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Café mais caro? Clima e consumo elevado impulsionam preços A Abic estima que a safra deste ano pode contribuir para a estabilização dos preços.

6 de fevereiro de 2025, 10h29 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O preço do café deve continuar em alta nas próximas semanas, ao menos até o início da colheita da safra deste ano, prevista para abril ou maio. A informação é da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). O principal fator por trás da elevação nos preços são as condições climáticas, que impactam diretamente a produção do grão. Além disso, o aumento do consumo global e a entrada da China como novo mercado consumidor também contribuem para essa tendência.

De acordo com a entidade, essa pressão sobre os preços deve persistir por mais dois ou três meses. Depois disso, espera-se um período de estabilização. No entanto, uma redução significativa nos valores só deve ocorrer a partir da safra do próximo ano, segundo as estimativas da associação.

A alta nos preços do café já vem sendo observada desde novembro do ano passado. Esse fenômeno não se restringe ao Brasil, maior exportador mundial do produto, responsável por quase 40% da produção global, seguido pelo Vietnã (cerca de 17%) e pela Colômbia.

Produção e Impacto Climático

Em 2020, a safra brasileira atingiu recordes, mas os anos seguintes foram marcados por dificuldades, principalmente devido às adversidades climáticas. Em 2021, uma geada comprometeu cerca de 20% da produção de café arábica. Em 2022, a recuperação não foi possível, pois a lavoura normalmente leva dois anos para se restabelecer, segundo a Abic.

Já em 2023, os cafezais foram afetados pelo fenômeno El Niño, que trouxe estiagem prolongada e temperaturas elevadas. No ano passado, por sua vez, o La Niña provocou chuvas intensas e prolongadas, impactando negativamente a lavoura.

“Esse cenário foi bastante prejudicial para a produção”, afirmou o presidente da Abic, Pavel Cardoso, destacando que a safra deste ano será ligeiramente menor que a anterior. “A soma de quatro anos consecutivos de desafios climáticos, aliada ao crescimento da demanda global, justifica a elevação dos preços do café”, explicou.

Com esses desafios, os produtores tiveram que aumentar os investimentos para manter a produção, elevando o custo da matéria-prima. A indústria, conforme informado pela Abic, enfrentou aumentos superiores a 200%, repassando cerca de 38% desse custo ao consumidor.

A valorização da commodity nas bolsas internacionais também impacta o mercado. Na Bolsa de Nova York, os contratos futuros de café arábica atingiram recordes históricos, chegando a US$ 3,97 por libra-peso. “Essa alta histórica se deve, em parte, à oferta reduzida e à especulação dos fundos de investimento, o que levanta reflexões sobre os impactos para todo o setor”, comentou Cardoso. “A escalada de preços vai desacelerar, mas ainda não sabemos quando”, concluiu.

Perspectivas e Estimativas

A Abic projeta que a colheita da nova safra, prevista para abril, contribuirá para a estabilização dos preços. O setor tem grandes expectativas para a safra de 2025, que pode superar o recorde de 2020, ampliando a oferta e reduzindo os valores do produto. Até lá, os consumidores ainda devem enfrentar preços elevados, já que a indústria continua repassando parte dos custos.

“A volatilidade nos preços deve continuar até a chegada da safra. A partir desse ponto, acreditamos que haverá uma estabilização gradual. Para 2026, esperamos uma grande safra, possivelmente maior que a de 2020”, afirmou Cardoso.

Ele também ressaltou que os consumidores ainda podem sentir aumentos nos preços, uma vez que a indústria enfrentou aumentos de custo superiores a 180%, repassando 37% disso ao varejo. “Parte desse reajuste ainda será absorvida pelos mercados e, consequentemente, pelos consumidores”, explicou.

Dados do Setor

O consumo de café no Brasil cresceu 1,11% entre novembro de 2023 e outubro de 2024, em comparação ao ano anterior, conforme dados da Abic divulgados nesta quarta-feira (5). O país, além de ser o maior produtor e exportador de café, ocupa a segunda posição no ranking de consumo global, totalizando 21,916 milhões de sacas em 2024. Esse volume representa 4,1 milhões de sacas a menos do que o consumo dos Estados Unidos, líder do mercado.

O faturamento da indústria de café torrado no mercado interno foi de R$ 36,82 bilhões no ano passado, um aumento de 60,85% em relação a 2023. Esse crescimento se deve, em grande parte, à elevação dos preços nas prateleiras. No mercado externo, o faturamento foi de R$ 134 milhões.

Os cafés especiais registraram um aumento de 9,80% entre janeiro e dezembro de 2024. Já os cafés Gourmets tiveram alta de 16,17%; os Superiores, de 34,38%; e os Tradicionais e Extrafortes, de 39,36%. Os cafés em cápsula também ficaram mais caros, com um aumento de 2,07%.

Nos últimos quatro anos, o custo da matéria-prima subiu 224%, enquanto o preço do café no varejo aumentou 110%. Em 2024, a variação de preço do café torrado e moído foi de 37,4%, um aumento superior à média da cesta básica, que ficou em 2,7%.

Foto: Alexandre Soares/Emater-MG

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