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Condenação dos juros altos e da alta carga tributária O Brasil precisa se reconciliar com o crescimento e o desenvolvimento econômico

17 de março de 2022, 11h17 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Entrevista exclusiva, concedida em novembro de 2004, pelo empresário Robson Braga de Andrade (à época presidente da FIEMG-Federação das Indústrias de Minas Gerais) ainda parece vigorar para os dias atuais. Nela, ele já condenava a política de juros altos adotada pelo governo federal, considerando-a “lamentável e desestimulante”.

Robson Andrade já defendia a redução dos gastos públicos com os encargos da dívida pública e a retomada dos investimentos públicos na modernização e expansão da infraestrutura dopaís,a reduçãoda carga tributária que onera aproduçãoe mais crédito para as pequenas e médias empresas.

Atualmente,Robson Andrade é presidente da CNI – Confederação Nacionalda Indústria. E ele continua hoje defendendo consistentemente, os mesmos princípios e conceitos, como um empresário à frente de seu tempo.

Você se lembra daquela frase: “Se o Brasil não acabar com a saúva, a saúva acaba com o Brasil” do pesquisador francês Yves Saint-Hilaire, em 1800 e que mostrava que ele ficou espantado com a ação de formigas cortadeiras que destruíam árvores frondosas, além de arbustos, culturas, pastos e grama?

Desde o início deste século tenho contestado estas políticas monetárias adotadas pelo Brasil, denunciando-as através da publicação MercadoComum. E, nestas contestações, encontrei arcabouço técnico, em alguns anos mais recentes em vários artigos do renomado economista André Lara Resende, que reputo detentor de um dos melhores argumentos nesta mesma direção.

JK já afirmava: “Pretender solucionar a crise brasileira com remédios prescritos para o único fim de estabilidade, como se fôssemos uma terra exausta e um povo cansado, necessitados de equilibrar as poucas forças que ainda nos restassem é semelhante, malgrado as deformações que acarretam todas as analogias, ao intento de se tratarem as crises da puberdade com medicamentos destinados a mitigar a senectude.

Pois é, o COPOM – Conselho de Política Monetária do Banco Central acaba de decidir, neste 16 de março, por mais um aumento da taxa Selic de 1%, elevando-a para 11,75% ao ano e confirmando novamente o Brasil como detentor disparado da mais elevada taxa de juros real do mundo. Destaque: parcela expressiva do mercado financeiro já

estava trabalhando com a hipótese da Selic chegar ao final deste ano em 13,25% -cabendo salientar que o Relatório Focus do Bacen, desta segunda-feira 14 de março, já a projetava em 12,75%.

As estimativas apontam que, apenas com esse aumento, a decisão de agora do Bacen vai representar um acréscimo de R$ 69,98 bilhões (ou US$ 12,98 bilhões) adicionalmente nas despesas de pagamento de juros e encargos nominais sobre o estoque da dívida pública bruta brasileira consolidada. Enfim, trata-se de uma enorme subtração de recursos públicos, tão carentes à saúde, educação e à retomada de um novo ciclo de desenvolvimento econômico.

Vale ressaltar que a conta de juros acumulada em 2021 ficou em R$ 448,4 bilhões (5,2% do PIB) e o resultado nominal, das contas públicas, fechou deficitário em R$ 383,7 bilhões no acumulado dos 12 meses – equivalente a 4,4% do PIB.

Considero esse resultado uma verdadeira aberração praticada por uma política monetária suicida, sim, este seria o argumento para refutar tais decisões lamentáveis: lucros exorbitantes de uns poucos, em detrimento da maior parcela da sociedade.

Voltamos a um estado de economia caracteristicamente rentista! Uma verdade e realidade que precisam ser urgentemente ser rediscutidas e reavaliadas, porque ao longo destes quase 30 anos, desde que foram criadas, só levam o crescimento econômico para trás e para baixo, como rabo de cavalo, do que consideroe rotulo como uma situação de crise de raquitismo econômico.

A pergunta que precisa ser feita é: a quem interessa a manutenção desta política monetária, na contramão do resto do mundo e que subtrai do país todas as suas esperanças de um crescimento econômico, distante no mínimo, no acompanhamento da média do ritmo mundial?

As projeções,para este ano,apontam gastos de juros e encargos nominais sobre a dívida bruta pública consolidada brasileira (União, Estados e Municípios) no valor de R$ 657,87 bilhões – equivalentes a US$ 121,98 bilhões. Merece destacar que, em 2021, de acordo com o Portal da Transparência da Controladoria Geral da União, o país gastou com a Previdência Social R$ 740,27 bilhões, a Saúde R$ 161,94 bilhões e, com a Educação, R$ 96,05 bilhões. Pobre Brasil!

Entendo que se o Brasil não acabar com esta política de juros nefastos e estratosféricos, essa política vai acabar com o Brasil. Em vários países – principalmente entre os desenvolvidos e os Estados Unidos, a taxa básica de juros praticada tem sido praticamente negativa desde 2008, quandoocorreua Crise Financeira do Subprime. Nos Estados Unidos, desde 2021 e até hoje, a taxa básica de juros era de 0,25% ao ano, em que pese uma taxa anual de inflação de 7,1%. A partir de amanhã ela será elevada para 0,50% – e a expectativa é que ela alcance 1,87% no final de 2022 – mesmo com uma taxa de inflação estimada em 4,3% para este ano pelas autoridades monetárias do país.

O Brasil precisa resgatar a esperança e se reconciliar urgentemente com o crescimento econômico, robusto, consistente, contínuo e sustentável, com o desenvolvimento e a justiça social!

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira

Administrador, Economista e Bacharel em Ciências Contábeis. Presidente da ASSEMG-Associação dos Economistas de Minas Gerais. Ex-Presidente do BDMG e ex-Secretário de Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais; Ex-Presidente do IBEF Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento; Coordenador Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico e Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas. Presidente/Editor Geral de MERCADOCOMUM.

Foto: Getty Images

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