Home Economia Bolsonaro deve vetar perdão a dívidas tributárias de R$ 1 bilhão de igrejas

Bolsonaro deve vetar perdão a dívidas tributárias de R$ 1 bilhão de igrejas Um projeto aprovado no Congresso, pendente de sanção do presidente, anula multas aplicadas às instituições religiosas pelo não pagamento de impostos trabalhistas.

10 de setembro de 2020, 18h19 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Cabe ao Presidente Bolsonaro vetar ou não o dispositivo já aprovado pela Câmara Nacional que pode anular dívidas tributárias de igrejas acumuladas após fiscalizações e multas aplicadas pela Receita Federal. Segundo apuraram o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o valor do “perdão” seria de quase R$ 1 bilhão, e ainda isentá-las do pagamento de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) daqui para frente.

A proposta, de autoria do deputado David Soares (DEM-SP), filho do pastor evangélico RR Soares, foi aprovada pelo Senado e pela Câmara, mas, para ser implementada, precisa ser sancionada pelo presidente da República.

Como revelaram Estadão e Broadcast no fim de abril, Bolsonaro promoveu, na época, uma reunião entre o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho do missionário R. R. Soares, e o secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, para discutir os débitos das igrejas.

De acordo com o texto das emendas, as organizações religiosas ficariam isentas do pagamento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), seriam anistiadas das multas recebidas por não pagar a CSLL e também receberiam o perdão das multas pelo não recolhimento da contribuição previdenciária.

O projeto de lei original (PL nº 1.581/2020) não tinha nada a ver com a concessão dos benefícios a igrejas. A proposição legislativa inicial foi apresentada pelo deputado Marcelo Ramos (PL/AM) para regulamentar acordos diretos entre a União e credores para pagamento de precatórios com desconto. A ideia é que os valores economizados pelo governo sejam usados no enfrentamento da pandemia de COVID-19.

No entanto, durante a tramitação, o deputado David Soares apresentou três emendas ao projeto, beneficiando as organizações religiosas. As alterações podem beneficiar inclusive a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada pelo pai do deputado.

A instituição tem R$ 37,8 milhões inscritos na Dívida Ativa da União, além de outros débitos milionários ainda em fase de cobrança administrativa pela Receita.

Importante ressaltar que a Constituição já proíbe cobrança de impostos sobre templos de qualquer culto. O que a bancada religiosa pede agora é a isenção também de contribuições sociais.

O trecho anula, por exemplo, as cobranças de contribuições previdenciárias incidentes sobre remunerações de pastores, padres e sacerdotes antes de 2015, quando houve uma mudança na lei que beneficiou as lideranças.

O prazo termina nesta sexta-feira (11) o para o presidente Jair Bolsonaro se decidir. Segundo IstoÉ, Bolsonaro explicou aos congressistas que até concorda com o perdão e tinha vontade de sancionar porque vê nas igrejas um importante papel social. Mas o presidente ponderou que não tem amparo jurídico e corre risco de cometer crime de responsabilidade, passível de impeachment, caso sancione a proposta aprovada pelo Congresso do jeito que está.

Ainda de acordo com o IstoÉ, a costura neste momento é no sentido de vetar a parte que livra as igrejas do pagamento de CSLL, tanto débitos passados quanto cobranças futuras. Mas ainda há pressão para que a área econômica concorde com a anulação de multas e outras cobranças aplicadas por irregularidades na prebenda, como é chamada a remuneração dos pastores e líderes do ministério religioso.

A equipe econômica recomendou veto total às medidas, mas vem recebendo pedidos do Palácio do Planalto para desistir da recomendação e admitir ao menos o perdão parcial. O presidente, que tem no momento a bancada evangélica num importante pilar de sustentação de seu governo, promoveu o encontro na tentativa de chegar a um meio-termo para o impasse, que se arrasta há anos.

Bolsonaro foi eleito com o apoio de diversas lideranças evangélicas. Embora se declare católico, o presidente tem uma relação próxima a pastores e igrejas evangélicas. A primeira-dama Michelle Bolsonaro é frequentadora da Igreja Atitude, no Rio.

Três integrantes do primeiro escalão do governo são pastores: a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e os ministros André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e Milton Ribeiro (Educação).

Foto: Carolina Antunes/PR

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