Por Metrópoles
O Brasil tem se tornado uma terra hostil para a imprensa. Levantamento da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) mostra que as ameaças, intimidações, ofensas, agressões físicas e outros tipos de ataques a profissionais e empresas de comunicação aumentaram 22% em 2021 na comparação com o ano anterior. O relatório “Violações à liberdade de expressão”, da Abert, contou 145 episódios desse tipo no ano passado, ou três por semana. Ao todo, foram registradas 230 vítimas, entre jornalistas e empresas de comunicação. Dado relevante: mais da metade dos casos partiu do presidente Jair Bolsonaro, de seus apoiadores, aliados ou seguranças da equipe de governo.
É conhecida a má vontade de Bolsonaro com a imprensa profissional. O relatório da Abert mostra que o comportamento do presidente vai além da intolerância. Não é preciso recorrer ao acervo bizarro dos tempos de deputado federal. Em mais de três anos na Presidência, Bolsonaro coleciona insultos, ofensas e intimidações a jornalistas que estão no exercício da profissão com a missão de informar a sociedade.
Essa postura belicosa estimula apoiadores e seguranças a fazer o mesmo, ou até a ser mais radicais. Em outubro do ano passado, durante passeio em Roma, onde participava da cúpula do G20, Bolsonaro hostilizou jornalistas. Seguranças que o acompanhavam chegaram a agredir repórteres — um correspondente da TV Globo recebeu um soco no estômago e foi empurrado depois de perguntar por que o presidente não participara de eventos com os outros líderes. Em dezembro, durante visita de Bolsonaro a Itamaraju, município no sul da Bahia atingido pelas fortes chuvas, uma jornalista da TV Bahia (afiliada da TV Globo) levou um mata-leão de um segurança do presidente quando fazia seu trabalho.
O estudo da Abert é mais um a corroborar a perigosa escalada contra a liberdade de imprensa no Brasil. Um relatório da organização Repórteres sem Fronteiras, divulgado em abril do ano passado, revelou que o Brasil entrou pela primeira vez para a “zona vermelha” do ranking mundial de liberdade de expressão — penúltimo estágio numa escala que vai da branca (muito boa) à preta (muito grave), passando por amarela (boa), laranja (problemática) e vermelha (difícil). Entre 2020 e 2021, o país registrou a quarta queda consecutiva, indo de 107º para 111º no ranking, liderado pela Noruega.
A imprensa livre é um pilar do Estado Democrático. Atacar jornalistas e empresas de comunicação, da forma que seja, é inaceitável. Equivale a sufocar a democracia. Profissionais de imprensa são a garantia do direito dos cidadãos à informação. O risco é caminharmos para um Estado autocrático, onde a imprensa não tem voz. Se alguém quiser saber o que isso significa, basta olhar para a Rússia, onde jornalistas que desagradam ao governo costumam ser assassinados. Hoje são proibidos de chamar a guerra na Ucrânia de “guerra” ou a invasão de “invasão”. A emissora independente Dojd, sob censura do Kremlin, trocou imagens dos bombardeios pelo balé “Lago dos cisnes”.
Foto: PhoTon/Getty Images