeiramente, quem está na linha de frente lutando contra a doença, e, em seguida, as pessoas em idade avançada. “Estamos vivendo um momento de guerra. Escolher quem vai sobreviver é, talvez, algo divino, mas não há nenhum divino na Secretaria de Saúde para tomar essa decisão”, completou Agostinho Patrus.
Ao fim da reunião, parlamentares começaram a coletar assinaturas para a instalação de uma CPI sobre a vacinação em Minas Gerais. Até esta quinta (11/3), mais de 30 deputados já haviam subscrito a petição, garantindo adesão suficiente para que o Parlamento dê início à investigação das denúncias de fraude.
Fotos: Victor Oliveira / ALMG