Por G1
Apontado como agente duplo durante o regime militar, José Anselmo dos Santos, conhecido também como cabo Anselmo, morreu aos 81 anos na noite de terça-feira (15), em decorrência de um mal súbito, em Jundiaí (SP). Porém, conforme apurado pelo g1, ele foi enterrado como Alexandre da Silva Montenegro, nome registrado na capital de São Paulo, em agosto de 1973.
Ainda conforme a apuração, o paciente deu entrada no hospital no dia 28 de fevereiro. O Hospital de Caridade São Vicente de Paulo confirmou que prestou atendimento ao paciente Alexandre da Silva, que morreu 15 dias depois na unidade. A causa, segundo pessoas próximas a ele, foi por mal súbito.
O RG apresentado em nome de Alexandre foi expedido em dezembro de 2007 e tinha como nascimento a data de 10 de fevereiro de 1945, em Belém de São Francisco (PE). A certidão de nascimento foi registrada no cartório do Bom Retiro, na capital de São Paulo, em 1973.
Já o registro do “cabo Anselmo”, segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é de que ele nasceu em Sergipe no dia 13 de fevereiro de 1941.
Em Jundiaí, consta em nome de Alexandre a absolvição de um homicídio e lesão corporal pela 2ª Vara Criminal em 1979. Atualmente, ele morava em um sítio, na Zona Rural de Jundiaí.
O enterro do corpo registrado como Alexandre foi realizado no Cemitério Municipal Nossa Senhora do Montenegro, na quarta-feira, 16h. No registro do velório municipal consta que ele era solteiro. O g1 esteve no cemitério nesta manhã e verificou que não havia sido instalada placa de identificação. No local foram deixados alguns vasos de flores.
Cabo Anselmo
Ainda criança, cabo Anselmo e a mãe foram morar no Rio de Janeiro (RJ), onde ele ficou conhecido por frequentar programas radiofônicos de auditório.
Uma reportagem do Jornal da Globo em 2004 detalhou que cabo Anselmo fez treinamento de guerrilha em Cuba, foi preso ao voltar ao Brasil e passou a colaborar com o regime militar. Ele atuava como espião infiltrado nos movimentos de esquerda e levou muitos militantes de esquerda à tortura e à morte.
Anselmo esteve na clandestinidade desde os anos 70 depois de passar por uma cirurgia plástica para não ser reconhecido.
Em maio de 2012, a Comissão de Anistia negou um pedido de indenização feito pelo cabo Anselmo. O ex-marinheiro pediu reparação de R$ 100 mil por ter sido supostamente preso e perseguido pela ditadura.
O colegiado acompanhou o relator do processo, Nilmário Miranda, que levantou a tese de que cabo Anselmo era um agente infiltrado nos grupos militantes de esquerda. Ele votou pelo indeferimento do pedido de indenização e de anistia política.
Cabo Anselmo alegou ter sido perseguido por atuar contra o regime nos anos 1960. Após sua prisão, em 1971, ele passou a colaborar com os militares, inclusive delatando antigos companheiros da luta armada. Ele alega que colaborou para não ser morto. Durante o julgamento, o advogado sustentou que ele foi perseguido pelos militares e falou apenas sob ameaça.
Foto: Reprodução – JF Diorio/Estadão Conteúdo/Arquivo