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Colégio de BH anula prova com texto crítico a Bolsonaro e alunos fazem protesto Pais reclamaram de conteúdo partidário em uma prova do ensino médio do Colégio Loyola, em Belo Horizonte, e a escola anulou o exame.

10 de outubro de 2019, 19h30 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

Em meio a votação na Câmara Municipal do projeto “escola sem partido”, o Colégio Loyola, localizado no bairro Cidade Jardim, região sul de Belo Horizonte, anulou uma prova de Língua Portuguesa que continha um texto com conteúdo crítico em relação ao presidente Jair Bolsonaro, de autoria de Gregório Duvivier.

A avaliação de Língua Portuguesa do 2º ano do ensino médio, foi cancelada após um grupo de pais de alunos enviar uma carta ao diretor da escola, reclamando do fato da prova conter uma crônica do ator e escritor Gregório Duvivier, com críticas ao presidente.

Por meio do Twitter, Gregório disse sentir muito pelos professores e alunos da escola e se colocou a disposição de fazer uma roda de conversa sobre crônicas e censura.

Alunos do colégio emitiram uma nota de repúdio à decisão da diretoria, alegando que o texto presente na prova ia de acordo com as diretrizes da disciplina, que ao longo do ano trabalhou diferentes gêneros textuais, como artigos de opinião, crônicas e resenhas.

O documento já está com mais de 450 assinaturas, contando com estudantes e ex-alunos da instituição. “Uau! 450 alunos e ex-alunos do Loyola escreveram essa carta de repúdio. Obrigado mesmo. A escola já deve ter sido muito bacana pra formar tanta gente crítica. Sinto muito”, postou o ator ao saber da carta. Ele, inclusive, avisou aos alunos que estará na capital mineira nos primeiros dias de novembro e disse que gostaria de encontrar os alunos.

Duvivier aponta no artigo que o governo de Bolsonaro é um “gatilho poderoso para a depressão” e que o presidente “parece eleito pela indústria farmacêutica para vender antidepressivo”. Também afirma que “se tivesse votado nesse governo contra a corrupção estaria comprando um chicotinho da Opus Dei e passaria dias me mutilando em praça pública”.

Confira a nota de repúdio dos estudantes, com exceção das 450 assinaturas:

“Promover educação de excelência, inspirada nos valores cristãos e inacianos, contribuindo para a formação de cidadãos competentes, conscientes, compassivos, criativos e comprometidos.” Eis a missão da Rede Jesuíta de Educação.

Ao longo de nossas trajetórias de formação no Colégio Loyola, sempre escutamos que esses valores deveriam ser nossos guias: o caminho rumo a uma educação humana e consciente, que vai de acordo com os princípios jesuítas e com a noção de cidadania global. Uma formação integral, que nos prepara, sim, para o mercado de trabalho, mas que também desenvolve em nós a empatia, o discernimento e o senso de responsabilidade social, formando cidadãos ativos que exercem a liderança inaciana no cotidiano.

Para atingir tais objetivos, o Colégio Loyola nos proporcionou o acesso a um amplo número de atividades voltadas ao nosso desenvolvimento psicossocial, desde o Ensino Fundamental até a terceira série do Ensino Médio. Entre elas, destacam-se os voluntariados educativos, os retiros espirituais e os projetos de série, que visam, todos, promover o senso crítico e a sensibilidade inaciana. Isso, alinhado à presença de um corpo docente extremamente qualificado e diversificado, garante a formação de excelência, preconizada pela filosofia jesuíta.

Não obstante, esses valores aparentam não ser bem compreendidos por algumas famílias da comunidade Loyola, que parecem ver, na pluralidade, uma ameaça à qualidade de ensino, tão prezada pela instituição, e aos valores pessoais dos alunos, aparentemente frágeis e manipuláveis. Esse tipo de pensamento, retrógrado e conservador, foi uma alavanca para o episódio que ocorreu no começo da semana, envolvendo um dos docentes da instituição.

Na última segunda-feira, dia 7, os alunos da segunda série do Ensino Médio realizaram a penúltima avaliação da disciplina de Língua Portuguesa. O teste, que conta com sete questões de múltipla-escolha e três discursivas, foi alvo de críticas não apenas de algumas famílias, como de pessoas mal-intencionadas, que disseram encontrar, em um dos textos presentes na avaliação, uma suposta tentativa de “doutrinação marxista”. Entretanto, esses indivíduos, que criticam essa suposta “massa de manobra”, estão claramente mal informados a respeito do episódio, e tentam perpetuar, de forma antiética e imoral, uma evidente perseguição político-partidária.

Deve-se destacar, aqui, que o texto apresentado ia de acordo às diretrizes da disciplina de Língua Portuguesa, que, ao longo de todo o ano letivo, trabalhou, em sala de aula, os diferentes gêneros textuais, como artigos de opinião, crônicas e resenhas. No terceiro trimestre, inclusive, as aulas foram destinadas aos textos humorísticos e aos recursos utilizados pelos autores para o desenvolvimento do humor. Logo, o texto de Gregório Duvivier, selecionado pela professora, em nenhum momento visa à doutrinação dos estudantes, muito menos à propagação de ideologias político-partidárias.

Ademais, é importante destacar que, das quatro questões referentes ao texto, uma é relacionada à colocação pronominal, e as outras três à estrutura característica dos textos de humor. Portanto, nenhuma das questões da avaliação exige posicionamento político dos alunos. Não há teor ideológico em nenhum dos exercícios propostos.
Dessa forma, as críticas feitas, tanto pelos pais, quanto por movimentos políticos nas redes sociais, são completamente infundadas. Não houve qualquer tipo de intenção de manipulação política na elaboração da avaliação, tanto por parte do docente, quanto por parte do Colégio.
Além disso, a avaliação não foi destinada a crianças, como muitos pais insistiram, e sim a jovens de dezessete anos, que já possuem discernimento suficiente para compreender a pluralidade política de uma democracia. Essas críticas subestimam nossa autonomia e senso-crítico, e partem do pressuposto que um único texto, com menos de 30 linhas, seria capaz de moldar nossa opinião, supostamente ingênua e infundamentada.

Em último lugar, urge destacar que a diversidade de ideias, tão cara ao Colégio, é característica fundamental do Estado Democrático de Direito, e, portanto, deve ser defendida. Nós, enquanto alunos e antigos alunos do Colégio Loyola, ressaltamos o nosso compromisso com a pluralidade de ensino, com a autonomia dos professores e com a defesa da liberdade de expressão. Dessa forma, repudiamos os ataques direcionados ao corpo docente do Colégio, assim como a propagação de informações equivocadas a respeito do ocorrido. Contestamos, também, o posicionamento adotado pelo Colégio ao anular a avaliação e, assim, ameaçar a autonomia dos professores em sala de aula.

Esperamos, enquanto parte da comunidade Loyola, que a autoridade dos professores seja respeitada e que os princípios inacianos, tão caros à instituição, continuem sendo defendidos, independentemente do contexto político no qual o Brasil se encontra.

Procurado, o Colégio Loyola emitiu uma nota informando que “está ciente dos questionamentos apresentados por parte das famílias da comunidade escolar. Está procedendo com o levantamento de informações sobre o contexto da aplicação dessa atividade, para tomada de providências cabíveis. Informou também que a avaliação está anulada e a Coordenação Pedagógica da 2ª Série EM orientará alunos e famílias sobre os procedimentos que serão adotados, garantindo o não prejuízo acadêmico a todos os alunos; Tratará internamente as questões relativas à gestão de processos e equipes” Ainda de acordo com a nota, para orientação do trabalho docente nas séries, o colégio possui como diretriz o documento denominado “Abordagem de Temas Transversais para formação integral inaciana na escola básica”. Esse documento tem como objetivo nortear o trato adequado de conteúdos em sala de aula, resguardando a qualidade acadêmico-pedagógica para além de qualquer posicionamento político e/ou ideológico; Reafirma seu posicionamento apartidário para condução do processo educativo; Mantém-se aberto ao diálogo com as famílias e pessoas que integram a comunidade escolar, ressaltando, para isso, que o canal de Comunicação institucionalizado para trato das questões acadêmico-pedagógicas permanece sendo a Coordenação Pedagógica de Série e ressalta a seriedade da Proposta Pedagógica da escola e o compromisso de oferecer uma educação de excelência, pautada nos valores inacianos e cristãos.”

Questão do exame censurada:

Foto: Reprodução/Greg News/HBO

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1 comentário

Fátima Delazeri 13 de outubro de 2019 - 23:58h

Corretamente agiu a família dos alunos, tivemos quase duas décadas de PT, no poder que saquearam os cofres Públicos , e destruindo a base da familia quando temos um Presidente que se preocupa com nossas criancas e jovens, a criticas porque houve inversão de valores, porque esse mesmo autor não colocou que o Lula acabou com nosso Brasil e o atual Presidente Bolsonaro está tentando recontruir nosso país , e tambem acredito que deveria de constar nesse texto Petista o nome da Ex Presidente Dilma Rossof estocadora de vento se isso é possível, e uma vergonha que existem pessoas esclarecidas, e tão ignorantes ao mesmo tempo, a inversão de valores e gritante, e vergonhosa, parabenizo os país que tiveram coragem de reclamar e exigir que o texto fosse excluído e o coreto que o autor do mesmo seja punido, so com o rigor da lei que vamos consertar esse país !!!

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