A revista Veja revelou nesta sexta-feira (2), alguns trechos de um livro que será lançado oficialmente no dia 17 de abril, pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) com bastidores da retirada da ex-presidente Dilma Roussef (PT) do poder . Diz Cunha que Michel Temer “lutou de todas as maneiras” pelo impeachment de Dilma quando era vice-presidente da República. O livro tem co-autoria da filha mais velha, Danielle Cunha, que pretende se candidatar à deputada federal em 2022.
Intitulada de “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment”, a publicação conta a versão de Eduardo Cunha sobre o processo de impeachment que culminou com a saída de Dilma da presidência em 2016. Nos trechos revelados pela Veja, o ex-presidente da Câmara chega a sugerir uma suposta espionagem sobre a ex-presidente.
O ex-deputado vai além e revela que “jamais o processo de impeachment teria sido aprovado sem que Temer negociasse cada espaço a ser dado a cada partido ou deputado que iria votar a favor da abertura dos trâmites.”
“Temer não só desejava o impeachment como lutou por ele de todas as maneiras”, diz Cunha, para quem a postura de Temer beira o cinismo: “ele acha que os outros são idiotas para acreditar na história da carochinha de que não desejava o impeachment nem teria feito nada por isso”, Em um trecho que não teve a sua íntegra publicada na reportagem, Cunha diz que pedia, e Temer avalizava praticamente tudo na busca por votos pelo impeachment.
Um dos exemplos citados pelo ex-presidente da Câmara, segundo a Veja, foi a nomeação de Marcos Pereira, do Republicanos, para o Ministério da Indústria e Comércio Exterior. Temer não comentou as citações de Cunha no livro.
No livro lançado recentemente Temer creditou o impeachment de Dilma por intermédio de Eduardo Cunha, em razão de o PT ter lhe negado o apoio. “O que aconteceu é que o PT agrediu muito o presidente da Câmara e, em face dessa agressão, ele não teve outra alternativa”, diz Temer no livro. Cunha, de certa maneira, confirma parte da avaliação de Temer ao falar sobre sua relação com Dilma no livro. “Se não houvesse vivenciado a disputa com o candidato dela
à presidência da Câmara e tivesse sido apoiado pelo PT na ocasião, em hipótese alguma teria havido o impeachment.
Sempre fui uma pessoa de cumprir acordos”, disse. O ex-deputado se referia à eleição para a presidência da Câmara em 2015, quando venceu o representante governista, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A iniciativa do Governo em lançar um candidato petista em vez de articular a candidatura de Eduardo Cunha sempre foi apontada como ponto de partida na deterioração da relação entre Dilma e o Congresso que culminou com o seu processo de impeachment.
Villas Bôas
Cunha em outro trecho, publicado pela Revista Veja fala sobre a ala militar. Sem apresentar provas, apenas por suposições que fez após uma conversa com o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas disse parecer que Dilma era controlada. Cunha cita uma viagem ao lado de Villas Boas na qual ele diz ter percebido que o general tinha muitas informações sobre Dilma. “Ele demonstrava conhecer a rotina do palácio com uma desenvoltura que não seria possível sem fontes internas”, disse, chegando a uma conclusão própria e sem mais elementos de que “Dilma não sabia, mas era vigiada o tempo todo de dentro do palácio”. “Até visitas que recebia, telefonemas a que atendia, tudo era do conhecimento dos militares”, revelou.
Condenação
Por estar no grupo de risco do novo coronavírus, Cunha cumpre hoje prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica pelo risco de contaminação. O ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi condenado a 15 anos e 11 meses de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro na Lava Jato no Paraná. É a 2ª condenação dele neste âmbito. Ele foi acusado de exigir e receber US$ 5 milhões em propina em contratos de construção de navios-sonda da Petrobras. Ele cumpre prisão domiciliar.
Por Revista Veja
Foto: Agência Brasil