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Bolsonaro debocha das 386 mil mortes que enlutam o Brasil Comentário da Tarde - Por Carlos Lindenberg

26 de abril de 2021, 16h42 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Ao posar com um cartaz em que se lia que o país tem hoje “386 mil CPFs cancelados”, no uso de uma linguagem rude e própria do meio onde faz política, junto aos milicianos, o presidente Jair Bolsonaro não apenas zomba dos mortos e dos que perderam os seus parentes e amigos. Bolsonaro menospreza a vida, o bem mais sagrado dos que vieram à Terra em qualquer tempo.

Pois hoje, dia 26, ao inaugurar um trecho da Br-101, na Bahia, mais precisamente em Feira de Santana, o presidente resolveu alegrar aquela galera que anda em seu entorno, ao dizer que o país está perto de ter um novo “grito de independência”, numa referência aos governadores e prefeitos que, em nome da vida, fecham o comercio não essencial e, na interpretação dele, decretam uma “ditadura” como se não tivessem os governadores e prefeitos o aval do Supremo Tribunal Federal para determinar o que pode ou não funcionar nas suas regiões. Na verdade, ao que parece, Bolsonaro não aprendeu até hoje o que significa uma “ditadura”, a mesma que ele viveu ou não, implantada no país em 1964 e que durou 25 anos. Só quem viveu essa “ditadura” na pele sabe o que ele significou para o país, com centenas de mortos nos calabouços dos beleguins, milhares de presos e torturados e alguns corpos até hoje desaparecidos. Bolsonaro não viveu essa ditadura ou a viveu do outro lado da ponte.

Na sua fala desta segunda-feira, dia 26, na Bahia, onde nasceu e viveu Ruy Barbosa, defensor das liberdades públicas, como bem expôs na sua Oração aos Moços, Bolsonaro voltou a bater na técnica, rasa e burra, de que o seu governo tratou o vírus com muita responsabilidade – está se vendo, com 386 mil mortos – e que não foi seu governo que fechou o comércio nem deixou as pessoas em casa. Nem destruiu milhões de empregos, como se essa fosse uma chaga experimentada só pelo Brasil, pior, quando deixou de pagar em dezembro o auxílio assistencial – na época de 600 a 1.200 reais e agora de menos de 275,00, enquanto outros países pagavam para evitar a transmissão do vírus quantias superiores a esse montante.

O que Jair Bolsonaro não disse foi que exonerou quatro ministros da saúde, colocou um general entre eles – aliás o mesmo que foi flagrado neste fim de semana andando sem máscara num shopping de Manaus, lá mesmo, na capital do Amazonas, onde ele deixou mais de 30 pessoas morrerem por falta de oxigênio dada a sua imprevidência, ele mesmo, o general Eduardo Pazuello – de forma que ao deixar de fazer o que deveria ter feito o presidente não deixa também de admitir uma certa culpa pelos seus desacertos e agora usa o nome das Forças Armadas para fazer valer o que ele chama de direito do cidadão de “ir e vir”, na vã justificativa de que compete a elas o cumprimento da Constituição. Não. O cumprimento da Constituição compete ao Poder Civil, representado, bem ou mal, pelo Congresso Nacional, pelo Supremo Tribunal Federal e pelo próprio presidente da República – ele mesmo Jair Messias Bolsonaro. As Forças Armadas não foram chamadas para combater o coronavírus, a despeito da presença do general Pazuello no ministério da Saúde, por algum tempo. Nem estamos numa luta intestina, a menos que Bolsonaro queira deflagrá-la por sua conta e risco. Aliás, começa nesta terça-feira, dia 27, a CPI que vai apurar as causas e consequências da pandemia não debelada a tempo e a hora, daí porque choram hoje 386 mil famílias cobertas de dor e de luto, com a certeza de que esse número nos próximos dias já será maior. Com certeza, não é esse novo “grito de independência” que se quer para o povo brasileiro. O que se pede, até se implora, é que haja vacina para todo mundo ser imunizado contra a Covid-19. É só o que se pede.

Foto: Reprodução/Redes sociais

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