O presidente Jair Bolsonaro comete no mínimo dois enganos aos nomear o seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Primeiro, porque o deputado é visivelmente despreparado para ocupar a mais importante embaixada brasileira em todo o mundo. Segundo, porque comete erro maior quando compara a indicação do filho à do ex-deputado Tildem Santiago embaixador em Cuba, pelo então presidente Lula – e ao citar essa nomeação o presidente ideologiza novamente a questão, coisa aliás que Bolsonaro insiste em fazer, embora diga sempre que é preciso desideologizar o governo.
Ora, a indicação de Tildem Santigo, como concorda o presidente, só poderia ser um ato político, até porque o ex-deputado não é do corpo diplomático. E onde está o erro entre um ato e outro – ou seja a nomeação de tildem e a do deputado Eduardo? Simples: Lula não é pai de Eduardo. Este, aliás, o erro capital do presidente, a despeito do reconhecido despreparo do seu filho e do desrespeito aos quase dois milhões de eleitores que votaram no deputado por que ele é filho do presidente Bolsonaro e certamente poderia estar na linha de frente na defesa do pai que enfrenta e vai continuar enfrentando um governo de dificuldades.
Bolsonaro poderia citar também o ex-presidente Itamar Franco, nomeado por Fernando Henrique para uma embaixada em Lisboa. Mas não o fez porque, na sua visão ideologizada, teria sido mais adequado citar um ex-deputado do PT nomeado embaixador em Cuba – e olha o que é ser embaixador em Cuba e ser embaixador nos Estados Unidos – por um presidente do PT. Por que não ter citado Itamar Franco? Por que Itamar não era do PT, como Tildem e como Lula. É evidente que o presidente, a despeito do descalabro da indicação, coisa jamais vista na história da diplomacia brasileira – o pai nomear o filho embaixador – tem poderes para tanto, restando ao Senado aprovar ou não a indicação. O presidente cometeu outro engano ontem ao justificar a indicação de Eduardo Bolsonaro com a nomeação do chanceler Ernesto Araújo ao dizer que pode exonerar o chefe da diplomacia brasileira a hora que quiser: claro, Ernesto Araújo é diplomata de carreira e assim como foi nomeado pode ser demitido. O filho, não. Antes de tomar posse em Washington ele precisa passar pela sabatina no Senado e lá tomar bomba – o que não aconteceu com Ernesto Araújo, merecedor apenas de uma publicação no Diário Oficial. São coisas diferentes, mas que parecem semelhantes para o presidente da República. Para arrematar, defensores da indicação já começam a articular para que a votação seja aberta. Ora, a votação é sempre secreta. Mas sendo aberta, quem votar contra sofrerá certamente a ira do pai que teve o filho reprovado.