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Delegado da PF crítico do PT votará em Lula pela democracia e pelo combate à corrupção Jorge Pontes, que escreveu livro sobre casos de corrupção nos governos petistas, declarou voto em Lula no segundo turno

17 de outubro de 2022, 16h48 | Por Redação - Blog do Lindenberg

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Por metrópoles
O delegado da Polícia Federal Jorge Pontes, um dos autores do livro “Crime.Gov”, que narra uma série de casos de corrupção nos governos petistas, decidiu votar em Lula neste segundo turno. Em texto exclusivo para a coluna, Pontes descreveu sua escolha como uma decisão “humanística”, em defesa da democracia e contra o desmonte do sistema de combate à corrupção empreendido por Jair Bolsonaro.

“Bolsonaro, que se elegeu na onda moralizatória do combate à essa macrocriminalidade, acabou atuando como o próprio coveiro da Operação Lava Jato, criando um ambiente que a enfraqueceu e a sufocou”, escreveu Pontes, lembrando as trocas de diretores-gerais da PF, a escolha de Augusto Aras e dos ministros do STF Kassio Nunes Marques e André Mendonça.
Na visão do delegado, hoje aposentado da PF, o orçamento secreto seria a “quintessência da institucionalização da corrupção”, uma sofisticação do mensalão e petrolão.

“Trata-se de um grande retrocesso, isto é, uma sofisticação em relação aos esquemas do mensalão e petrolão, pois garantem a compra de apoio parlamentar, mas com a possibilidade de blindagem total do presidente”, afirmou.

Leia abaixo a íntegra do texto escrito por Pontes para a coluna.

“Durante quase todo o ano de 2021, uma grande parcela da população brasileira, na qual incluíam-se inúmeras personalidades e formadores de opinião, buscou uma candidatura de terceira via, isto é, um candidato moderado, estabelecido fora do divisionismo e da polarização que tomou conta da política no país. Eu fui um deles.
No final das contas, passado o primeiro turno da votação, confirmaram-se como as duas únicas forças eleitorais os candidatos Lula e Bolsonaro, não restando, por óbvio, outra alternativa aos brasileiros.

Diante do quadro atual, não há como evitarmos a escolha de um dos dois, seja pela ação de teclar um dos nomes na urna, ou mesmo pela omissão de votar em branco ou de anular o voto. Querendo ou não, estaremos escolhendo um dos dois.

Muitos leitores, amigos e colegas de profissão têm me perguntado como me posicionarei no 30 de outubro, mormente pelo fato de ter sido, junto com o delegado da PF Marcio Anselmo, um dos autores da “tese” da criminalidade institucionalizada, que foi esquadrinhada no nosso “Crime.Gov — quando corrupção e governo se misturam”, obra que aborda inúmeros fatos que envolveram governos do PT, com limite temporal em 2018, e que foi publicada ainda nos primeiros meses de 2019, com o selo da editora Objetiva.

Pois bem, importante colocar que nesse pleito, mais do que em qualquer outro, preponderam — sobre o combate à corrupção — outros temas ainda mais relevantes, como a manutenção das nossas instituições democráticas, o respeito absoluto às cláusulas pétreas da nossa Constituição Federal, enfim, à própria defesa do Estado de direito.

E, no campo das ameaças, o candidato Jair Bolsonaro vem se superando. Além da cooptação política de militares e PMs da ativa — somado ao ingrediente perigoso das milícias — o presidente não se cansa de afirmar, sem meias palavras, que ambiciona uma ruptura institucional, para a qual arrastaria as Forças Armadas, em uma aventura golpista cujo desfecho não podemos imaginar. A prova cabal do risco que corremos com o atual presidente foi o seu último delírio, ao mencionar que cogita uma mudança na composição do Supremo Tribunal Federal, que foi exatamente um dos expedientes operados desastrosamente por Hugo Chávez na Venezuela. Essa foi, sem sombras de dúvidas, a mais grave ameaça perpetrada contra a democracia brasileira desde a promulgação da Carta de 1988.

Como enfatizamos, o clash final dos dois candidatos envolve elementos que transcendem em muito a questão da corrupção, como a própria defesa da democracia, cuja manutenção acaba (também) permeando a capacidade do Estado de enfrentar tais delitos. Até porque as autocracias e os Estados totalitários definitivamente não enfrentam crimes cometidos por atores poderosos e nucleares.

E Bolsonaro, que se elegeu na onda moralizatória do combate à essa macrocriminalidade, acabou atuando como o próprio coveiro da Operação Lava Jato, criando um ambiente que a enfraqueceu e a sufocou. O presidente interferiu inúmeras vezes na Polícia Federal, trocando cinco diretores-gerais e afastando dezenas de investigadores. Escolheu um péssimo procurador-geral da República, fora da lista tríplice do MPF, e ainda fez duas escolhas sofríveis para o Supremo Tribunal Federal.

E não parou por aí, pois vemos o orçamento secreto — aprovado sob os auspícios de Bolsonaro — como a quintessência da institucionalização da corrupção. Trata-se de um grande retrocesso, isto é, uma sofisticação em relação aos esquemas do mensalão e petrolão, pois garantem a compra de apoio parlamentar, mas com a possibilidade de blindagem total do presidente. A corrupção pode — e até deve — ser detectada na ponta, mas esse modelo conseguiu dar abrigo justamente a quem vai lucrar com a venda do apoio parlamentar, que é o chefe do Executivo.

O orçamento secreto foi um avanço das estruturas e plataformas que se locupletam com dinheiro público e pode ser considerado praticamente a “legalização dos desvios de recursos”. Não tardará a constar, nos livros que estudam corrupção e o crime institucionalizado, como um case exemplar.

Por outro turno, os governos do PT, em que pese terem sido “gestores” dos esquemas do mensalão e petrolão, nunca sequer ensaiaram trocar o diretor-geral da PF, que teve tranquilidade e autonomia para desenvolver a Lava Jato, que alvejou de forma estrutural a elite política do país, atingindo partidos de todas as matizes ideológicas, principalmente os que davam sustentação ao governo.

E como se ainda não bastassem todos esses pontos, o presidente foi desastroso no enfrentamento à pandemia do Covid-19, atrasando a compra de vacinas e não demonstrando nenhuma sensibilidade ou empatia pela dor e sofrimento das quase 700 mil vidas ceifadas pelo vírus. E também foi extremamente lesivo ao desmontar deliberadamente as estruturas de combate e fiscalização dos delitos ambientais na Amazônia, pondo em risco sua cobertura florestal e sua fauna, e acentuando a condição do Brasil de pária internacional, ao aprofundar a degradação ambiental naquela região, que recebe atenção especial de todo o planeta.

Desta feita, derrotar Bolsonaro nas urnas não é mais uma questão de natureza política ou ideológica, mas uma decisão sobretudo humanística.

Enfim, muitos dos votos que estão indo para Lula são, em realidade, votos para a democracia. Por isso, personalidades publicamente críticas ao PT, como é inclusive o meu caso, estamos declarando apoio nesse sentido.”

Foto: reprodução

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