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Covid-19: Um a cada 2 internados na UTI de hospitais de Minas morre Pesquisadoras da UFMG desenvolvem calculadora para médicos calcularem risco de morte dos pacientes desde a entrada no hospital

3 de fevereiro de 2021, 17h25 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

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Por O Tempo

Cerca de 20% das pessoas internadas por Covid-19 em Minas Gerais morrem. A taxa de mortalidade hospitalar mais que dobra e salta para 48,8% entre os pacientes que precisam ser encaminhados à UTI, sendo que quase dois a cada cinco requerem cuidado intensivo. As conclusões são de um estudo comandado por pesquisadoras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisa a progressão dos casos de uma amostra de 7.200 pacientes com a doença em 37 hospitais espalhados pelo Brasil, 19 deles em Minas.

Em outros pontos do Brasil, que incluem instituições em Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, a taxa de mortalidade hospitalar geral é levemente maior que a mineira, chegando a 22%, mas quase metade dos pacientes que necessitam de UTIs também morre. Na perspectiva da coordenadora do levantamento, a médica Milena Marcolino, os números do Brasil podem ficar ainda mais alarmantes na medida em que hospitais da região Norte, que inclui Manaus, aderirem ao projeto, o que não ocorreu até então.

“Esse número foi semelhante ao de estudos realizados no início da fase de sobrecarga na Espanha e na Itália, e muito superior a estudos nos EUA, Canadá, França, Japão e até a um país pobre na África, a República Democrática do Congo. Isso preocupa muito”, pontua a pesquisadora.

Outro ponto que chama atenção de Marcolino é a porcentagem de pessoas que necessitam de ventilação mecânica e morrem no país, taxa que toca em 60%. As estudiosas trabalham com a hipótese de que a indisponibilidade de aparelhos de qualidade para todas as regiões do país e a demanda acelerada por expansão de leitos tenha contribuído para esse cenário.

“Temos um relato de uma coordenadora de hospital que, quando mais leitos foram abertos, precisou treinar pessoas que nunca tinham trabalhado em UTI para tratar pacientes muito graves. Isso aconteceu em outros centros, e não só de UTI, mas na emergência. Profissionais que acabaram de se formar tiveram que ir para a linha de frente e substituir mais experientes que adoeceram”, completa Marcolino.

O estudo nota, ainda, que pacientes que chegam a hospitais públicos tendem a ter um histórico de maior incidência de comorbidades, porém o atendimento oferecidos nos hospitais avaliados teria conseguido equiparar a taxa de mortalidade nessas insitutições à dos hospitais privados. Ao mesmo tempo, ele atesta que idade e comorbidades interferem na progressão da doença: a mortalidade média de pacientes com pelo menos uma comorbidade no país é quase o triplo do que a de aqueles que não têm problemas de saúde associados ao risco.

UFMG desenvolve calculadora de risco de mortalidade por Covid-19 para médicos

Passados quase 11 meses desde os primeiros casos de Covid-19 no Brasil e em um cenário em que não existe tratamento precoce recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pesquisadores desenvolveram uma calculadora para auxiliar profissionais da saúde a definir o risco de morte dos pacientes admitidos nos hospitais.

Com base nos padrões observados no estudo sobre a taxa de mortalidade, eles organizaram um questionário online com sete parâmetros para serem avaliados pelo profissional — como idade do paciente, quantidade de comorbidades que ele apresenta e resultados de exames básicos. Com base nas respostas, a aplicação dá um score de zero a 20 para o risco. Quanto mais alto, maior deve ser a atenção à situação do paciente.

“Selecionamos características clínicas que podem ser avaliadas mais facilmente em hospitais com diferentes condições estruturais a partir de exames baratos que já são utilizados em pacientes com Covid-19”, destaca Marcolino.

A calculadora já pode ser acessada pelos profissionais da saúde e o grupo de pesquisa trabalha no desenvolvimento de uma versão impressa do aplicativo para facilitar o acesso a todos os tipos de instituição. Antes de poder ser utilizada amplamente pelo Ministério da Saúde ou pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), por exemplo, a versão final do estudo precisa ser revisada por outros estudiosos.

Uso de antibióticos no tratamento pode impulsionar resistência a medicamento, diz pesquisadora

Enquanto trabalham para a melhoria do tratamento, as pesquisadoras preocupam-se com alternativas que têm sido utilizadas para tratar os pacientes com Covid-19. O estudo inicial reporta que aproximadamente 87% dos pacientes hospitalizados receberam antibióticos. Esse tipo de medicação é utilizada no combate a bactérias, em geral, e não aos vírus. A classe inclui a azitromicina, que já foi cogitada como um medicamento contra o coronavírus, mas cuja eficácia não tem comprovação.

“Às vezes, esses remédios são utilizados em pacientes que chegam graves ao hospital e não se sabe se por Covid-19 ou doenças bacterianas ou fúngicas. Mas, a partir do momento em que se sabe que é Covid-19, esses medicamentos poderiam ser retirados. Mesmo pessoas que não são hospitalizadas têm recebido prescrição de azitromicina. Isso preocupa muito, porque, no futuro, as bactérias podem não responder mais a esses antibióticos”, conclui a médica Milena Marcolino.

O levantamento da UFMG foi publicado no final de janeiro na “Revista Internacional de Doenças infecciosas” e, além de pesquisadoras da Federal mineira, conta com estudiosos de outras universidade públicas do país e com a colaboração voluntária de hospitais. A coordenadora, Milena Marcolino, destaca o trabalho da professora Magda Pires, e dos acadêmicos Lucas Ramos e Rafael Silva, da UFMG, que conduziram as análises estatísticas.

Foto: Douglas Magno/AFP

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