Homem de negócios, tinhoso como quase todo comerciante que se dá bem pelo interiorzão de Minas, com mais de 400 lojas Eletrozema esparramadas por esse marzão de vales e montanhas, o governador Romeu Zema sabe com quem está lidando ao se propor a vender a Cemig e outros ativos que pertencem menos ao Estado do que ao povo de Minas Gerais. Mas mesmo assim está querendo vender o que sobrou daquele mundão de bancos que existiam em Minas, das empresas que compunham o corolário da economia mineira e enchiam o peito da mineirada que ia ao Rio de Janeiro ver as meninas em Copacabana. É certo que alguns tinham um jeitão meio interiorano, como o nosso Zema, mas faziam bonito na antiga “princesinha do mar”.
De forma que Zema sabe com quem está mexendo. E o faz certamente movido por dois sentimentos. O primeiro porque vem da iniciativa privada e tem ódio do Estado empreendedor; o segundo porque está afinado com a equipe econômica do governo que está no poder. Juntando as duas coisas, é tiro e queda. Mas seria bom que Zema mantivesse contatos mais amiúde com o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, aliás do mesmo partido do presidente Bolsonaro – PSC. E por que se pede que o governador Romeu Zema converse mais com o governador fluminense? Por que lá o plano de recuperação fiscal não está dando certo, como aliás profetizou o governador Witzel no início de seu governo, há seis meses. E olha que o Rio de Janeiro fez tudo o que a equipe econômica de Michel Temer queria: privatizaram o que tinham para privatizar, cortaram concursos, cortaram promoções, aumentaram a contribuição previdenciária do funcionalismo, enfim, não deixaram nada de fora. Exatamente como o governador Romeu Zema quer fazer aqui, com um detalhe: Zema não quer que a população seja ouvida em referendo, coisa que o então governador Itamar Franco, homem de espírito público dos maiores destas Minas, deixou como legado para os futuros governadores, entre eles Romeu Zema – esse Itamar!
Pois ontem, o governador Wilson Witzel jogou a tolha. Pediu, no barato, mais dois anos, pelo menos, para o Rio de Janeiro continuar sem pagar a dívida que tem com a União – e em nome da qual vendeu tudo o que tinha e arrochou o funcionalismo. O governador fluminense admitiu que não terá como pagar as suas dívidas a partir de 2020 e quer que o ministro Paulo Guedes, com quem se encontrou ontem, “alivie” para o Rio de Janeiro, pendurando essa conta por mais dois ou três anos no braço da viúva. Segundo o governador fluminense, a dívida do Rio com a União seria de R$13 bilhões – a de Minas sobe a mais de R$ 35 bi. E o Rio confessa que não tem como pagar – e já fez todo o dever de casa que o governo Temer exigiu.
Como já dito aqui, ontem, o governador Romeu Zema não deveria entrar nessa armadilha que armaram para o Rio de Janeiro. E deve reunir a sua bancada, qual seja, a bancada de Minas, para exigir um outro tratamento, já que o do Rio de Janeiro não está dando certo. Minas tem um crédito a receber da União, como aliás vem dizendo a publicidade da Assembleia Legislativa em boa hora, de forma que o governador deveria reunir a sua bancada – a publicidade da Assembleia é um indicativo de que o que ele quer não vai passar – e propor o encontro de contas entre o que Minas deve à União e o que a União deve a Minas. O Congresso deve mediar essa questão, já votada no Supremo Tribunal Federal, por que ela inclui o pacto federativo e Zema, bom comerciante como é, deve tirar Minas Gerais dessa fria por que ela não contempla os interesses do Estado, ainda que possa eventualmente fazer parte do ideário, quem sabe volátil, do governador. Zema, olha o que está acontecendo com o Rio de Janeiro. O governador de lá jogou a toalha ontem.
1 comentário
Muito bom!