Alex Manente, 44 anos, é deputado federal pelo estado de São Paulo e está no exercício de seu terceiro mandato consecutivo no Congresso Nacional. Com base eleitoral na região do ABC Paulista, o líder do Cidadania na Câmara costuma fazer discursos fervorosos contra a corrupção e o uso indevido de dinheiro público.
Bem longe dos holofotes, porém, ele está às voltas com um problema, digamos, difícil de explicar.
No final de 2022, o deputado viajou a São Francisco e a outras cidades do Vale do Silício, nos Estados Unidos, como integrante de uma missão oficial do Congresso brasileiro que visitou gigantes de tecnologia como Meta (proprietária do WhatsApp, Instagram e Facebook), Google e Uber.
Pela viagem de cinco dias, de 12 a 17 de novembro, ele recebeu da Câmara R$ 9.760 para custeio das passagens aéreas e R$ 10.573 em diárias — mais de R$ 20 mil, portanto.
Acontece que a conta não ficou só nisso para o bolso do contribuinte brasileiro.
Deputado pendurou conta também no partido
Tesoureiro nacional do Cidadania, além de receber a verba das passagens e as diárias da Câmara, o deputado espetou as despesas da viagem também nas contas do partido, abastecidas igualmente com verba pública — dinheiro, como se sabe, do sempre generoso fundo partidário.
Discretamente, talvez contando que as notas fiscais passariam despercebidas, ele pediu que a agência de turismo contratada pela sigla para emitir as passagens, em classe executiva.
Com um detalhe: a agência providenciou bilhetes não apenas para o próprio parlamentar, mas também para a mulher dele, Mariana Carvalho Manente.
A conta, quitada pelo partido alguns dias depois com autorização do próprio Alex Manente, foi de R$ 33.012 (veja documentos logo abaixo).
Bilhetes pagos pelo Cidadania foram incluídos na prestação de contas à Câmara
É um curioso caso de cobrança dupla. Teoricamente, como já estava recebendo diárias e passagens da Câmara, não haveria motivo para o deputado pendurar despesas relacionadas à viagem no partido.
Há outros detalhes interessantes na trama. Por exemplo: os bilhetes que Manente usou para prestar contas dos valores que recebeu da Câmara são exatamente aqueles emitidos pela agência que serve ao Cidadania e que foram pagos pelo partido.
Procurado na última segunda-feira, Manente disse que estava em viagem e que preferia falar na próxima semana.
Nesta terça-feira, diante de uma nova tentativa de contato, o deputado não respondeu mais, mas pouco depois um assessor dele entrou em contato para dizer que a parte paga pelo Cidadania seria referente apenas ao upgrade das passagens, da classe econômica para a classe executiva.
Sobre a emissão de bilhetes para a mulher do deputado à custa do Cidadania, o mesmo assessor disse que ela teria direito porque é também dirigente partidária. A coluna perguntou qual cargo ela exerce, mas não houve resposta.
Em nota, deputado diz não haver problema
Ainda nesta terça, a assessoria de Alex Manente enviou uma nota na qual afirma não haver irregularidade na história.
“Não houve pagamento duplicado nem qualquer ilegalidade no processo de prestação de contas referente às diárias e passagens recebidas da Câmara dos Deputados”, diz o texto, segundo o qual “foram seguidas rigorosamente as diretrizes estabelecidas pela legislação, zelando pela transparência e integridade em todas as nossas atividades”.
“Não houve qualquer desvio de recursos, pagamento duplicado ou práticas irregulares. Os compromissos com a transparência e a ética pública são inegociáveis”, emenda a nota.
Será?
Colegas de partido de Manente, que estão fazendo um pente-fino nas contas administradas por ele, já se movimentam para pedir uma investigação sobre o caso.
Não é a primeira vez que o deputado federal está no centro de uma polêmica envolvendo viagens à custa de dinheiro público. Em novembro de 2018, ele viajou à França para uma missão oficial e também aproveitou para levar a mulher. O roteiro incluiu Paris e cidades da Côte D’Azur, como Cannes e Nice. Na ocasião, ele disse que Mariana Manente pagou as próprias passagens. A hospedagem dela, porém, foi custeada com verba da Câmara.
As viagens oficiais, o fundo partidário e o seu dinheiro
Em 2022, ano do tour do deputado pelo Vale do Silício, 24 partidos receberam R$ 1 bilhão do fundo partidário.
No mesmo ano, a Câmara gastou R$ 1,6 milhão com as viagens oficiais das excelências.
Com informações do Metrópoles.
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados.