Por Hoje em Dia/Blog do Lindenberg – blogdolindenberg@hojeemdia.com.br
Foi duro o contra-ataque da ex-presidente Dilma Rousseff ao ex-presidente Michel Temer, que a sucedeu. Dilma o chamou de golpista e traidor. De fato, a ex-presidente pode até ter lá as suas razões, mas numa hora talvez imprópria, porque está nas mãos de Michel Temer a possibilidade ou não de o MDB apoiar o ex-presidente Lula no primeiro turno. E isso preocupou o PT, que está vendo essa tentativa de envolver Temer ir para o beleléu.
Mas Dilma é daquelas que não mandam para o bispo. E olha que Michel Temer tinha acabado de dizer que a ex-presidente é “honestíssima”, numa longa entrevista ao portal UOL. E qual foi a resposta de Temer? “É tão desarrazoada a manifestação da ex-presidente que não merece resposta”. Ou seja, não respondeu. É que na entrevista Dilma também disse que não tinha o que conversar com Temer.
O problema é que ao chamar Temer de traidor e golpista, a ex-presidente, vítima do que foi chamado à época de “pedaladas fiscais”, pode implodir a negociação entre o MDB e a campanha do ex-presidente Lula. É claro que dificilmente Temer daria esse apoio pretendido por Lula no primeiro turno, mas não seria impossível no segundo turno.
Ainda que Michel Temer tenha tirado o presidente Bolsonaro de algumas encrencas, uma delas quando foi a Brasília para desfazer a confusão que o presidente tinha arrumado com o Supremo Tribunal Federal, a quem atacou no dia 7 de Setembro do ano passado – e olha o 7 pintando de novo aí… – de forma que teria sido um erro de Dilma virar suas baterias contra o seu sucessor no momento em que foi colocado nas mãos de Temer a possibilidade de um acordo, ainda que com o sacrifício ou a “cristianização” da candidata do MDB, senadora Simone Tebet.
No PT, a ala lulista recebeu o petardo de Dilma com preocupação. E não é à toa. Ao que se diz no partido é que a ex-presidente avançou o sinal e o melhor teria sido ela esperar um outro momento para revidar. Mas como disse, Dilma não é de mandar para o bispo. Ou seja, faltou a Dilma a habilidade política tão necessária numa hora em que está na mão de Temer a possibilidade de um acordo diante da fragilidade da campanha de Simone Tebet, que não chega a passar de um a dois pontos percentuais, a depender do instituto.
Como dizia ontem um senador do MDB: se ao fazer um elogio – no caso do “honestíssima” – Temer recebe uma cotovelada, fica difícil prosseguir num entendimento.
Na nota divulgada ontem, Dilma se refere a Temer como “esse personagem” e diz que ele “não engana a mais ninguém” e o que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo”. E justo no momento em que se articulava um encontro entre Lula e Temer. O mínimo que se pode dizer diante de um quadro desses é que a vaca foi para o brejo – com bezerro e tudo.
A ex-presidente Dilma de fato “não é de fácil relacionamento”. Foi essa uma das pérolas ditas por Temer quando se referiu a Dilma no caso do impeachment, quando na verdade se sabe que o então vice-presidente da República manobrou na sombra para acelerar a queda de Dilma, não se esquecendo que ele conversou com alguns personagens que trabalhavam pelo impeachment de Dilma, entre eles o ex-deputado Eduardo Cunha, que, por sinal, readquiriu as condições de se candidatar novamente às próximas eleições.
Em suma, a ex-presidente Dilma, na avaliação tanto de petistas como de emedebistas, atravessou o sinal. E agora pode ver o MDB fugindo de qualquer sintonia com o ex-presidente Lula. Pior para Lula, claro.
Foto: Arte Blog do Lindenberg