Por Fama Ao Minuto
A modelo Gisele Bündchen enviou nesta quarta-feira (16) uma longa carta à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmando que maus brasileiros são aqueles que desmatam.
A mensagem é a reação de Gisele a uma crítica que a ministra lhe dirigiu na segunda-feira (14).
Para Tereza Cristina, Gisele não deveria falar publicamente sobre os casos de desmatamento que acontecem no Brasil porque isso “reverbera” no mundo. Quem faz isso, diz a titular da Agricultura, são “maus brasileiros”.
Mas Gisele, em sua missiva, descreveu suas iniciativas de apoio a projetos ambientais. A modelo contestou informações da ministra sobre a quantidade de áreas protegidas no Brasil citando dados oficiais sobre desmatamento.
“Lamento ver notícias, como a do final de 2018, com dados do Governo Federal divulgados amplamente na imprensa, que o desmatamento na Amazônia havia crescido mais de 13%, o que representava a pior marca em dez anos. Um patrimônio inestimável ameaçado pelo desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas. Estes sim são os ‘maus brasileiros'”, escreveu a modelo.
Em resposta, Tereza Cristina parece ter colocado um fim à escalada retórica. A ministra agradeceu, disse que ficou feliz com a gentileza e que vai convidar Gisele para tratar de uma agenda positiva que una agricultura e preservação, “projetos que Gisele, com sua inteligência e sensibilidade, possa se envolver na divulgação, se avaliar que deve”.
Mais cedo, a modelo também se manifestou nas redes sociais dizendo que ficou surpresa com os ataques da ministra.
“Causou-me surpresa ver meu nome mencionado de forma negativa por defender e me manifestar em favor do meio ambiente, pois desde 2006 venho apoiando projetos e me envolvendo com causas socioambientais, o que sempre fiz com muita responsabilidade”, postou Gisele.
Na segunda-feira, Tereza Cristina havia declarado que a modelo deveria dizer que “o país preserva, que o seu país está na vanguarda do mundo da preservação, e não vir aqui no Brasil meter o pau sem conhecimento de causa”.
LEIA A ÍNTEGRA
Excelentíssima Senhora Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina
Escrevo respeitosamente à senhora para me manifestar em relação a alguns comentários que foram feitos e que dizem respeito à minha pessoa em sua entrevista no dia 14 de janeiro ao veículo Jovem Pan.
Causaram-me surpresa as referências negativas ao meu nome, pois tenho orgulho de ser brasileira e sempre representei meu país da melhor forma que pude.
Primeiramente, gostaria de dividir com a senhora um pouquinho da minha trajetória. Sou uma apaixonada pela natureza e tenho uma conexão muito forte com a terra. Nasci no interior do Brasil, onde a agricultura sempre foi fundamental para a economia e desenvolvimento de todos os municípios do entorno. Meus avós também praticavam agricultura familiar.
Valorizo e prezo muito o papel tão importante que a agricultura e os agricultores têm para o nosso país e nosso povo, mas ao mesmo tempo acredito que a produção agropecuária e a conservação ambiental precisam andar juntas, para que nosso desenvolvimento possa ser sustentável e longevo.
Desde 2006 venho apoiando projetos e me envolvendo com causas socioambientais no Brasil (através da doação de parte da renda da venda de produtos licenciados com meu nome a diversos projetos relacionados à água e florestas até o apoio e realização de projeto de reflorestamento de mata ciliar na minha cidade natal). Já visitei a Amazônia algumas vezes e conheci de perto a realidade da região norte de nosso país. Em decorrência do meu trabalho relacionado ao meio ambiente fui convidada para ser Embaixadora da Boa Vontade da ONU para o Meio Ambiente e também pelo presidente da França para participar do lançamento do Pacto Global para o Meio Ambiente na Assembleia Geral da ONU nos Estados Unidos, além de ter participado de inúmeros encontros com presidentes de empresas, universidades, cientistas, pesquisadores, agricultores e organizações do meio ambiente, onde pude trocar informações e aprender cada vez mais sobre como cuidar do nosso planeta.
Tendo ciência, através de diferentes fontes de informação, do alto grau de comprometimento e irreversibilidade que algumas ações governamentais poderiam trazer ao meio ambiente, como cidadã brasileira preocupada com os rumos da minha nação resolvi, em algumas oportunidades que entendi críticas e merecedoras de atenção, me manifestar.
A Senhora mencionou a grande quantidade de áreas protegidas no Brasil. Lamento, no entanto, ver notícias, como a do final do ano de 2018, com dados do Governo Federal divulgados amplamente na imprensa, que o desmatamento na Amazônia havia crescido mais de 13%, o que representava a pior marca em 10 anos. Um patrimônio inestimável ameaçado pelo desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas. Estes sim são os “maus brasileiros”.
Precisamos usar a tecnologia e todo conhecimento científico a favor da agricultura e da produtividade para que evitemos que novos desmatamentos possam ultrapassar o ponto de não retorno em que a degradação em curso do clima ameno se tornará irreversível.
Vejo a preservação da natureza não somente como um dever ambiental legal, mas também como uma forma de assegurar água, biodiversidade e condições climáticas essenciais para a produção agrícola.Cara Ministra Teresa Cristina, seu papel como ministra da Agricultura – em um país onde clima, agricultura e floresta têm papel chave para nossa economia – é fundamental. Sei do desafio que tem pela frente e torço para que em seu mandato possam ser celebradas ações concretas que resultem em um Brasil mais sustentável, justo e próspero.
Ficarei muito feliz em poder divulgar ações positivas que forem tomadas neste sentido.
Com respeito,Gisele Bündchen”.
Foto: Eduardo Munoz/Reuters