Home CPI Governo desistiu de intervenção no AM por crise do oxigênio após ouvir governador, diz Pazuello

Governo desistiu de intervenção no AM por crise do oxigênio após ouvir governador, diz Pazuello Ex-ministro da Saúde afirmou durante depoimento na CPI da Covid que intervenção foi discutida em reunião de ministros com a presença do presidente Jair Bolsonaro.

20 de maio de 2021, 18h12 | Por Carlos Lindenberg

by Carlos Lindenberg

Por G1

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse nesta quinta-feira (20), no segundo dia do seu depoimento à CPI da Covid, que o governo Jair Bolsonaro chegou a discutir uma intervenção no Amazonas durante a crise no sistema de saúde do estado devido à pandemia, marcada pela morte de doentes por falta de oxigênio, mas desistiu após ouvir o governador Wilson Miranda Lima.

Documentos indicam que 31 pessoas morreram por falta de oxigênio em Manaus nos dias 14 e 15 de janeiro, quando a capital amazonense atingiu o ápice da escassez do insumo.

A insuficiência de oxigênio nos hospitais de Manaus, em meio à disparada nos casos de Covid, levou a cidade a um cenário de caos. Pacientes que dependiam do insumo tiveram que ser transportados de avião para outros estados. Parentes de pessoas internadas tiveram que comprar cilindros com o gás por conta própria.

Pazuello foi questionado nesta quinta pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre a razão de o governo federal não ter feito a intervenção no Amazonas durante a crise.

“Essa decisão [de intervir] não era minha. Foi levada ao conselho de ministros. O governador se apresentou, se justificou. Desculpa, quero retirar o termo, não é conselho de ministros, é reunião de ministros, com o presidente. O governador se explicou e foi decidido pela não intervenção”, afirmou Pazuello.

Em um momento posterior de seu depoimento nesta quinta, Pazuello voltou a ser questionado sobre a discussão da intervenção no Amazonas. E disse que, pelo que se recorda, a intervenção não foi feita porque chegou-se à conclusão de que o governo do estado tinha condições de continuar à frente da saúde.

“A argumentação, em tese, é que o estado tinha condição de continuar fazendo a resposta”, disse Pazuello. “Em tese, mas a argumentação eu não tenho aqui. O resumo é que tinha condição de continuar fazendo frente à missão”, completou.

Procurado pelo G1, o governo estadual não respondeu especificamente sobre a hipótese de intervenção e informou em nota o seguinte:

“Nunca houve recusa do Estado para qualquer tipo de ajuda relacionada às ações de enfrentamento à Covid-19. Além disso, o Governo do Amazonas sempre pediu a colaboração federal para auxiliar no combate à pandemia. Esse apoio foi ampliado com a instalação do Comitê de Resposta Rápida, formado por representantes do Governo do Estado, Governo Federal e Prefeitura de Manaus, para enfrentar a crise que se agravou no Amazonas no início de janeiro de 2021.”

Responsabilidade
Pazuello disse à CPI da Covid nesta quinta-feira que, na opinião dele, a responsabilidade pela falta de oxigênio hospitalar em Manaus foi da empresa fornecedora, White Martins, e da Secretaria de Saúde do estado.

“Então a empresa White Martins, que é a grande fornecedora, somada à produção da Carbox, que é uma empresa menor, já vinha consumindo sua reserva estratégica e não fez essa posição de uma forma clara desde o início. Começa aí a primeira posição de responsabilidade”, afirmou o ex-ministro.

“O contraponto disso é o acompanhamento da Secretaria de Saúde, que se tivesse acompanhado de perto, teria descoberto que estava sendo consumido uma reserva estratégica. Vejo aí duas responsabilidades muito claras”, completou Pazuello.

O depoimento do ex-ministro, iniciado na quarta (veja vídeo abaixo), foi retomado na manhã desta quinta. A primeira parte do depoimento foi marcada pela crítica de senadores ao que apontaram como contradições de Pazuello. O ex-ministro respondeu a questionamentos do relator, Renan Calheiros (MDB-AL) – que ocuparam a maior parte da sessão –, e de três parlamentares inscritos.

Como foi o primeiro dia de depoimento?

A reunião da CPI durou cerca de seis horas. No depoimento, Pazuello afirmou que:

  • faltou oxigênio por 3 dias em Manaus;
  • Bolsonaro não deu ordens diretas sobre tratamento precoce;
  • a plataforma “TrateCov” foi sugerida por uma secretária e não entrou em operação;
  • Bolsonaro “nunca mandou” desfazer negociações com o Butantan por doses da Coronavac;
  • a fala “um manda e outro obedece” foi um jargão militar para comunicação na internet;
  • não sofreu, no MS, interferências por parte dos filhos do presidente;
  • houve resposta a propostas feitas pela Pfizer;
  • as posições de Bolsonaro nas redes sociais são atos de um “agente político”;
  • soube da falta de oxigênio em Manaus no dia 10 de janeiro;
  • a expressão ‘pixulé’ era uma menção a restos de recursos não aplicados em programas;
  • a demissão ocorreu porque a “missão” estava “cumprida”.

Foto: JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO

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