Por Metrópoles
O ex-governador do Maranhão e senador eleito Flávio Dino (PSB) está sendo transformado pelas circunstâncias no componente de maior destaque do governo Lula (PT) até agora. Anunciado pelo presidente na primeira leva de ministros, em 9 de dezembro, Dino começou a fazer declarações e dar muitas entrevistas bem antes de assumir, de fato, o cargo, ocupando um vácuo deixado pela falta de ações do governo Bolsonaro e se contrapondo aos bolsonaristas radicais que tentavam questionar violentamente o resultado das eleições.
Por outro lado, mesmo antes da posse, ele cometeu deslizes. São exemplos as indicações de nomes para a Polícia Rodoviária Federal e para o comando da Política Penitenciária nacional. Os dois nomes sofreram desgastes por motivos diferentes e tiveram de ser modificados às pressas.
Quando uma bomba foi descoberta na véspera de Natal em um caminhão de querosene perto do aeroporto de Brasília, por exemplo, Dino se manifestou horas antes do então ministro da Justiça, Anderson Torres, acompanhou de perto o trabalho da polícia e falou bastante nas redes sociais e em entrevistas. Ele deu toda a impressão de que era a autoridade principal lidando diretamente com o caso.
Após o início da atual gestão, no último domingo (1º/1), o ministro da Justiça e da Segurança Pública continuou tendo muita exposição por sua pasta ser a primeira a anunciar ações para além do “revogaço” de medidas do governo anterior.
O novo ministro também entrou no bonde do “revogaço” ao suspender a validade de normas da gestão de Bolsonaro que ampliavam o acesso a armas, mas foi além e editou novos decretos, prevendo o recenseamento dos armamentos já nas mãos de cidadãos e determinando que a Polícia Federal abra inquéritos para investigar todos os atos antidemocráticos, como bloqueio de estradas, que ocorreram desde a eleição, em outubro.
E mesmo sem assinar nada, Dino conseguiu manchetes ao anunciar, em sua posse oficial, na última segunda (2/1), que sua gestão estudará a federalização da investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em 2018 e jamais solucionado pelas autoridades do Rio de Janeiro. “Uma questão de honra para o Estado”, disse, na ocasião.
Tropeços em indicações
Como dito anteriormente, o caminho de Flávio Dino até aqui, porém, não teve apenas flores. Ainda antes de assumir, quando estava montando sua equipe, o titular da Justiça recebeu muitas críticas e foi obrigado a recuar em duas indicações de auxiliares importantes.
Primeiro, teve que desistir de nomear Edmar Camata para diretor geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) após a revelação de que o escolhido era fã da operação Lava Jato e, inclusive, defendeu publicamente, nas redes sociais, a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018.
Dino teve ainda que recuar da indicação de Nivaldo Restivo para o cargo de secretário de Administração Penitenciária depois que entidades de defesa dos direitos humanos protestaram muito devido à ligação do militar na ação policial conhecida como Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos no antigo presídio paulistano.
Agora ministro, Dino também já foi alvo de um grupo de PRFs autointitulados “progressistas”, que escreveram carta aberta denunciando a extinção de 101 cargos na PRF, argumentando que, com a medida, algumas atividades do órgão se tornarão inviáveis. O episódio foi noticiado na coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles.
Destaque
Para o cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a atenção que até mesmo esses tropeços recebeu na mídia e nas redes sociais mostra a importância que Dino vem ganhando neste início de governo. “Ele tem conseguido pautar alguns dos principais assuntos deste início de governo, como a questão do desarmamento”, afirma o especialista.
Tavares Maluf também avalia que esse protagonismo no governo Lula de um ministro que não é do PT pode gerar certo ciúme num futuro não tão distante. “Ele parece estar indo bem e pode haver comparações que gerem ruído se ministros que são do núcleo duro do PT enfrentarem crises. E um dos ‘candidatos’ a encarar uma crise é o ministro Fernando Haddad, na Fazenda, que já está sob críticas por ter perdido a queda de braço com o presidente em torno da desoneração dos combustíveis”, afirma o cientista político.
Disputa interna pelo futuro
Como o Metrópoles noticiou na última semana, o presidente Lula afirmou mais de uma vez, na campanha, que não deve tentar a reeleição em 2026, quando terá 81 anos. Esse compromisso abriu, desde já, uma disputa silenciosa dentro do governo petista sobre quem poderá representar o campo político de Lula na próxima eleição, já que a Esplanada dos Ministérios tem ao menos seis “presidenciáveis”: Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio); Simone Tebet (Planejamento); Fernando Haddad (Fazenda); Marina Silva (Meio Ambiente); Wellington Dias (Desenvolvimento Social); e o próprio Flávio Dino.
Pelo menos neste primeiro momento, o titular da Justiça e Segurança Pública parece estar largando na frente.
Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles