Por G1
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apontou, durante reunião da CPI da Covid nesta quarta-feira (4), que o ex-assessor do Ministério da Saúde Marcelo Blanco e Luiz Dominghetti, cabo da PM que se dizia vendedor de vacinas, participaram de 108 ligações em um período de 30 dias.
Tenente-coronel da reserva, Blanco não negou os contatos, mas afirmou que as chamadas “seguramente” eram para “tratar do privado”. O ex-assessor já havia dito à CPI que conversava com intermediadores de vacina para negociar doses para o mercado privado.
“Em 30 dias, o senhor trocou 108 ligações com o senhor Dominghetti. Mais interessante: dessas 108 ligações, 64 foram de iniciativa sua. Ligava duas vezes por dia”, disse Alessandro Vieira.
“Seguramente para tratar do privado”, declarou Marcelo Blanco.
Durante o depoimento nesta quarta-feira, Blanco, que é coronel da reserva, disse várias vezes que a intenção dele, ao entrar em contato com intermediadores de vacinas, era negociar doses para o mercado privado.
Após citar as 108 ligações, Alessandro Vieira, então, questionou se, ao longo do período em que as chamadas ocorreram, Blanco não percebeu que estava tratando com um “estelionatário”.
“O senhor com a formação que tem, o senhor foi incapaz, em 64 ligações de sua iniciativa e mais 44 de iniciativa do senhor Dominghetti, de compreender que era um estelionatário?”, indagou Vieira.
“Naquele primeiro momento, não. Ao longo desse mês, aí, sim, a gente vai começando a perceber que a coisa não, que ele não tem os documentos que o Ministério precisava [que provariam que Dominghetti tinha vacinas para vender]”, respondeu o depoente.
Empresa de Blanco
Outro fato que chamou a atenção dos integrantes da CPI foi a mudança da configuração da empresa aberta por Blanco após a exoneração do Ministério da Saúde, em janeiro.
Inicialmente, a empresa atuaria no ramo de consultoria e educação financeira, segundo Marcelo Blanco. Em março, poucos dias após registrar o CNPJ, o coronel da reserva alterou a empresa para, entre outras áreas, atuar como representante de medicamentos.
“[Alterou] depois do chopinho, de negociar propina de US$ 1”, afirmou Simone Tebet (MDB-MS) em referência ao encontro em um restaurante em Brasília, no dia 25 de fevereiro, em que, segundo Dominghetti, houve um pedido de propina em cada dose que seria vendida ao governo.
Em depoimento, o PM disse que esse pedido de comissão partiu de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde. Marcelo Blanco estava no restaurante no dia e foi quem levou Dominghetti ao local.
Blanco negou que a alteração tenha tido relação com esse jantar e disse que não pretendia usar a nova empresa para negociar com o poder público. Alessandro Vieira, então, classificou Blanco como “cara de pau”, que “zomba da inteligência das pessoas”.
“O senhor participa, inclusive por iniciativa sua, de diversas reuniões, ligações com um bando de criminosos, estelionatários, que queriam receber uma vantagem financeira em uma negociata com o Ministério da Saúde, com o setor do qual o senhor [fazia] parte. Aí o senhor altera a configuração da sua empresa para adequá-la à negociata da qual o senhor estava participando”, declarou Vieira.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado