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Fim da euforia? Como está a economia argentina 9 meses depois da posse de Milei Em meio a plano econômico de cortes de gastos visto por analistas como insuficiente para melhorar contas públicas a longo prazo, população amarga forte crise.

14 de agosto de 2024, 15h45 | Por Letícia Horsth

by Letícia Horsth

O presidente da Argentina, Javier Milei, passa por mais um teste nesta quarta-feira (14), com a divulgação dos novos números da inflação oficial do país.

Desde que ele assumiu o poder, o índice mensal de preços caiu dos 25,5% em dezembro de 2023 para 4,6% em junho deste ano. Ainda que o acumulado seja de expressivos 271,5% na janela de 12 meses, essa desaceleração tem sido um dos trunfos da gestão.

Milei assumiu a Casa Rosada no fim do ano passado com o desafio de aliviar a severa crise econômica que o país enfrenta há décadas. Além da inflação exorbitante, estão no centro do problema a dívida pública, a falta de reservas em dólar e a desvalorização da moeda local.

O corte de gastos e o ajuste das contas públicas estão no foco de Milei. A ideia é que, melhorando a parte fiscal, a economia argentina dê mais confiança aos investidores, destrave investimentos privados e passe a andar nos trilhos.

Para a população, as medidas são doloridas. O chamado “Plano Motosserra” — referência ao corte de gastos — determinou uma desvalorização do câmbio, paralisação de obras públicas e o corte de subsídios em tarifas de serviços essenciais.

Em outra perspectiva: a inflação desacelerou, mas a base de comparação também subiu. Desde o início do ano, os preços de água, gás, luz e transporte público estão bem mais altos.

“Não acho que [a inflação] ande de mãos dadas com os aumentos salariais e impostos”, disse à agência de notícias Reuters o cabeleireiro Gustavo García, no mercado central de Buenos Aires. “A inflação cotidiana é muito maior do que 4% ou 5%.”

O PIB argentino também levou um tombo de 5,1% no primeiro trimestre, o mercado de trabalho piorou e a pobreza subiu. (saiba mais adiante)

Em sua posse, Milei avisou que a economia ia piorar antes de ver resultados. Por isso, apesar do custo social, as medidas iniciais elevaram os ânimos do mercado financeiro.

Afinal, como planejado e apesar da impopularidade das medidas, as reservas em dólar aumentaram e a Argentina registrou, no primeiro trimestre, seu primeiro superávit fiscal desde 2008. O superávit acontece quando a arrecadação é maior do que os gastos.

Ainda assim, o câmbio continua instável, o crescimento das reservas não é rápido o suficiente e a dívida pública continua sendo um fantasma para a equipe econômica. Passados sete meses, o fator longo prazo começa a preocupar quem apoiou as medidas de choque de Milei.

O desconforto ficou claro em uma declaração recente do bilionário argentino Paolo Rocca, CEO da Tenaris, fornecedora mundial de tubos para perfuradoras de petróleo. Antes otimista quanto ao ritmo de mudança econômica do país, ele passou a ponderar as expectativas.

“Provavelmente estávamos todos otimistas demais ao pensar que isso [estabilização econômica] poderia ser feito em um prazo mais curto”, disse, durante uma teleconferência de resultados trimestrais.

Com os ventos mudando, o g1 procurou economistas para explicar por que as festejadas medidas de Milei agora geram desconfiança do mercado — e se a lua de mel pode estar chegando ao fim.

A dificuldade com as reservas internacionais
Apesar do avanço nos resultados fiscais e do processo de compra de dólares no mercado cambial, a Argentina tem mostrado dificuldade em conseguir robustez em suas reservas internacionais.

As reservas são valores que um país possui em moeda estrangeira. Funcionam como uma espécie de “seguro” para fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques externos, como crises de desvalorização acentuada da moeda local. São parte importante para a conquista de confiança e a atração de investimentos.

Quando Javier Milei assumiu o cargo, em dezembro de 2023, o colchão de dólares da Argentina era de pouco mais de US$ 21 bilhões. Com todas as medidas de arrocho, o valor chegou a US$ 30 bilhões em abril deste ano, uma alta de mais de 40%. Em julho, no entanto, o valor já caiu para cerca de US$ 27,4 bilhões.

Com informações do G1.
Foto: Natacha Pisarenko/AP.

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