Por O GLobo
No dia em que o Brasil lamentou a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, homem negro espancado e asfixiado fatalmente na noite de quinta-feira (19) em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS) por dois seguranças brancos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi ao Twitter para fazer uma série de sete posts nos quais defende a ideia de que o país tem questões mais complexas do que os problemas raciais. Na reunião deste sábado da cúpula do G-20, realizada por videoconferência, Bolsonaro também tratou do assunto. Sem citar a vítima ou prestar solidariedade, o presidente disse que há um movimento político para “destruir” a diversidade e dividir os brasileiros.
Logo no início da fala aos líderes das economias mais ricas do mundo, o presidente se posicionou:
— Antes de adentrarmos o tema principal desta sessão, quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa História. O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros — discursou Bolsonaro.
Ele continuou, argumentando que a diversidade do país “conquistou a simpatia do mundo”.
— Contudo, há quem queira destruí-la (a diversidade), e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de “luta por igualdade” ou “justiça social”. Tudo em busca de poder.
Bolsonaro acrescentou que há “diversos interesses” diante das circunstâncias atuais.
— Um povo unido é um povo soberano. Dividido é vulnerável. E um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável.
Na cúpula do G-20, Bolsonaro disse ainda que, “como homem e como Presidente”, enxerga todos os brasileiros com as cores “verde e amarelo” e que “não existe uma cor de pele melhor do que as outras”. Segundo ele, existem “homens bons e homens maus”.
— E são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos. Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria História.
Nas redes sociais, Bolsonaro escreveu: “Estamos longe de ser perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas, problemas esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrupção moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo.”, escreveu o presidente.
Em nenhuma das mensagens, Bolsonaro menciona o crime em Porto Alegre.
– Estamos longe de ser perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas, problemas esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrução moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 21, 2020
“Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus”, acrescentou o presidente.
Durante todo o dia, notou-se o silêncio do presidente sobre a morte de João Alberto. O vice-presidente Hamilton Mourão chegou a dizer que não havia racismo no caso, pois, no seu entender, não existe racismo no Brasil.
Foi uma voz dissonante: entre os membros dos Três Poderes, o tom foi de condenação pela violência praticada em Porto Alegre e pela necessidade do combate ao racismo estrutual na sociedade brasileira.
Na cúpula do G20, Bolsonaro disse ainda que estava certo no combate à pandemia.
Foto: EVARISTO SA / AFP