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Conheça aqui o drama e a história da construção de Furnas

2 de dezembro de 2020, 08h52 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Sobre as águas do reservatório da usina hidrelétrica de Furnas e a grana que os chineses faturam com elas graças a um contrato com o governo de São Paulo ‘abençoado’ pelo governo federal.

A formação do Lago de Furnas trouxe grande desenvolvimento para o país, mas por outro lado, o custo social e econômico para muitas cidades que ficam no seu entorno, prejuízos irreparáveis.

A Usina Hidrelétrica de Furnas que gerou o lago foi a primeira usina construída pela Empresa de Furnas da qual herdou o nome. A barragem está localizada no curso médio do rio Grande, no trecho denominado “Corredeiras das Furnas”, entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, em Minas Gerais.

Sua construção começou em julho de 1958, tendo a primeira unidade entrado em operação em setembro de 1963 e a sexta, em julho de 1965. No início da década de 70, foi iniciada sua ampliação para a instalação das sétima e oitava unidades, totalizando 1.216 MW, o que colocou a obra entre uma das maiores da América Latina.

Porque ela foi construída?

A localização privilegiada da usina (500 km do Rio de Janeiro, 400 km de São Paulo e 300 km de Belo Horizonte) permitiu que se evitasse, em meados da década de 60, um grande colapso energético no Brasil, evitando o racionamento e o corte no fornecimento de energia elétrica ao parque industrial brasileiro.

A potência prevista no início de sua construção correspondia a 1/3 do total instalado no Brasil. A Usina de Furnas, além de se constituir em um marco de instalação de grandes hidrelétricas no Brasil, possibilitou a regularização do rio Grande e a construção de mais oito usinas, aproveitando, integralmente, um potencial de mais de 6.000 MW instalados.

Por volta dos anos 50, depois do decreto nº. 41019 de fevereiro de 1957, estabelecido pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek, somente Guapé teria 206 quilômetros quadrados de suas terras inundadas para a construção da barragem de Furnas.

Com o fechamento das comportas da imensa represa em 09 de janeiro de 1963 as águas subiram rapidamente e o drama dos habitantes que viviam nas cidades e nas propriedades à sua orla foi registrado por reportagens, algumas premiadas, como as da revista “O Cruzeiro”.

No entanto, Guapé se tornou aos olhos do Brasil o exemplo mais trágico do sofrimento advindo da mudança drástica de vida de milhares de pessoas em 32 municípios da região sul e sudoeste de Mina Gerais.

Quando as águas começaram a subir, a cidade começou a ser inundada e a nova cidade que ainda não estava pronta, apenas prédios públicos e algumas casas estavam construídos.

O preço das indenizações pagas foi importo por Furnas e também não foi justo aos olhos dos seus habitantes.

Na época, até a escritora Rachel de Queiroz se sensibilizou com o drama em sua coluna de retratação dedicada ao povo de Guapé e publicada na revista “O Cruzeiro”, de 23 de fevereiro de 1963:

“Mas parece que a tragédia maior é a questão das desapropriações. Alegam que foi feito a preços baixos, tão baixos que não permitem aos forçados vendedores comprarem com aquele dinheiro casa ou sitio na cidade nova, onde os terrenos são objetos de medonha especulação. Afirmam que certo terreno, adquirido por dois milhões de cruzeiros, está sendo dividido em dois mil lotes, a preços que vão de 90 mil a 250 mil cruzeiros – numa media de 150 mil por lote – dando aos especuladores, nesse simples pedaço de terra um lucro de 298 milhões de cruzeiros”.

A chegada das águas

Em março de 1965, o lago de 1440 quilômetros quadrados estava completo. A área, formada pelos rios Grande e Sapucaí, era cinco vezes maior que a Baía de Guanabara.

Com o tempo, o gigantesco lago passou a controlar o funcionamento não apenas da hidrelétrica de Furnas, mas de outras oito hidrelétricas instaladas abaixo do rio Grande: Marechal Mascarenhas de Morais, Luiz Carlos Barreto, Porto Colômbia, Marimbondo, todas de Furnas, além de Igarapava, Jaguará e Volta Grande, das Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG) e Águas Vermelhas da CESP – Tietê.

Entretanto, o custo social e econômico para os municípios atingidos foi enorme, a população das cidade reduziu-se drasticamente.

As terras férteis dos vales dos rios Grande e Sapucaí foram perdidas sob o lago. Levados os cerrados, agricultores faliram por não conhecer tecnologias de adubação. Mas sem dúvida, o custo maior para o município foi a implosão repentina de sua sociedade.

Com o êxodo forçado de seus habitantes para Belo Horizonte e outras cidades, inclusive de outros estados, as cidade perderam muito de suas lideranças e profissionais graduados. Por anos não ocorreram casamentos nestas cidades. Os casos de suicídio, doenças cardíacas e loucura, de acordo com registros da época, aumentaram muito em toda a região dos alagamentos.

O desalento deste povo, clubes, escolas, bandas de música, ginásios, igrejas, cinemas a e muita tradição se acabaram . Com a inundação, muita gente foi embora, acabaram-se as festas e por muitas décadas os que ficaram ficaram tentando entender o que aconteceu e buscando uma forma de sobrevivência.

O estoque de água do grande lago de 1.440 quilômetros quadrados e resultante das bacias dos rios Grande e Sapucaí, é suficiente para tocar três hidroelétricas iguais à de Furnas. Portanto o lado é regulador. Dois terços de sua água pode ser mandado rio abaixo que a usina continua funcionando normalmente.

E é isso o que estão fazendo hoje.

O governo de São Paulo em concluio com a ONS e outros órgãos federais criou a hidrovia Tietê/Paraná que teve sua exploração licitada. Quem ganhou foi um consórcio liderado pela brasileira Andrade Gutierrez, mas lógico, com capital e portanto sócios chineses.

No contrato reza que a empresa tem que realizar o transporte principalmente Grãos(farelos e óleos vegetais de soja, trigo e milho), Sucro-alcooleiro (cana, açúcar e álcool), Petroquímico e Combustíveis, Insumos Agrícolas( calcário, fertilizantes e defensivos) Madeira e Celulose, além de areia e cascalho.

Em contrapartida o governo paulista tem que garantir o calado, ou seja, a quantidade de água necessária para a navegação das barcas gigantes sob pena de punição com multas altíssimas.

Vital para a logística de transporte de cargas do país, a navegação da Hidrovia Tietê Paraná, administrada pelo Departamento Hidroviário do Estado (DH), movimentou só em 2018, 9,7 milhões de toneladas de produtos, o que equivale a 277 mil carretas tipo bi-trem/ano. São cargas que deixam de ser transportadas pelas rodovias do Estado. O crescimento foi de 9% frente ao ano de 2017, quando o movimento chegou aos 8,9 milhões de toneladas.

É isso aí caros leitores de meus posts e de meus escritos no blog do Jotinha.

Usam nossa água para o “desenvolvimento do país” cuja demanda vai crescer mais e mais a cada ano. Presumo que jamais a represa de Furnas terá suas águas de volta.

As autoridades federais fizeram um acordo com o governo paulista dando aval para eles garantirem aos exploradores do transporte fluvial (chineses), a água necessária para o calado (altura da água) das imensas barcas.

Se quebrarem este contrato, aumentando a quantidade de água da represa de Furnas , ou seja, do Rio Grande, sofrerão pesadas multas porque há contratos de transporte e de entrega de milhões (MILHÕES) de toneladas de produtos.

Foto: Reprodução

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