Por Metrópoles
É possível que no domingo o presidente Jair Bolsonaro tenha se empanturrado de frango e farofa numa calçada de Brasília para compensar o aborrecimento que teria no dia seguinte.
Na madrugada de hoje, ele já pode ler nas redes sociais a manchete de capa do jornal Folha de S. Paulo: “Militares obedecerão a Lula ou qualquer outro, diz líder da FAB”.
A manchete é um sinal dos tempos que vivemos desde que os chefes militares da época ajudaram Bolsonaro a se eleger. Bolsonaro retribuiu enchendo seu governo de militares.
Nem durante os 21 anos da ditadura de 1964, o governo foi tão militarizado como agora. São mais de 6 mil fardados em cargos que antes eram reservados a civis.
Bolsonaro é militar da reserva, por sinal um mal militar, segundo disse Ernesto Geisel, o terceiro general-presidente da ditadura. O vice é também, e Bolsonaro pensa em outro para vice.
Os três atuais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica ascenderam aos seus cargos quando Bolsonaro forçou a saída no ano passado do general Edson Leal Pujol, comandante do Exército.
O presidente gostava do general Eduardo Villas Bôas, que antecedeu Pujol; devia-lhe favores. Mas não gostava da distância que Pujol mantinha dele; queria um Exército para chamar de seu.
Pensou ter encontrado quando o general Paulo Sérgio de Oliveira sucedeu Pujol. Na ocasião, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, com fama de bolsonarista, assumiu a Aeronáutica.
O que ele disse à Folha talvez não merecesse uma nota de pé de página não fosse este um ano eleitoral e Lula não liderasse as pesquisas de intenção de voto, com Bolsonaro muito atrás.
Não significa que os militares começam a abandonar Bolsonaro, mas indica que eles não querem que a política partidária arrombe de vez a porta dos quartéis. A ser assim, é um bom sinal.
Os que prezam a democracia agradecem, embora não passe de obrigação dos militares manterem-se longe da política.
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles