Home Política Esse negócio de que “pintou um clima” está deixando Bolsonaro aflito

Esse negócio de que “pintou um clima” está deixando Bolsonaro aflito Declarações contam mesma história de vídeo que viralizou no fim de semana, no qual presidente diz que 'pintou um clima' com adolescentes. Nesta terça, Bolsonaro voltou ao tema, negou que houvesse prostituição na casa e pediu desculpas.

19 de outubro de 2022, 12h22 | Por Redação ★ Blog do Lindenberg

by Redação ★ Blog do Lindenberg

Por G1

A declaração dada pelo presidente Jair Bolsonaro na última sexta-feira (14) – na qual diz que “pintou um clima” com meninas venezuelanas menores de idade – não foi a primeira referência pública que o candidato do PL à reeleição fez ao episódio ocorrido em uma região administrativa do Distrito Federal. Na ocasião, ele disse ainda que as jovens se arrumavam para se prostituírem.

Na esteira dessa declaração, que viralizou no fim de semana, foram resgatados nas redes sociais dois vídeos em que o presidente já havia relatado a história. Em um deles, Bolsonaro diz que as meninas iriam se prostituir. No outro, insinua que esse seria o objetivo.

Nesta terça, ele gravou uma declaração pedindo desculpas e dizendo que sua fala foi tirada de contexto (veja ao final desta reportagem).

Vídeo de 12 de setembro

No primeiro turno da eleição presidencial, no dia 12 de setembro, durante conversa com um grupo de podcasters chamado Collab, Bolsonaro já havia comentado sobre o encontro e afirmou que as adolescentes estavam “bem arrumadas” para “fazer programa”. O vídeo com essa declaração viralizou nesta terça (18).

“Tem uma passagem minha. Foi em 2020. Vale a pena contar aqui […] Eu estava na, eu acho que é Paraíso o nome do… São Sebastião, em Brasília. A moto lá, tinha mais um pessoal comigo da segurança. Aí eu parei na esquina, tirei o capacete, daí eu olhei para trás e tinha umas duas, três meninas bonitinhas, de uns 14, 15 anos de idade. Me chamou atenção. Meninas bonitinhas, sábado, né. Por que chamou atenção? Eram parecidas. Aí eu vi que apareceu mais uma, mais outra”, contou o presidente.

“Eu desci da moto. ‘Posso entrar?’. Entrei. Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15, 16 anos. Todas muito bem arrumadas. Tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Não vou falar… Para fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte de sobrevivência delas? Essa”, acrescentou Bolsonaro.

Vídeo de maio

Em 16 de maio deste ano, em evento da associação paulista de supermercados, Bolsonaro contou a mesma história durante um discurso.

“Eu estive no meio do povo desde quando apareceu o Covid. Sem máscara. A imprensa: ‘Oh, sem máscara’. É fácil ficar dentro do Alvorada com toda a mordomia, um milhão de latas de leite condensado lá dentro e vendo o povo se explodir lá fora. Se eu não fizesse isso, não saberia como o povo tá vivendo. Fui para dentro da periferia de Brasília de motocicleta. Entrei numa república de venezuelanas sábado à tarde, dá pra imaginar, pessoal. Sábado à tarde, eu vejo, paro a moto, olho para trás e tem umas meninas de 13, 14 anos, arrumadinhas. Me surpreendeu. Eu voltei. Falei para o ajudante de ordem: ‘Abre uma live’. Tinha umas vinte venezuelanas se arrumando lá dentro. Meninas bonitas de 14, 15 anos, se arrumando para quê? Se arrumando sábado à tarde para quê? É isso que nós queremos para nossas filhas e netas”, relatou o presidente na ocasião.

A visita de Damares

Em duas ocasiões desde o último domingo, Bolsonaro disse que a então ministra Damares Alves visitou as meninas venezuelanas ainda em 2021 para buscar maiores detalhes sobre o caso, e descobriu que não havia prostituição infantil no local.

Bolsonaro não explicou, no entanto, por que voltou a afirmar em entrevistas recentes que as venezuelanas “faziam programa” – mais de um ano após o suposto esclarecimento feito por Damares.

“Logo depois, a ministra Damares esteve lá, conversou com as meninas. Não era, não tinha nada de prostituição. Você poderia ter ilações sobre muita coisa, agora entre afirmação e ilação há uma diferença muito grande”, disse Bolsonaro no último domingo (16), em entrevista antes do debate da Band.

“As palavras que eu disse refletiram uma preocupação da minha parte no sentido de evitar qualquer tipo de exploração de mulheres que estavam vulneráveis. A dúvida e a preocupação levantadas foram quase que imediatamente esclarecidas à época pela nossa ministra da Mulher, Damares Alves, que foi ao local e constatou que as mulheres citadas na live eram trabalhadoras”, afirmou o presidente no vídeo de desculpas divulgado nesta terça.

Sequência de declarações

Veja as sequências de declarações de Bolsonaro nos últimos dias sobre a visita à casa com meninas venezuelanas no DF:

‘Pintou um clima’

Na última sexta-feira (14), também em entrevista a um podcast, o candidato do PL narrou a história de forma semelhante à contada em setembro.

“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto […] Parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas. Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, afirmou.

‘Não iriam para festinha’

Criticado por adversários pelas declarações, Bolsonaro chegou a fazer uma live durante a madrugada de domingo (16) para tentar explicar o ocorrido. Na transmissão, ele se defendeu e acusou a oposição de deturpar sua fala.

O presidente disse que o encontro com as meninas, ocorrido na fase aguda da pandemia de Covid, foi mostrado em suas redes sociais e por uma emissora de TV. Segundo ele, o objetivo era mostrar indignação com a situação das adolescentes que haviam fugido da Venezuela.

“Fiz uma live de dentro da casa das meninas que estavam se arrumando num sábado de manhã, em plena Covid. Não iriam para festinha. Iriam para onde? Deixei claro que a conclusão cabia a cada um que estivesse me vendo naquela live”, justificou.

“O PT recorta pedaços [da entrevista ao podcast] como se eu estivesse atrás de programas. Fiz uma live, foi demonstrado o que estava acontecendo. [O PT] Pega pedaço e fala ‘pintou um clima’? Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia”, afirmou o presidente. “Se fosse algo escondido, tudo bem, mas não foi nada escondido. Abri uma live por indignação sobre o que estava acontecendo”, acrescentou o presidente.

Antes do primeiro debate presidencial do segundo turno no último domingo (16) Bolsonaro disse que usa a expressão “pintou um clima” com frequência e que passou pelas “piores 24 horas” da sua vida após ter sido alvo de acusações de pedofilia.

‘Você poderia até prever isso’

Mais tarde, também no domingo, em entrevista no debate, Bolsonaro disse que as jovens venezuelanas estavam em uma situação em que até se poderia prever que elas iriam se prostituir, mas que nada ficou provado.

“Não ficou claro da minha parte isso lá. Elas estavam em um situação que você poderia até prever isso. Mas nada taxativamente foi falado tocante a isso aí. Olha, logo depois, a ministra Damares esteve lá, conversou com as meninas. Não tinha nada de prostituição. Você poderia ter ilações sobre muita coisa, mas entre afirmação e ilação, há uma diferença muito grande”, amenizou o presidente.

Vídeo desta terça

No vídeo gravado ao lado de Michelle, Bolsonaro argumenta que a intenção dele era evitar “qualquer tipo de exploração” de vulneráveis.

“As palavras que eu disse refletiram uma preocupação da minha parte no sentido de evitar qualquer tipo de exploração de mulheres que estavam vulneráveis. A dúvida e a preocupação levantadas foram quase que imediatamente esclarecidas à época pela nossa ministra da Mulher, Damares Alves, que foi ao local e constatou que as mulheres citadas na live eram trabalhadoras”, afirmou o presidente.

Em seguida, ele alegou que as palavras dele foram “por má-fé tiradas do contexto”. Bolsonaro pediu desculpas, caso as declarações tenham ofendido alguém ou provocado “algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas”.

“Se as minhas palavras que, por má-fé foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal-entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas, já que meu compromisso sempre foi o de melhor acolher e atender a todos que fogem de ditaduras pelo mundo”, continuou Bolsonaro.

Foto: Marcos Corrêa/PR

LEIA TAMBÉM

Envie seu comentário