O presidente Jair Bolsonaro estar passando um fim de semana com tudo o que não queria. Bate boca com a imprensa, um editorial do Jornal Nacional, uma resposta zangada da cantora Alcione, carta de governadores do Nordeste exigindo retratação pelo áudio vazado em que ele os trata de “paraíbas”, enfim, tudo o que um presidente da República não queria. Não queria, em termos, por que na verdade estou me convencendo de que tudo isso é o que o presidente mais quer.
Começo a imaginar que tudo isso é o que Bolsonaro mais quer. Lembro-me de um ex-governador de Minas que gostava de polemizar. Por qualquer coisa ele procurava a imprensa e levantava uma tese polêmica. Os jornais abriam manchetes e bem ou mal ele continuava na mídia – mais digamos mal do que bem. Mas ele parecia acreditar naquela história “falem mal, mas falem de mim”. Assim me parece ser o presidente Bolsonaro, dada a forma como ele procura a imprensa, como a provoca, e como gosta de polemizar.
Não veem o que ele faz com o filho Eduardo? Vai fazer do deputado um embaixador, se o Senado não vetar a indicação – coisa em que não acredito. E a história dos 40 por cento do FGTS? Será que o presidente não consegue avaliar o que isso significa para o futuro desempregado? Levantou a hipótese e depois recuou, diante do caos que poderia provocar na indústria da construção civil – que praticamente vive desse dinheiro!
E os ataques aos governadores e aos nordestinos? Tudo bem que foi um áudio vazado, mas isso não quer dizer que ele não tenha dito e que não pense assim. Tanto é que para pegar menos pesado concentrou suas críticas no alvo do áudio vazado, no governador Dino,do Maranhão, esquecendo de que ele não governa para o governador, mas para todo o Maranhão, daí a resposta da cantora Alcione e a reação dos nordestinos que foram tratados de “paraiba”, um termo jocoso, desrespeitoso por que é este o modo como os cariocas de modo geral chamam os que nasceram no Nordeste e se mudaram para o Rio de Janeiro para trabalhar como mão de obra de baixo custo.
De maneira que estou me convencendo de que Bolsonaro gosta de uma polêmica, a menos que seja tão rude que não consiga distinguir uma coisa da outra. Outro dia ouvi alguém dizer que Bolsonaro é assim porque ele acredita nessas coisas que ele defende – ou seja – que ele tem uma crença e que acredita nessa crença. É possível. Por isso é que estou me convencendo de que o presidente é isso mesmo e que não vai mudar, até por que é cercado por uma meia-dúzia ou mais de áulicos que o aplaudem por qualquer coisa que diga – por mais absurda que seja, como essa mentira sobre a jornalista Miriam Leitão, história inventada e desnecessária, até por que um assunto menor para um presidente da República. Ou é isso, ou seja, Bolsonaro acredita nas crenças ou não sabe o que fala. Prefiro a primeira hipótese. Mas a segunda também não é descartável.