Hoje de manhã, num áudio postado aqui no blog do Lindenberg, falei “en passant” que o presidente Jair Bolsonaro insiste na cartilha do norte-americano Steve Bannon de falar qualquer coisa, por mais absurda que seja, para ocupar o espaço dos jornais – agora também nas rádios, preferencialmente – e evitar o contra-ataque da imprensa: “quanto mais absurda a declaração, melhor”, ensina o estrategista da direita americana e agora também da brasileira.
Pois eu não tenho mais a mínima dúvida disso. Hoje mesmo, falando a uma emissora de Goiás – atenção, meninos, o presidente está substituindo as redes sociais pelas rádios, sinal de que prefere maior audiência – o presidente caiu em contradição ao dizer que teme ser preso pelo ministro Alexandre de Moraes se não for reeleito – o que também não deixa de ser um factoide essa ameaça tosca. É bem verdade que o ministro já enquadrou o presidente em quatro inquéritos, a maioria por espalhar fake news, mas daí a decretar a prisão de Bolsonaro vai uma distancia enorme. Mas vale pela sua apreensão. O problema é que Bolsonaro na semana passada dizia que jamais se deixará prender, preferindo a morte ou quem sabe a vitória – no caso da eleição de 2022, a despeito de sua queda nas pesquisas e ainda que mantenha pelo menos um terço do eleitorado, esse mesmo eleitorado que ele está chamando para ir às ruas no dia 7 de setembro para uma manifestação contra o Supremo Tribunal Federal.
Neste fim de semana, no entanto, começou a circular um manifesto da FIESP conclamando o país a manter a serenidade e a harmonia entre os poderes da República, enfim, que a Constituição fosse respeitada. Alguém vazou esse documento, que no sábado já contava com mais de duas centenas de assinaturas do setor empresarial, e a movimentação foi abordada até porque o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal ameaçaram sair da Febraban, a entidade que representa os bancos do país, de forma que o documento acabou suspenso, pelo menos por enquanto. Na verdade, é o segundo documento que deveria circular nessa terça-feira, sendo oportuno lembrar o dos bancos, dos intelectuais e entidades religiosas que também pediam a harmonia entre os poderes, o que mostra que alguma coisa há de podre no reino da Dinamarca, para usar um eufemismo.
De qualquer forma, continua como uma ameaça ao equilíbrio entre os poderes a convocação do próprio presidente da República para a manifestação no dia 7 de setembro. Ninguém sabe o que Bolsonaro pretende fazer nesse dia. O que se imagina é que ele vai fazer do ato uma demonstração de força, o que na verdade pode dar um resultado contrário porque não se pede apoio se se está forte no comando político da nação. O que significa que Bolsonaro já não conta com o apoio maciço dos que o elegeram em 2018, o que explicaria também a mobilização do ex-presidente Lula que está percorrendo o Nordeste brasileiro e deve estar em Belo Horizonte em meados de setembro para o que se imagina que possa até haver um encontro entre ele o prefeito Alexandre Kalil, um adversário declarado do governador Romeu Zema que tem o apoio do presidente Bolsonaro e cujas causas vem apoiando cada vez mais. É de lembrar que há pouco tempo o ex-candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad, esteve com o prefeito Kalil, no que pode ter significado uma sinalização para esse próximo encontro, ainda não definido, mas que não causaria nenhum espanto se ocorresse. O PT não tem candidato aberto ao governo do Estado e Lula precisa de palanques regionais fortes para ancorar a sua candidatura.
Foto: Marcos Correa/PR