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Dados apontam maior destruição do Cerrado nos primeiros anos de Lula em comparação com Bolsonaro Os dados mostram que a perda de área no Cerrado foi menor nos dois primeiros anos de Bolsonaro do que no início do governo Lula. Em ambos os casos, o cenário é alarmante.

23 de março de 2025, 20h17 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O desmatamento no Cerrado seguiu em níveis alarmantes nos primeiros dois anos do governo Lula (PT), superando os índices registrados no mesmo período da administração de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma perdeu 7.848,01 km² de vegetação em 2023, primeiro ano da gestão petista, e foram emitidos 16.773 alertas pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Em 2024, a área devastada caiu para 5.901,21 km², porém o número de avisos subiu para 17.158.

No começo do governo Bolsonaro, os dados foram mais baixos. Em 2019, a área desmatada no Cerrado foi de 4.761,99 km², com 15.612 alertas. Já em 2020, houve uma nova redução, totalizando 4.400,18 km² de vegetação perdida e 10.803 avisos emitidos.

Foi apenas em 2022, último ano do governo anterior, que a devastação ultrapassou a marca de 5 mil km², atingindo 5.462,96 km².

Especialistas alertam para impactos ambientais
Em entrevista ao Metrópoles, o especialista em planejamento e gestão ambiental Raimundo Barbosa apontou que o aumento da destruição do Cerrado pode estar ligado à intensificação da fiscalização na Amazônia, tornando o bioma mais vulnerável.

“Houve um descuido em relação ao Cerrado, e isso pode ter contribuído para o crescimento dos números. Esse desmatamento é preocupante. O Cerrado já se encontra em um processo de degradação acelerada e, se nada for feito, corre o risco de desaparecer até 2030”, alertou Barbosa.

Ele também destacou que a expansão da agricultura, sobretudo do cultivo de soja, é um dos principais fatores para a perda de vegetação. “Se o Cerrado for extinto, enfrentaremos uma grave crise hídrica. Ele é o principal reservatório natural de água do país. O foco excessivo na Amazônia pode ter deixado o Cerrado em segundo plano, o que explica a alta do desmatamento. De qualquer forma, ambos os cenários são preocupantes”, avaliou.

Diversos fatores contribuem para o avanço da degradação ambiental, incluindo a expansão agropecuária, urbanização, exploração de recursos naturais e queimadas – estas, intensificadas tanto por ações humanas quanto pela seca prolongada.

O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, apontou que o Brasil atravessa a pior estiagem já registrada nos últimos anos. A única exceção foi o Rio Grande do Sul, que enfrentou uma enchente de grandes proporções em 2024.

Cenário para 2025
Os dados preliminares de 2025 indicam uma redução na destruição do Cerrado. Entre 1º de janeiro e 14 de março de 2024, foram devastados 1.250,87 km², enquanto, no mesmo período deste ano, o número caiu para 952,82 km².

A área desmatada até o momento equivale a mais do que as cidades de Goiânia (GO) e Recife (PE) somadas.

Os alertas emitidos pelo Deter indicam mudanças diárias na cobertura vegetal para áreas superiores a 3 hectares, mas os números são considerados provisórios. A medição oficial do desmatamento é feita pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite (Prodes), que tradicionalmente apresenta estatísticas mais detalhadas e abrangentes.

Segundo o Prodes, divulgado em novembro de 2024, o Cerrado perdeu 1.971,68 km² em 2023 e 723,24 km² no ano seguinte. Durante os primeiros dois anos da gestão Bolsonaro, os números foram menores: 714,89 km² em 2019 e 769,31 km² em 2020.

Desmatamento na Amazônia recua
Diferentemente do Cerrado, os índices de desmatamento na Amazônia apresentaram redução. Dados do Inpe mostram que fevereiro de 2025 registrou o menor número de alertas para o mês desde o início da série histórica, em 2016.

Conforme o painel TerraBrasilis, a área devastada na Amazônia Legal no último mês foi de 80,95 km², com a emissão de 196 avisos. Em anos anteriores, os números nunca haviam ficado abaixo de 100 km².

Em janeiro deste ano, o monitoramento apontou 179,8 km² de desmatamento, com 611 alertas. No acumulado de 2025, os dois primeiros meses somam 260,75 km² de área perdida. Na comparação com o mesmo período de 2024, quando a destruição alcançou 333,21 km², houve uma desaceleração no ritmo da degradação ambiental na região.

O Metrópoles entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima para comentar os dados, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

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