Foi patético sim o papel desempenhado pelo presidente Jair Bolsonaro ontem ao tentar desmoralizar a urna eletrônica. Como se imaginava, o presidente não tinha provas da acusação e por isso tentou inverter a comprovação documental da lenga-lenga de que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas, sugerindo que o TSE prove que as urnas são invioláveis.
Ridículo: quem acusa precisa mostrar as provas. E isso o presidente não fez, nem teria como fazer, mesmo levando junto para a live das quintas-feiras dois ajudantes que, como ele, fizeram papel bizarro, ao tentar jogar o eleitor contra o sistema eleitoral em vigor no Brasil desde 1999, numa, quem sabe, possibilidade de tumultuar o jogo e com isso buscar uma saída fora do sistema democrático para o seu governo.
Da mesma forma, ao atacar o presidente do TSE, Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, o presidente ataca as instituições e não é por acaso que já se pensa até uma ação direta no STF contra Bolsonaro, dada a gravidade do que ele disse ontem, com o uso indevido de uma rede pública como a TV Brasil, que tem seu uso estipulado em lei e não pode ser usada como peça de propaganda do governo. Por que, na verdade, com o pretexto de combater a urna eletrônica, o que Bolsonaro fez foi uma propaganda deslavada de sua gestão e sem direito à réplica dos jornalistas que foram convidados para a “palestra”, apelando de maneira indevida a uma empresa pública que não deve ser usada para fins publicitários.
O próprio STF já pensa em mudar de atitude em relação às investidas de Bolsonaro a favor do voto impresso e contra as urnas eletrônicas, até porque, ontem, dia de o presidente mostrar provas de que as urnas são violáveis, ele não o fez. Ao contrário, disse que não se pode provar o que ele vem dizendo, fazendo da patuleia um ator circense – e nada mais. É possível que toda essa pantomina acabe dia 5 de agosto, quando o Congresso voltar do recesso e a comissão especial que estuda o assunto possa jogar por terra essa tentativa grotesca de o presidente, provavelmente, fugir da disputa que será travada em 2022. Nesse sentido não teria sido atoa a advertência atribuída ao general Braga Netto, segundo o qual, sem voto impresso não haverá eleição – tendo sido rebatido na lata pelo vice-presidente e também general Hamilton Mourão de que o “Brasil não é uma república das bananas”. Enfim, agosto se aproxima, mas ao que parece já fica desde já postergado aquele encontro entre os presidentes dos poderes, incluindo claro o presidente da República, adiado por conta da internação de Bolsonaro num hospital paulista. Falar o quê num encontro desse? Melhor deixar que as urnas falem em 2022 e que não diga mais – nunca mais – que as urnas eletrônicas são passíveis de violações. Esse assunto morreu, por absoluta falta de provas de quem parece temer uma derrota e já começa a querer melar o jogo com antecedência.
Foto: Isac Nóbrega/PR