Por G1
Para que as histórias e as lembranças das pessoas que morreram no rompimento da barragem, em Brumadinho, na Grande BH, não sejam soterradas pelo tempo, um memorial vai ser construído nas proximidades de Córrego do Feijão. Mas as famílias lutam para que as obras comecem para afagar o coração de quem ficou e ainda como forma de conscientização para que as vidas nunca mais sejam destruídas por uma avalanche de lama.
A área escolhida fica de frente para a serra onde ficava a barragem que desmoronou. O Memorial Brumadinho foi projetado para ter 1,2 mil metros quadrados de área construída em um terreno cedido pela Vale, e com obras custeadas pela mineradora.
A simulação feita em computador mostra uma área de bosque com 272 árvores de ipês amarelos, para representar cada uma das vítimas da lama da vale, além de espaços de meditação, mirante, lago.
Um corte de 230 metros no terreno será a linha do tempo para lembrar a tragédia, as vítimas e as histórias interrompidas de forma tão violenta. Também haverá homenagens aos voluntários e bombeiros.
A luz do sol vai entrar por aberturas no teto e a ideia é que todo 25 de janeiro, às 12h28 – horário do rompimento da barragem – um facho de luz atinja um conjunto de cristais, simbolo das joias arrancadas de cada família.
O corpo da irmã de da vice-presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho (Avabrum), Josiane Resende, não foi encontrado até o momento.
“A minha irmã era uma pessoa maravilhosa, iluminada, responsável, muito família, uma pessoa que por onde passava ela deixava uma palavra amiga, uma bondade ali, seja num gesto simples”, define.
Só que do projeto para obra de verdade vai uma distância muito grande. Dois anos depois da tragédia, o terreno tem apenas plaquinhas que indicam onde vai ficar cada espaço do memorial. No mais, é muito mato e pouca ação.
A associação das famílias das vítimas põe o atraso na conta do descaso e da falta de vontade da mineradora e cobra explicações sobre o paradeiro da pedra fundamental do memorial, que teria desaparecido.
“A pedra fundamental que a gente lançou no ano passado, dia 25 de janeiro, quando fez um ano. Cadê a pedra? A Vale guardou a pedra, ficou lá na responsabilidade da Vale. Cadê a pedra? A gente não sabe. A pedra foi roubada. É desta forma que a Vale esta cuidando do memorial. Da mesma forma que ela cuidou da pedra, como o maior pouco caso”, diz a integrante da Avabrum Kênia Paiva Lamounier.
A professora Andreza Rodrigues, que só conseguiu enterrar o filho mais de 100 dias depois que a lama cobriu tudo – fala que a memória de tantos inocentes está sendo manchada por mais um ato de covardia.
“A gente vive uma situação onde que o crime demorou menos de um minuto para assassinar 272 joias e hoje nos vamos completar dois anos que você tem mato, como era há dois anos atrás, há três anos atrás. Então nada mudou e isso reflete aquilo que a tratativa que a Vale tem conosco, tem com os familiares. O descaso é assim, é muita burocracia, todos os dias, toda reunião que ocorre são mais e mais documentos, novos e novos acontecimentos que postergam de fato a realização do espaço que vai honrar as nossas joias”.
A funcionária pública Alexandra Gonçalves Costa perdeu um irmão e um primo.
“Dois anos de impunidade, já faz um ano que o Ministério Público Estadual já tem o nome dos réus e, até hoje, nenhum preso. A justiça que os familiares mais querem é que os culpados sejam punidos. E eu tenho certeza que as vítimas também porque eles foram mortos inocentemente”.
A TV Globo entrou em contato com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para saber sobre o andamento do processo de responsabilização criminal pelo rompimento da barragem, mas não teve.
A Globo também pediu informações à Vale sobre os questionamentos da Avabrum das vítimas quanto à demora para a construção do memorial e quanto à pedra fundamental, que as integrantes da associação afirmam ter desaparecido, mas a mineradora informou que não irá comentar o assunto.
Foto: Avabrum/Divulgação