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Comentário da noite

6 de junho de 2020, 19h46 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Mas afinal o que pretende o presidente Jair Bolsonaro com essa alquimia sobre a pandemia que assola o Brasil e o Mundo? Será que esconder os números supostamente reais do jornal televisivo de maior audiência do país – o Jornal Nacional, da Rede Globo – vai tornar menor a pandemia do coronavírus? E a manipulação de dados seria capaz de fazer a ressurreição dos mortos – mesmo com o Messias fazendo milagres? Ou o ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, está certo quando diz que a “manipulação de números é uma lealdade militar burra e genocida”. Afinal o que pretende o presidente Bolsonaro? Não é sequer razoável a explicação de que os números divulgados às dez da noite teriam maior credibilidade por que a essa hora já se teria a consolidação aritmética do transcorrer do dia, quando todos ouviram o presidente declarar que a estratégia era para tirar a audiência do Jornal Nacional em que pese ter ocorrido o contrário, com os números do JN explodindo dada a agilidade da Globo e furar os concorrentes para sair com os dados mais frescos.

É inacreditável a trapalhada do governo nesse caso do coronavírus. Começa com a troca de ministros em plena crise, Nelson Cheit substituindo a Henrique Mandetta, para depois ficar como titular do ministério o general Eduardo Pazuello, para concluir com duas batatadas sem tamanho: primeiro, fazendo o que tornam suspeitos os números que virão daqui por diante; segundo com essa ameaça esdrúxula de Bolsonaro de tirar o Brasil da Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas para copiar o presidente norte-americano Donald Trump, que retirou os Estados Unidos da OMS por puro capricho -assim como pensa fazer Bolsonaro ao acusar a Organização de ter uma atuação ideológica – logo Bolsonaro que não se cansou de copiar o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, às vezes até distorcendo o que dizia Tedros.

É possível que Bolsonaro não consiga fazer o que deseja – retardar a divulgação dos números, quem sabe manipulá-los e por fim escondê-los se isso for possível. Às vezes é. Ontem, por exemplo, o site da conceituada Universidade Johns Hopkins, que mapeia e faz um ranking do coronavírus no mundo inteiro, mostrou os números do Brasil “zerados” no meio da tarde. O país deveria aparecer como o segundo com mais casos, abaixo apenas dos Estados Unidos, mas está lá apenas como último da lista, num milagre próprio do Messias.

Não é razoável esconder os números da pandemia que já matou mais de 35 mil brasileiros até porque vem matando no mundo inteiro, em alguns lugares mais e em outros menos, de tal forma que o Poder Público não tem esse direito – sonegar informação do povo. Atento a essas manobras, típicas de ditaduras ( na década de 70 o governo militar proibiu notícias sobre um surto de meningite no Vale do Aço – Ps: eu sei porque não pude publicar ) o Tribunal de Contas está para decidir um horário, em torno das 18h, coligindo informações dos tribunais de contas estaduais, até porque esses dados estão disponíveis pelas secretarias estaduais de saúde, de forma que a população não fique à mercê da fraude que se tenta perpetrar contra o povo, no que poderá criar mais um crime de responsabilidade a ser atribuído ao presidente da República ou ao seu ministro da Saúde, um general que, no máximo, em se tratando de epidemia, deve ter tomado vacina contra a H1N1, mas que foi colocado lá onde está por capricho de Jair Messias Bolsonaro que discordou de Henrique Mandetta, que se recusou a receitar cloroquina para o pais, nem quis Nelson Teich, pela mesma razão. O Brasil, assim, vai pagar mais um mico, agora, em dimensões planetárias.

Foto: Claudio Reis/FramePhoto/Folhapress

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