Por Blog do Lindenberg /Hoje em dia
O cerco aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro vai se fechando. Ontem, o interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, divulgou o relatório sobre falhas no sistema de segurança em que vândalos invadiram as sedes dos três poderes em Brasília, depredando tudo, com um agravante: segundo o interventor, aqueles acampamentos diante do QG do Exército na capital federal funcionavam como base para o fomento do que se passou a chamar de “ovo da serpente”.
Segundo Cappelli, “todos os eventos, o evento do dia 12 de dezembro, a tentativa de bomba no aeroporto de Brasília e bloqueio do aeroporto, enfim, todos os eventos passam de uma forma ou de outra pelo acampamento. Um acampamento criminoso que perturbou a ordem pública do Distrito Federal”.
De acordo com Cappelli, houve tentativas da PM para desmobilizar o acampamento, mas o Exército não permitiu a entrada dos PMs no local. Ou seja, o “ovo da serpente” estava sendo chocado sob as vistas do Exército, quando não sob a sua proteção.
Ontem, outra ponta contra o “ovo da serpente” foi também fechada. A Polícia Federal realizou, ao longo dessa sexta-feira, a terceira fase da operação Lesa Pátria, para cumprir 11 mandados de prisão e 27 de buscas e apreensão.
Essa operação tem o objetivo de pegar pessoas que financiaram, participaram ou fomentaram os atos terroristas cometidos em 8 de janeiro. Até as 14h30, seis pessoas foram detidas: dois em Minas Gerais, um em Santa Catarina, um outro no Paraná, um no Distrito Federal e outro no Espírito Santo.
O sobrinho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Léo Índio, está entre os alvos de mandado de busca e apreensão. Ele teria participado do ato que vandalizou os três poderes – Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.
Mas o maior troféu dessa captura foi sem dúvida Maria de Fátima Jacinto de Souza, de 67 anos, a “Fátima de Tubarão”. Um vídeo em que ela aparece invadindo o Palácio do Planalto ganhou as redes sociais e a tornou conhecida no meio midiático. Ela já foi condenada por tráfico de drogas em 2012 e ainda responde pelos crimes de estelionato e falsificação de documento público.
No ato de invasão do Palácio do Planalto, ela aparece gritando “vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar Xandão agora”, numa referência direta ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
A Polícia Federal informou ontem que os fatos investigados representam, inicialmente, crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
Para o ministro da Justiça, Flávio Dino, a “autoridade da lei é maior do que as dos extremistas”. Dino, por sinal, entregou ao presidente Lula o esboço de um plano em que as praças dos Três Poderes serão declaradas sob proteção do Estado e não mais da Polícia Militar do Distrito Federal.
Esse conjunto de leis será enviado ao Congresso Nacional no mês que vem. Na verdade, a Procuradoria-Geral da República já acionou mais de 150 pessoas envolvidas nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. O total de denunciados já chega a 254 e todos estão presos no sistema prisional do Distrito Federal.
Outra novidade ontem foi o desembarque no aeroporto de Brasília da ex-primeira-dama Michele Bolsonaro. Ela desembarcou com um boné como a esconder o rosto e uma blusa clara. Como é possível que Jair Bolsonaro tenha que ficar mais uma vez internado em função de problemas estomacais, a menos que volte ao Brasil antes da hora – e aqui pode até ser preso dado o número de investigações a que responde – seria razoável supor que por esse motivo Michele Bolsonaro tenha voltado mais cedo do que pretendia.
foto: reprodução