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Bolsonaro mente e diz a investidores em Dubai que Amazônia ‘não pega fogo’ e ‘ataques’ ‘não são justos’ Durante evento para captação de negócios, presidente convidou árabes a conhecerem 'o Brasil de fato'. Dados oficiais mostram que floresta enfrenta recordes de queimadas e desmatamento.

15 de novembro de 2021, 10h52 | Por Redação - Blog do Lindenberg

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Por G1

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta segunda-feira (15), durante evento com investidores em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que “os ataques que o Brasil sofre em relação à Amazônia não são justos”.

Bolsonaro convidou os investidores árabes a conhecer a floresta. Ele mentiu ao dizer que, “por ser uma floresta úmida, não pega fogo.”

Mas a afirmação – semelhante a uma que o presidente fez em discurso na ONU no ano passado – é falsa, conforme checagem do Fato ou Fake.

“Afirmar que a floresta é úmida como um todo era algo verdadeiro há 60 ou 70 anos; hoje, com 20% desmatado, isso não é mais um fato”, explica o ambientalista Antonio Oviedo, assessor do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ONG presente na Amazônia há 25 anos.

“Ela é úmida em áreas como no interior do Rio Solimões ou no Alto do Rio Negro, onde não tem muitas estradas, mas mesmo lá o fogo já tem entrado, por conta do desmatamento. Quando se fragmenta a floresta em blocos, vem o efeito de borda. Quanto mais bordas tiver, mais seca fica, e facilita a entrada do fogo”, afirma Oviedo.
A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, reforça que “o desmatamento, a exploração da madeira e outras atividades humanas mudam a condição da floresta úmida como barreira ao fogo”. O Ipam trabalha desde 1995 pelo desenvolvimento sustentável na região.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também apontam, de forma repetida, os focos de incêndio acima da média na floresta nos últimos meses. Em junho, houve o maior número de focos para o mês em 14 anos; em julho, foram quase 5 mil focos; em agosto, 28 mil.

‘Mais de 90% de área preservada’
Bolsonaro também afirmou que a Amazônia tem mais de 90% de área preservada, “exatamente igual” a como era em 1500.

“Os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia não são justos. Lá, mais de 90% daquela área está preservada, está exatamente igual quando foi descoberto no ano de 1500. A Amazônia é fantástica”, declarou.

A afirmação também não é verdadeira, conforme explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas – iniciativa do Observatório do Clima e de outras ONGs, universidades e empresas de tecnologia que mapeia anualmente a cobertura e uso do solo do Brasil.

“O bioma Amazônia tem de vegetação nativa aproximadamente 86%. Só que tem pelo menos 4% do bioma que é vegetação secundária. Então 20% da Amazônia já foram desmatadas. Se você considera as áreas que tiveram fogo ou exploração florestal irregular e também outros tipos de impacto – como os efeitos de borda, o garimpo – pelo menos outros 20% da Amazônia estão impactados”, afirma Azevedo.

“Então a gente não pode falar de uma Amazônia totalmente conservada. A Amazônia está passando por uma ameaça forte. Inclusive, o que os estudos recentes têm mostrado é que em algumas regiões a Amazônia já não cumpre o papel de ser a principal fonte de absorção de carbono. Em alguns lugares, ela já está sendo uma fonte de emissão líquida – o que é algo terrível para a questão climática”, pontua.

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No sábado (13), primeiro dia da viagem oficial ao Oriente Médio, Bolsonaro já havia dito que o Brasil foi “atacado” na COP 26, a Conferência do Clima organizada pela ONU, em Glasgow.

Bolsonaro não foi à COP, mas integrantes do governo – como o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite – representaram o país. Ao longo dos dias na Escócia, o ministro defendeu a gestão do presidente, a mineração e se recusou a responder se o governo Bolsonaro vai retirar apoio a projetos de lei no Congresso Nacional que integram o chamado “combo do desmatamento”.

Esforços ‘bem sucedidos’, diz França
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, abordou a política ambiental do governo – que tem sido criticada por ambientalistas, políticos e celebridades no Brasil e no exterior. Para o chanceler, os esforços do governo contra crimes ambientais, com o uso das Forças Armadas, são “bem-sucedidos”.

Em 2020, Bolsonaro recriou o Conselho Nacional da Amazônia Legal, chefiado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. O presidente autorizou três operações para que as Forças Armadas combatessem crimes ambientais, contudo, os registros de desmatamento seguiram altos na Amazônia.

Só que a afirmação de França é desmentida pelos números. No mês passado, por exemplo, o desmatamento na Amazônia Legal foi o maior para outubro desde 2015, segundo o Inpe. Em setembro, os números só não foram piores que os de 2019, quando atingiu recordes históricos. Em agosto, foi o terceiro pior desde 2015; em julho, houve a segunda pior temporada em 5 anos.

De agosto de 2019 até julho de 2020 – já depois do envio das Forças Armadas à Amazônia – houve um crescimento de 9,5% no desmatamento da Amazônia.

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França também citou no discurso as metas do Brasil para redução de emissões e de desmatamento, anunciadas durante a conferência sobre o clima da ONU, a COP26, recém-encerrada em Glasgow.

O governo brasileiro faz uma ofensiva para tentar vender a imagem de um país que protege suas florestas. Isso ocorreu na COP26 e prossegue em Dubai. Na Expo 2020, por exemplo, o pavilhão brasileiro fica no distrito da sustentabilidade da exposição universal.

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Viagem ao Oriente Médio
Jair Bolsonaro participou nesta segunda de um fórum de investimentos em Dubai, nos Emirados Árabes, como parte da programação da viagem oficial a países do Oriente Médio. Uma comitiva de ministros acompanhou o presidente no evento.

Bolsonaro está no terceiro dia de agendas nos Emirados Árabes, primeiro destino de uma viagem por três países do Golfo Pérsico. O presidente irá na terça-feira (16) ao Bahrein e na quarta (17) ao Catar com o objetivo de apresentar oportunidades de negócios em áreas como infraestrutura, agricultura e defesa.

O “Invest in Brazil Forum” é organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), um órgão do governo federal.

Durante a abertura do evento, o presidente também fez propaganda do cargueiro KC-390 fabricado pela Embraer. A aeronave é motivo de atrito entre a fabricante e a Força Aérea Brasileira (FAB), que anunciou a redução da compra de unidades da aeronave – de 28 para 15.

A Embraer declarou que adotará medidas cabíveis em relação ao acordo com a FAB, o que sinaliza um possível litígio na Justiça. O governo deseja abrir uma renegociação com a empresa.

Foto:Alan Santos/PR/Direitos reservados

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