Por UOL
A política brasiliense parece influenciada pela era dos eventos climáticos extremos. Na semana passada, choveu canivete na Praça dos Três Poderes. Senado, Supremo e Planalto respiravam uma atmosfera de fim de mundo. Nesta segunda-feira, ao confirmar as indicações de Flávio Dino para a Suprema Corte e de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República, Lula refrigerou o clima. O Apocalipse virou confraternização.
Antes irritados com a passividade do governo diante do avanço no Senado de uma pauta anti-Supremo, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes dedicam-se agora a aplaudir Lula. Dino e, sobretudo, Gonet eram os nomes prediletos da dupla de ministros mais influentes da Suprema Corte. Para afagar Moraes e Gilmar, Lula impôs uma dupla derrota ao seu próprio partido. O PT tinha outros candidatos.
Criticados por converter a agenda bolsonarista de ataques ao Supremo numa prioridade legislativa, Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre associaram-se a Lula no esforço para aprovar as indicações antes do Natal. A dupla jantou com Lula no domingo.
Presidente da comissão responsável por sabatinar Dino e Gonet, Alcolumbre comprometeu-se a apressar o passo. Chefe do Senado, Pacheco prometeu levar os nomes ao plenário no mesmo dia. Ambos tranquilizaram Lula quanto à aprovação.
Líder de Lula no Senado, Jaques Wagner ainda se recupera das cotoveladas que recebeu por ter votado a favor da PEC que limitou as liminares monocráticas de ministros do Supremo. Mas, de repente, a esquisitice do voto ganhou uma súbita serventia. No melhor estilo uma mão suja a outra, Wagner credenciou-se para articular a aprovação de Dino e Gonet inclusive junto à ala bolsonarista do Senado.
Além de adiar o fim do mundo, Lula está na bica de plantar no Supremo um articulador dos interesses do seu governo e, na Procuradoria, um personagem tão moderado que foi cogitado para o posto pelo próprio Bolsonaro.
Dino levará para a Suprema Corte uma mistura da experiência jurídica de um ex-juiz com a mandinga de um politico experimentado. Gonet imprimirá na chefia do Ministério Público as marcas de um religioso contrário às liberalidades da esquerda nos costumes e de um procurador avesso a pirotecnias que perturbem a governabilidade.
Foto: Secom/PR