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Chile enterra a Constituição de Pinochet em plebiscito Votos a favor de novo texto constitucional chegam a 78,2%, com quase 100% das urnas apuradas.

26 de outubro de 2020, 17h13 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Os chilenos foram às urnas neste domingo (25), e votaram a favor da elaboração de uma nova Carta Magna, e para superar a herança mais pesada de Augusto Pinochet, a Constituição vigente. Os cidadãos aceitaram a oferta das instituições políticas de iniciar um caminho constituinte para canalizar o descontentamento, que explodiu em forma de protesto e violência há exatamente um ano, em outubro de 2019.

Os primeiros resultados oficiais, com 90% das urnas apuradas, confirmam uma vitória esmagadora daqueles que querem mudar a carta fundamental: 78%, contra 22% que rejeitaram a ideia de substituí-la.

Logo após o fechamento das urnas, centenas de manifestantes voltaram à Praça Itália, em Santiago. O local se tornou um símbolo dos protestos que tomaram o Chile em 2019 e que levaram à proposta de uma nova Constituição (leia mais sobre as manifestações no Chile no fim da reportagem).

Com a decisão deste domingo, os chilenos devem escolher quem comporá a comissão constituinte. Depois que o novo texto for debatido e aprovado por esse grupo, outro plebiscito — provavelmente em 2022 — decidirá se o Chile adotará ou não a nova Constituição.

Em pronunciamento, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, elogiou o processo eleitoral. “Hoje, triunfaram a cidadania, a democracia e a paz sobre a violência”, afirmou.

Logo no início da apuração dos votos, a classe política chilena já reconhecia a vitória dos votos favoráveis ao novo texto constitucional. O senador Juan Antonio Coloma, que capitaneava a campanha contra a mudança de Constituição, admitiu derrota apenas 50 minutos depois do fechamento das urnas.

A atual Constituição data da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), mas sofreu emendas e modificações que a tornam bem diferente do texto formatado pelos militares décadas atrás.

Protestos no Chile

A proposta de uma nova Constituição surgiu depois que protestos se espalharam por todo o Chile em outubro de 2019. Manifestações que começaram como um descontentamento pelo aumento no preço da passagem de metrô logo se transformaram em uma revolta generalizada com a classe política chilena.

Com os protestos e a violência policial, a popularidade de Piñera despencou. O presidente, então, propôs medidas paliativas para lidar com os manifestantes, até que os pedidos por uma nova Constituição tomaram corpo. Assim, com apoio do Parlamento, o Chile decidiu fazer um plebiscito para decidir se muda a Carta Magna.

A votação estava prevista para o primeiro semestre, mas a pandemia do novo coronavírus levou ao adiamento do pleito. Eleitores tiveram de usar máscaras e levar as próprias canetas para votar, como medidas de prevenção.

Mesmo com a pandemia e com a decisão de se fazer um plebiscito, os movimentos sociais no Chile não retrocederam — inclusive com cenas de violência e depredação. Na semana passada, o incêndio de uma igreja em Santiago causou revolta no país, mesmo entre apoiadores dos protestos e de uma nova Constituição.

Foto: Ivan Alvarado/Reuters

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